Feedbacks (2): aulas práticas em laboratório de informática (R X Stata)

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
3 min readDec 4, 2018

Fui responsável, em caráter temporário (quatro semestres), pela disciplina Econometria I. Na primeira turma, os alunos perguntaram se eu incluiria uma parte computacional no curso. Naquele momento, não seria possível. Era uma disciplina difícil para mim e eu ficaria satisfeita se conseguisse vencer minhas próprias limitações e transmitir bem o conteúdo. Preparar aulas e listas de exercícios já tomaria boa parte do tempo e era um período de reposição de greve, com pouco espaço entre um semestre e outro para planejar as aulas com calma.

Com a disciplina mais estruturada, surgiu espaço para as aulas práticas. Primeiro eu precisava escolher o programa. O Stata, muito usado pelos economistas, é um software pago e caro. E, apesar de o curso existir desde 2012 neste campus, nem os professores conseguem licença do software, imagine se teria no laboratório de informática — burocracia maravilhosa! Para os alunos “colocarem a mão na massa”, eles teriam de obter o programa na baía sueca. Por isso, eu preferia um software gratuito.

Há muitos manuais de como usar o R, a comunidade de usuários se ajuda bastante e tem um livro online com comandos para reproduzir os exemplos do livro-texto. Isso facilitaria o meu trabalho e os alunos teriam um bom material de apoio. Foi uma escolha arriscada e não consensual. De fato, existem opções mais palatáveis do que o R, mas continuei por já conhecê-lo um pouco e ser também bastante usado por economistas e outros profissionais. Minha intenção era intercalar parte teórica e aplicação no R, usando os exemplos do livro e exercícios.

O passo seguinte era definir como conduzir essas aulas práticas. Nisso a heterogeneidade dos alunos pesou muito. Enquanto alguns já têm conhecimento de programação, outros não sabem usar o Excel. Explicar o programa e os comandos passo a passo, com todos progredindo ao mesmo tempo, deixa alguns alunos parados enquanto outros não conseguem, por exemplo, importar o arquivo com a base de dados. Apresentar os comandos para cada um seguir no próprio ritmo e me chamar em caso de dúvidas teve outro revés. Alguns alunos me chamaram para explicar os resultados, mas a maioria apenas copiou os comandos e rodou sem entender o que estava sendo feito. Eu percebi isso e tentei incluir exercícios para os alunos praticarem sozinhos e adaptarem os códigos, mas não foi suficiente.

Foram dois semestres usando o R. Uma das minhas aulas de laboratório gerou um feedback espontâneo elogioso. Teria sido uma aula prazerosa com a qual o aluno entendeu melhor a econometria e “se localizou”. Mas, no feedback de final de semestre, a impressão geral dos alunos foi de aula inútil. Foi um pouco doloroso ler esses feedbacks negativos. Eu criei apostilas para essas aulas, eu aumentei o número de aulas no laboratório, para intercalar melhor teoria e prática e contei com a ajuda voluntária de uma ex-aluna para tirar as dúvidas durante a aula (obrigada, Mariana!).

A intenção era boa, mas não é o esforço que conta, não é mesmo? A percepção dos alunos foi ruim e eu não sei como melhorar essa parte. Caso alguém tenha experiência com esse tipo de aula, do lado do aluno ou do professor, poderia compartilhar sugestões nos comentários? Obrigada!

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