se você é professor, é fácil faltar ao trabalho

Nayara Peneda Tozei
virei professora… e agora?
3 min readApr 14, 2014
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Hoje fui dar aula bastante indisposta. Acordei ainda de madrugada com o corpo reclamando e não consegui dormir depois disso. Minha aula era às 9h. Pensei em desmarcar, pois não queria correr o risco de ter que sair correndo da sala de aula para o banheiro mais próximo. Por outro lado, seria difícil entrar em contato com os alunos a tempo. E uma falta comprometeria o cronograma das aulas. A situação não era grave. Eu só precisava melhorar um pouco para ter certeza de que daria conta.

Se você trabalha em uma empresa e acorda indisposto, o mais provável é que consiga faltar apenas se apresentar um atestado ou se o chefe for compreensivo. Na universidade pública, é bem diferente. De tudo que eu observei quando aluna e com colegas, a impressão é que o professor pode desmarcar aulas (ou simplesmente não ir) com muita facilidade. Os alunos podem até ficar felizes com isso. Alguns, é verdade, ficam insatisfeitos quando o professor falta e não avisa. Mas em geral a revolta é porque não foram avisados, não por causa da aula não dada.

Ao faltar, o professor provavelmente não sofrerá nenhuma punição: não terá descontos no seu pagamento, não será demitido, não terá que apresentar um atestado médico e talvez sequer apresente uma justificativa ou reponha a aula. Nem os clientes (alunos) nem os empregadores parecem fazer alguma coisa, a não ser quando as aulas canceladas ficam frequentes e mostram um sinal claro de falta de compromisso do professor. E olhe lá!

Por outro lado, é legal e útil poder remarcar uma aula com os alunos para frequentar um congresso ou participar de uma reunião importante, por exemplo. Essa flexibilidade é saudável e faz parte do ambiente acadêmico. Em alguns casos, os professores não querem comprometer o cronograma e colocam alunos para dar aulas em seus lugares. Mas eu também não vejo isso com bons olhos.

Se o aluno dá aula para um professor porque ele está aprendendo a dar aulas em um programa de mestrado, por exemplo, tudo bem. Desde que o professor esteja em sala supervisionando. O professor passou por um processo seletivo e foi contratado para estar ali. Ele recebe um salário para estar ali. Quando um aluno faz o trabalho dele, os outros não recebem a educação que contrataram. O professor terceiriza seu trabalho e provavelmente nem paga por isso.

É inegável que ser professor em uma universidade pública envolve vantagens. A agenda de trabalho é bastante flexível e você planeja e controla boa parte do que faz. Mas às vezes existem abusos. E aí vale a pena repensar o tipo de professor que temos ou somos.

Quanto a mim, já estava um pouco melhor na hora da aula e fui. Tinha olheiras denunciando que eu não tinha dormido muito bem e estava um pouco apreensiva. Com a atenção bastante dispersa, a aula foi mediana. Como já li uma vez, muitas aulas são assim. Depois, aproveitei a flexibilidade para voltar para casa e me recompor.

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