Confissões de um ansioso

Bruno Santana
Vitral
Published in
4 min readApr 17, 2020

Um incetivo para olhar para dentro com honestidade.

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Eu sempre tive uma certa dificuldade de me concentrar em algumas coisas e uma dificuldade maior ainda de esperar pelas coisas. Me lembro que quando criança, uma previsão do tipo, “na semana que vem a gente vai” era um instrumento de tortura. Mas a gente sabe que criança é assim mesmo, elas não sabem muito bem como lidar com o tempo e querem viver tudo de vez, ainda não aprenderam a planejar nem a medir o tempo necessário para as coisas.

Mas e quanto a nós? Somos adultos, não é? Sabemos que uma coisa pode não acontecer agora, mas em breve ela chega, né? Somos adultos. Já aprendemos que as coisas não giram em torno dos nossos desejos e por isso é melhor aprender a esperar, e às vezes esperar bastante. E mais, saber que mesmo após a espera, aquilo que esperamos pode nunca chegar. Conseguimos compreender isso, não é? Somos maduros… e já entendemos, nós lidamos muito bem com essas coisas.

Talvez, assim como eu, você esteja rindo nesse momento (aquele riso de nervoso). A verdade é que somos um desastre nesse aspecto. Queremos ter o controle, e muitas vezes nossos planejamentos tão adultos e maduros nada mais são do que aquela mesma vontade infantil de ter tudo do nosso jeito.

Eu não sei você, mas eu imaginei a vida adulta bem diferente. Eu olhava para os adultos e pensava, “cara! essa galera sabe o que está fazendo!”. Vamos crescendo e a desilusão é inevitável, ninguém tem controle de nada e na verdade, passamos uma grande parte da vida tentando aprender a lidar com isso. Mesmo a família mais bem estruturada, com seu planejamento financeiro, de carreira, de rotina… mesmo tendo tudo perfeitamente pronto, não temos controle sobre as circunstâncias. Um acidente, uma doença, um comportamento inadequado de uma criança ou até mesmo uma pandemia que pode causar uma crise financeira mundial. Nada disso está debaixo das nossas mãos, quase nada ao alcance dos nossos esforços de mudança, apenas temos nossa visão do presente, aquela que vê as coisas ruírem. E é claro, às vezes algumas coisas de dentro atrapalham ainda mais nossa forma de lidar com o incerto, a ansiedade é uma delas.

Eu não sei muito de psicologia, sou mais um abençoado pelos frutos decorrentes do que um estudante da profissão, mas sei que muito do que ela tenta evitar tem a ver com nossa forma de lidar com o controle das coisas. E pensando nisso, queria compartilhar algumas “confissões” de um ansioso. Em um esforço para que outros ansiosos por aí percebam que os turbilhões mentais não são uma simples frescura ou fraqueza que você tem, há algo que precisa ser pensado, analisado de forma bem complexa e muitas vezes com a ajuda de um profissional. Não quero propor uma solução, nem muito menos um método, apenas caminhar um pouco com você, quem sabe isso não te ajude ou me ajude também, como escrever isso aqui já está ajudando. Vamos as confissões.

- Eu não sabia que sofria de ansiedade, pensamentos acelerados e dores de cabeça eram muito constantes desde na adolescência, as vezes fico imaginando quanta gente não sofre por questões de saúde mental e nem sabem

-Eu passei muito tempo fugindo absurdamente de grandes decisões por ter uma dificuldade muito grande de lidar com o medo de escolher errado. Isso sempre vinha de uma impressão de que havia mil outras possibilidades e eu poderia escolher uma e me arrepender, isso me paralisava e fazia ou que pessoas tomassem as decisões por mim ou que eu acabasse tendo que escolher algo que sobrou.

Sempre tive dificuldade de escolher coisas que eu gostava, e dizer que não gostava de outras, estranho né? Tem gente que acha que é só falta de personalidade, mas vejo isso como uma tentativa de abraçar o mundo com todas as suas possibilidades, isso faz com que eu tenha dificuldade de desfrutar de muitas coisas que eu gosto muito, o que, às vezes, é pior do que a falta de personalidade.

Eu sempre tive uma dificuldade muito grande de desagradar as pessoas e uma maior ainda de dizer não para elas. É estranho porque na nossa cabeça isso parece ser sempre uma boa coisa a se fazer, mas isso me levou a tantos problemas que eu nem sei. Prometer algo para não decepcionar e não conseguir cumprir, se esforçar para encontrar algo bom pra dar aquela opinião mais agradável, não conseguir lidar com o fato de que aquela pessoa não vai mais com a sua cara. Tenho impressão que essas coisas vão matando a gente por dentro, calando a voz real do que realmente amamos, afinal, dizer “não” para algo ou alguém é dizer “sim” para outra coisa, e o não querer desagradar ninguém sempre vai levar a desagradar muita gente.

Bom, chega de falar dos meus problemas. Essas são confissões, impressões, confusões de coisas que muitas vezes me levaram a acelerar a ponto de não ir a lugar nenhum.

Ao contrário do que talvez um bom autor faria, não vou oferecer nenhuma solução aqui, só quero que você se sinta um pouco mais livre para pensar e conversar sobre suas fragilidades e angústias. É olhando pra elas que você entende o porquê de muitas coisas não estarem no lugar. Ofereço esse texto como incentivo a olhar para sua humanidade como ela realmente é e buscar um caminho pra se perceber melhor. Espero que nos encontremos nesse caminho.

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