nem todo professor quer greve para ontem

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
3 min readApr 12, 2014
10 de abril

As cadeiras foram aos poucos formando uma roda para mais uma reunião a respeito de greve. Dessa vez, com as insatisfações locais dominando a pauta. Alguns professores, estudantes e técnicos reunidos para declarar suas opiniões e entender um pouco mais sobre o problema. Logo que a reunião começou, questionaram o aparente excesso de paciência dos membros deste campus. Mas uma professora que aqui está desde o princípio nos contou, de maneira bastante eloquente, a experiência trágica de negociações frustradas com a administração superior, ficando nítido que o ensino aqui, e em vários outros campi de outras instituições de ensino superior, não vai bem. Há recursos, todo mundo disse. O problema é que a gestão é péssima! E quase sempre a gestão esbarra em alguma burocracia e trava.

Neste ponto, parece haver consenso. A situação é ruim e precisamos elaborar uma estratégia para resolver o problema, principalmente o problema da gestão. Só que a estratégia não precisa ser uma greve local. E, mesmo assim, talvez a greve local não seja a melhor alternativa para o momento. Entre considerações diversas, uma sugestão sensata: precisamos separar nossas demandas em curto, médio e longo prazo, para que as demandas imediatas não se percam com as promessas de solução das demandas que só poderão ser resolvidas mais tarde, como a finalização da construção do campus.

Dessa proposta, surgiu outra: formar uma comissão para que nossos pares possam conhecer e entender os problemas daqui. Convenhamos, é natural que seja difícil marcar reuniões com o reitor. Mas se os professores dos departamentos do campus sede, em Juiz de Fora, não sabem da situação de Governador Valadares, quem endossará nossas demandas em reuniões decisivas? Ou mesmo incluirá na pauta? É necessário que os pares, os chefes de departamento, os diretores de unidade, os membros de conselhos universitários, os estudantes e membros das entidades estudantis, os técnicos… conheçam as insatisfações dos servidores e estudantes de um campus tão tão distante.

Como a reunião tinha hora para acabar, ficou assim: formaremos a comissão, com representantes de todos. E veremos se a estratégia da conversa, do diálogo e das demandas oficializadas funcionam. De acordo com aquela professora que está aqui desde o início, existem ciclos, em que os professores mais velhos se frustram com diálogos estressantes e promessas não cumpridas e os professores novos estão sempre mais dispostos a começar tudo do zero, dialogando. Quem sabe uma comissão consiga unir os velhos e os novos e equilibrar a experiência de um com a vontade de diálogo do outro. Talvez seja o caso de não termos o problema resolvido por meio do diálogo e ser necessário tomar alguma medida mais drástica. Mas eu acredito que a greve deve ser sempre o último recurso e, muitas vezes, eu questiono o apelo de uma greve docente. Além de estar banalizada, não há um patrão perdendo dinheiro porque a fábrica ficou parada, não tem ninguém impedido de sacar dinheiro ou pagar contas, nem há cidadãos tendo sua segurança comprometida. São estudantes que precisarão repor aulas nas férias e, com boas chances, sequer terão sua entrada no mercado de trabalho muito atrasada. Saber como as greves atrapalham o ensino parece que, para muitos, pouco importa.

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