Invasões Bárbaras

Livia Pasqual
Visuais Virais
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3 min readApr 30, 2020

“Em nome do pai e do filho e de todas narrativas patriarcais, a força simbólica da masculinidade precisa ser revelada” Joanna Burigo

Nunca tivemos uma eleição com tanta disparidade entre votos de homens e mulheres quanto a de 2018. Quem ganhou, a gente sabe, foram os homens: o tio abusador; o outro que faz gato de luz; o que grita bandido bom é bandido morto mas, quando o filho é preso, corre pra pagar traficante e garantir que o moleque não morra dentro do presídio; é o empreiteiro que ficou rico fazendo prédio minha casa minha vida mas votou 17 “pra não quebrar”; é o professor machista que só chama as alunas mulheres pros projetos pra tentar comer elas; é o cara que obriga as mulheres da família a votarem no candidato dele; o pastor proselitista que enriqueceu às custas dos miseráveis ao redor; é o ex-colega playboy que acha que política é futebol, não entende nada de economia e mesmo abriu uma empresa porque ‘é isso que homens fazem’; é o economista que “previu” dólar a 3 reais com Bolsonaro no poder (economia é astrologia do bunda-mole do partido novo); é o tosco que não suporta uma mulher mais inteligente que ele; é o irmão mais velho que odeia ver a irmã articulando ideias complexas, é o pai que quer o direito de comer a amiga da filha com o aval da sociedade; os caras do futebol que dividem a quadra e as mulheres, mas que não deixam as filhas irem pra balada e nem a esposa sair com as amigas; o político aliciador de menores; o fazendeiro que só quer manter seu esquema de trabalho escravo em paz; o avô racista que tem 3 filhos fora do casamento e eles não são brancos; é o filho do dono da emissora que, junto com os amigos, estuprou uma criança e ficou por isso mesmo; é o policial sem formação humana e pra quem esses homens todos aí de cima deram poder. E uma arma.

Todos cidadãos de bem, patriotas, conservadores.

Esse governo é o governo do macho. Não à toa muitos deles façam projeção de afeto em uma figura tosca como Bolsonaro. Ele é a presentificação de um modelo que todos conhecemos: bruto, agressivo, sórdido, egoísta, corrupto, sem ética, que lembra um avô, um pai, um tio que todos temos. Otipo de homem que Bolsonaro é — e o tipo de homem que elegeu essa abominação cognitiva — não tem mais lugar no mundo. É anacrônico e, realmente, precisa acabar.

Mas botaram ele na presidência mesmo assim e o fizeram gritando mito, empunhando suas arminhas como se estivessem num GTA eterno. Obvio que deu errado. Era sobre democracia e barbárie e esses caras escolheram a barbárie. O que mais falta pra ele sair? E mais importante: o que mais falta pra gente enxergar o absurdo nessas figuras e parar de eleger velho gordo branco de terno e com diploma de Direito?

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