Deus é luz — Peter J. Leithart

Asafe Gonçalves Pereira
Vitral
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3 min readJan 9, 2020

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Tradução: Asafe Gonçalves

Foto: Asafe Gonçalves

A Epifania é um tempo de luz. Ela começa no meio do inverno, bem quando a duração da luz do dia começa a aumentar¹. Ela comemora a estrela brilhante que levou os magos ao menino Cristo e celebra a manifestação de Deus em momentos da vida de Jesus — seu batismo, seu primeiro sinal em Caná, e sua Transfiguração.

Deus é luz, e nele não há trevas. Ele é uma comunhão eterna de luz, Fonte eterna, Resplendor eterno e Dispersão eterna que ilumina a Fonte e o Resplendor. O Pai brilha como a Luz que torna o Filho radiante no Espírito. A comunhão triúna é eterna iluminação mútua. Pela encarnação, o Nascente do alto nos visita e brilha através da carne, para que toda a carne o veja juntamente.

A luz é o começo da criação e, ao criar a luz, Deus dá tudo o mais. Sem luz as coisas são invisíveis, de todo irreconhecíveis. Um mundo sem luz é um mundo “tohu w-bohu”, sem forma e vazio (Gn 1:2). A luz é boa, o primeiro bem criado, o bem sem o qual nada mais poderia ser, ou ser bom. Nada pode viver sem luz. Dizer que Deus é luz é dizer que Ele é vida plena e Doador da vida. Como um tempo de luz, a Epifania é um tempo de vida, um vislumbre distante da Páscoa.

A luz é gloriosa; deslumbra. Luz é glória; glorifica à medida que permite que outras coisas emerjam em sua própria glória. Tudo aquilo que recebe luz reflete luz. Tudo que é iluminado ilumina (Ef 5:13). Como luz incriada, Deus é tanto glória quanto glorificador. Se Deus é luz e cria luz, e se tudo quanto está na luz é luz, toda a criação refulge com a luz refratada de Deus. Sua glória enche e encherá todas as coisas. Tudo está compreendido na epifania do Deus de luz. Assim, o rei Davídico é a “lâmpada” de Israel, cujo reino é o círculo de sua luz. Assim Israel é uma luz entre os gentios. Assim, banhados pela luz que é Deus, os discípulos de Jesus são a luz do mundo, uma cidade brilhante sobre um monte.

A luz expõe o que está oculto e, portanto, possibilita o julgamento. Exposição é julgamento. Deus é luz também porque ele é o Juiz cujos olhos incandescentes veem todo segredo. A luz afugenta aqueles que querem esconder seus atos maus; a luz atrai aqueles que praticam a verdade, para que seus atos sejam manifestos como do próprio Deus. A luz vence a escuridão. Deus é luz, Ele prevalece: Ele é vitorioso.

A luz mantém o tempo. O ritmo de luz e escuridão marca os dias, enquanto os movimentos do sol, da lua e das estrelas marcam meses, estações e anos. A luz amanhece no começo. É a primeira das criaturas de Deus. A luz se levanta no final. Na criação, as trevas se assentam sobre o abismo, e então são dissipadas pelo fiat lux. Os dias começam pelo entardecer e a história começa no crepúsculo da antiga criação. A luz vem por último e, se Deus é luz, Ele é o Deus do futuro, a luz que fulgura à frente e brilha de volta para iluminar tudo o que vem antes. Ao recordar a luz de Jesus, a Epifania também nos direciona adiante para o dia eterno.

Assim como a Epifania manifesta o Deus que é luz, também manifesta a missão dos iluminados. Glorificados no Espírito de Jesus, glorificamos. Tendo recebido a vida de Deus, vivificamos. Fomos expostos pela Luz e, portanto, somos chamados a expor os feitos das trevas. Compartilhando da luz de Jesus, também compartilhamos de sua vitória, vencedores sobre as trevas. À luz de Jesus, brilhamos com a luz de amanhã, para que a luz do último dia ilumine o caminho. Nós nos tornamos a epifania do Deus da luz.

¹De acordo com as estações no hemisfério norte, contexto do autor.

FONTE: Leithart, Peter J. God Is Light. First Things, Janeiro 2020. Disponível na data desta publicação em: https://www.firstthings.com/web-exclusives/2020/01/god-is-light

TRADUZIDO E PUBLICADO COM PERMISSÃO DA REVISTA FIRST THINGS

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Asafe Gonçalves Pereira
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Impostor em vários frontes. Usuário de drogas pesadas, a saber, café e transporte público. Viciado numa, dependente da outra.