O novo dualismo religioso e a política

Bruno Emídio
Vitral
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3 min readSep 19, 2019

Como as narrativas politicas têm assaltado as noções de esperança, fé e amor.

The Good and Evil Angels — William Blake (1795-?c. 1805)

É engraçado como as coisas acontecem conosco. Esta breve reflexão por exemplo é fruto de minha primeira experiência ouvindo as meninas do Anavitória, mas aí você pode se perguntar: “tá, mas como isso tem a ver com politica e dualismo? Te explico logo.

https://twitter.com/igorpensar/status/1155837305325838341

Esse tweet é a base de toda minha reflexão. Ao compartilhá-lo com colegas e amigos obtive algumas reações curiosas. Eles achincalharam e discordaram diametralmente dele, dizendo que isso era papo de teólogo descolado do mundo real, obsessão em ver religião em tudo e até mesmo desculpa de esquerdista(?). (A maioria era bolsonarista.)

Mas veja bem, não se trata de esquerda e direita ou como devemos nos portar na arena pública em relação a politica. Estou tentando falar aqui em como deveríamos, como cristãos, ser “ateu-políticos” e “céticos ideológicos”. Mais uma vez, não se trata também de ser apolítico e não se envolver com ela e se posicionar. Obvio que isso é necessário, mas nossa relação não deve ser de apoio incondicional, nem muito menos de depositar todas as nossas esperanças em candidato a ou b. E, até mesmo inconscientemente, isso acaba acontecendo muitas vezes.

Tudo isso é mais sútil do que parece. Podemos nos lembrar de várias profetadas e gente maluca por aí dizendo que tal candidato é ungido do Senhor e mandado para cumprir os desígnios de Deus. Isso obviamente é fácil de rebater e revela certa ignorância. Porém, mais difícil ainda, é detectar esta especie de “idolatria” em mentes pensantes, gente que tem certa atividade intelectual e certamente rejeita a ideia de que algum candidato é ‘O Escolhido Divino’. Esse tipo de pessoa pode ter um coração dividido e nem perceber.

Por exemplo, um desses meus colegas (que discordou do tweet do Igor) me viu ouvindo o álbum da Anvitoria de 2016, pois tinha postado no stories do Instagram, e como parte da zuera nos grupos comentou: “Elas são lésbicas comunistas? Se for, nenhuma surpresa ele ouvir”. E é aí que eu penso em um novo dualismo. Ao agir desta maneira, penso eu, anula-se a negação que existem paixões politicas desordenadas entre os crentes. O “dualismo clássico”a que me refiro é o daquela velha divisão gospel/secular de músicas, filmes, livros e etc em que se diferenciava em qual categoria cada coisa está principalmente por quem produziu. Já o novo dualismo abrangeria a vida politica também. Onde o sagrado estaria de um lado do espectro ideológico e o profano no outro, sem considerar o conteúdo, claro. Aqui me refiro a qualquer lado.

Infelizmente, nós ainda estamos sujeitos a nos deixar levar por narrativas politicas e acreditar, de forma consciente ou não, que é através delas que o mundo será melhor, pleno e redimido. Os ídolos nos fornecem respostas para todas as questões, seja o bolsonarista ou o lulopetista, anarcocapitalista ou aristocrático, mas todas elas são distorções e abrangem apenas pequenas porções da realidade, não o todo. Nos esquecemos que a resposta correta para todas estas demandas humanas está na obra de Jesus Cristo e que deveríamos agir com a Encarnação e Ressurreição do Filho de Deus balizando todas as nossas experiências com o mundo, afinal, esta é a realidade última.

“Quando a política pretende ser redentora, promete demais. Quando pretende fazer a obra de Deus, não se torna divina, mas demoníaca” — Bento XVI

Que possamos ter nossos corações íntegros, não dividos. Firmes na Esperança, Amor e Fé verdadeiras, amando o Senhor de todo o coração e entendimento, pois como diria o salmista:

{…}Tu és a minha esperança, Senhor DEUS; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. — Salmos 71:5

Amém.

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Bruno Emídio
Vitral
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Feito filho de Deus pela obra de Jesus, Mutuense,quase psicólogo e amante de metalcore e tatuagens.