Nesse 1º de maio quarentenado, foco na Economia do Cuidado

Mar Bastos
Visuais Virais
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2 min readMay 1, 2020

Esses dias vi um vídeo da feminista espanhola Irantzu Varela no qual ela expõe as camadas de opressão para explicar interseccionalidade.

Ao descrever o perfil do sujeito que está no topo da escala, ela apontou características comuns. já conhecidas: branco, homem, heterossexual, bilionário etc. Mas adicionou uma característica que me chamou a atenção: esse sujeito em geral é cuidado por todes e não cuida de ninguém. Ao passo que no lado oposto da escala, está em geral a mulher racializada, que não é cuidada por (quase) ninguém, mas cuida de todes.

Essa pandemia escancara esse desnível. O trabalho produtivo foi colocado temporariamente em segundo plano, mostrando que essencial mesmo para a sobrevivência são os serviços associados à Economia do cuidado (trabalho doméstico, cuidados de crianças, de idos@s e de pessoas com deficiência, limpeza, assistência médica, etc). Não é uma mera coincidência que as mulheres estejam na linha de frente no combate ao coronavírus. Fomos socializadas desde a infancia para o cuidado (basta lembrar dos tipos de brinquedo destinados às meninas), reservando aos homens o privilégio de não precisarem se preocupar com isso. Obviamente isso se reflete em sobrecarga de atividades para metade da população que se desdobra em duplas, triplas jornadas de trabalho.

“Na base da pirâmide econômica, mulheres e meninas, principalmente as que vivem em situação de pobreza e pertencem a grupos marginalizados, dedicam gratuitamente 12,5 bilhões de horas todos os dias ao trabalho de cuidado e outras incontáveis horas recebendo uma baixíssima remuneração por essa atividade”, apontou a Oxfam em pesquisa divulgada no início desse ano.

Segundo essa pesquisa, esse trabalho vale mais de 10 TRILHÕES de dólares por ano, um valor ignorado ou mal pago pela sociedade.

Grafiti feito nas ruas de Buenos Aires com a clássica frase da historiadora italiana Silvia Federici / Crédito: Mariana Bastos

O que eu desejo para esse 1º de maio quarentenado é que a pandemia leve as pessoas a refletirem sobre a necessidade de valorização da Economia do Cuidado. Que trabalhadoras domésticas, auxiliares de limpeza urbana e de hospitais, enfermeir@s, educador@s, cuidadores de idos@s e tod@s trabalhadores que compõem essa massa essencial no combate à pandemia recebam um salário digno e compatível com suas atividades. Que o trabalho relacionado ao cuidado seja tão importante quanto o trabalho produtivo.

E que todas as mães e pais da nova geração de crianças criem seus meninos e meninas para desempenharem o mesmo papel social de cuidar.

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