[Livro] Advice for New Faculty Members — trabalhar com constância e moderação

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
3 min readJan 10, 2019

A cena é comum em vários filmes e séries. O escritor, após vários períodos de bloqueio criativo, subitamente tem uma ideia interessante. Avança noite adentro, escrevendo freneticamente e, ao finalizar o trabalho, recebe o feedback do primeiro leitor: “Brilhante!”. Mas essa visão romantizada do processo de trabalho não é um modelo interessante a ser seguido pelos acadêmicos. Ela pode induzir procrastinação e gerar frustração. No livro Advice for New Faculty Members (editora Pearson, 2000), o psicólogo Robert Boice defende que uma estratégia mais bem sucedida para os acadêmicos é trabalhar com constância e moderação.

Em vez de esperar passivamente uma ideia brilhante surgir, procrastinando, o autor defende uma “espera ativa”. Esperar ativamente significa criar e manter momentos de pausa e reflexão entre as sessões de trabalho. Em seguida, ele recomenda começar [a escrever, a planejar a aula] cedo, antes de se sentir preparado. Para essas e demais sugestões, as principais habilidades necessárias são paciência e tolerância. Você deve se convencer de que não precisa começar e terminar tudo em uma sentada e também precisa se libertar da ideia de que tem de ser perfeito logo na primeira tentativa. Robert Boice argumenta que sessões de trabalho tão curtas quanto 5–10 minutos já trazem bons resultados. Você pode montar um diagrama, escrever rascunhos e anotações informais nesse tempo, por exemplo, ou comentar nas margens de uma anotação antiga. Inicialmente, essas sessões podem parecer “pequenas demais para serem úteis” mas elas ajudam a desenvolver o hábito e se convencer da importância de começar cedo. Se você incluir sessões breves, mas regulares, no seu cronograma, terá oportunidade de melhorar essas pequenas e imperfeitas anotações, re-escrevê-las ou adicionar comentários. Essas melhorias graduais, em sessões curtas, não parecem trabalho, mas te levam ao produto final. Além de começar antes se sentir pronto, Boice defende que você deve parar em um momento adequado, antes que os retornos se tornem decrescentes. Isso ataca especialmente a euforia que te faz trabalhar além da conta, negligenciando outras atividades e muitas vezes gerando uma fadiga que dificulta retomar o trabalho no dia seguinte.

Essas e outras sugestões são exploradas em capítulos temáticos — cada um traz a exposição de uma regra de conduta e exercícios para implantá-la. Esses capítulos, de certa forma, se repetem em três seções — ensino, escrita e serviços — pois os princípios são basicamente os mesmos, mas os exemplos e focos de aplicação mudam. Com isso, o livro é um pouco repetitivo, mas bastante didático e iluminante. As dicas trazem em comum as ideias de equilíbrio e consciência: cultivar a atenção plena; moderar nossas reações e sentimentos; reconhecer o momento de superar nossa vontade de “não fazer” e também nossa vontade de “continuar fazendo”. Com a leitura, percebi possíveis raízes emocionais para comportamentos improdutivos que tenho e, por isso, “constância e moderação” virou meu lema para 2019. O livro pode ser interessante para quem está começando a trabalhar no universo acadêmico, para novos escritores e também para professores que sentiram que saíram de linha em algum momento.

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