Casagrande e o poder democrático da palavra.

Diogo Dias
Visuais Virais
Published in
2 min readMay 10, 2020
Casagrande, um dos atletas símbolo da Democracia Corinthiana, movimento que levou a palavra democracia aos estádios em plena Ditadura Militar.

É um erro ignorar o dito popular. Eles comunicam um saber oracular, misterioso, e podem ser confundidos e mal interpretados. Mas se se reflete sobre eles é possível encontrar alguma verdade.

Minha mãe sempre me disse “meu filho, as palavras têm poder”. Tanto ela quanto eu tomávamos o poder aí como um poder mágico. Como se as palavras pudessem atuar imediatamente na realidade.

Por causa dessa má interpretação nunca acreditei nesse conselho. Mas há um tempo encontrei o teor de verdade do ditado lendo um livro de filosofia política. Em “O Desentendimento”, Jacques Rancière destaca como as divisões de classes vêm se articulando pelo poder da palavra. A classe dominante é sempre a que fala, a classe dominada é relegada a apenas compreender calada. A palavra como sustentação do poder.

Hoje, após a quarta grande revolução comunicativa da humanidade (fala, escrita, imprensa, internet), a palavra pode ser proferida por um número muito maior de pessoas, inclusive por nós, classe dominada. Mas descobrimos que há palavras valorizadas e outras estigmatizadas. Isso porque o poder se deslocou para a legitimação do que é dito. Talvez Bourdieu nos ajude a entender como isso funciona com o conceito de capital cultural.

Hoje acredito nos velho conselho da minha mãe. A palavra tem poder. Por isso tenho acompanhado com bastante entusiasmo o posicionamento de figuras extremamente populares como Raí e Walter Casagrande Jr. As palavras contundentes em espaços midiáticos de massa têm o poder de tensionar o discurso fascista que sabemos de onde vem e encontra grande apoio da mídia. Caio Ribeiro, que calou quando o atual presidente se aproveitou do título brasileiro do Palmeiras, inclusive erguendo a taça, quis censurar Raí por pedir a renúncia do nosso Nero e por se colocar firmemente contra a volta do futebol e o afrouxamento das medidas de isolamento. Casagrande não deixou barato e ontem apontou de forma firme, ao vivo, como a postura de Caio (que estava presente) era autoritária e dava apoio velado ao negacionismo.

Pode parecer pouco, mas quem acompanha futebol sabe o quanto pesam as palavras dessas pessoas. E como minha mãe sempre disse, a palavra tem poder.

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