O que o pecado me ensina sobre Deus.

Bruno Emídio
Vitral
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3 min readOct 17, 2019

Essa reflexão parte de um leigo. Por mais que eu tenha apreço pela teologia, minhas impressões são falhas e passíveis de correção pelos nossos queridos professores, teólogos e mestres, dos quais me inspiro.

Jeremiah Lamenting the Destruction of Jerusalem, 1630 — Rembrandt van Rijn

Tenho refletido sobre tentação e a possibilidade da permissão de Deus – concedendo e utilizando nossos pecados “menos graves” para superarmos outros que seriam “piores e mais recorrentes”. Deixe-me ser mais claro. Pensemos: “Tudo bem que a força que não me deixa cair em certa tentação sexual seja o orgulho”, “tudo bem que o que tem me sustentado e impedido de pecar seja o mal da confiança em meu próprio desempenho religioso e força, contanto que me impeça de cair naquele outro mais recorrente”. Não é incomum nos depararmos com tais apelos, e não necessariamente estamos totalmente conscientes disso. Em ultima instância, é essa conclusão que nos guia na vida espiritual. Pior, quantas vezes nós mesmos não levamos vidas assim? Não é uma questão simples.

Há questões psicológicas profundas também. Nossa visão de nós mesmos, nosso ego elevadíssimo travestido de autopiedade e baixa autoestima. Nossa identidade está em jogo também; assim como o diabo tentou Jesus no deserto somos nós tentados da mesma maneira. “Ora, você não é filho de Deus? Então resista às tentações, vença o pecado”. Porém diferentemente de Jesus, muitas vezes ainda não sabemos quem nós somos em Cristo e achamos que algo ainda deve ser feito, tentamos então construir e depositar nossas esperanças e identidade no desempenho. Damos ouvido ao acusador e logo após nos frustrarmos caímos e somo tomados pela angústia. Como diria o salmista:

Emudeci, desisti de expressar o bem, e minha angústia se agravou — Salmos 39:2

Somos consumidos, murchamos, nos voltamos pra dentro da casca individual, “curvado em si mesmo” como diria Lutero. É terrível e desesperador, até que voltemos à realidade.

O pecado pode ser deixado sem arrependimento […] pode ser trocado e o coração permanece inalterado. […] Um escravo é vendido a um judeu; o judeu o vende a um turco. Aqui o mestre é mudado, mas ele ainda é um escravo[…] Um pecado pode ser deixado não pela forca da graça, mas por razoes de interesses próprios. Um homem vê que, embora tal pecado seja para seu prazer, ainda assim não é de tudo favorável. Ele vai prejudicar o seu status, sua saúde,seus bens. Portanto, por razões de interesses, ele rejeita o pecado. A verdadeira saída do pecado é quando os atos deles cessam por meio do poder da graça. — Thomas Watson

Retornando a primeira questão, talvez Deus se agrade por “trocarmos de pecado”. Mas é mais provável que a resposta seja “não”. Acredito que a reposta que tive em minha alma nos proporcione uma alternativa. Não há segurança verdadeira fora de Cristo! Permita-me ser audacioso: talvez o próprio Senhor nos leve à ruína, intencionalmente nos permita transgredir sua santidade para abrirmos mão do desempenho e do orgulho. Não há segurança verdadeira em nós mesmos.

Esta não é uma questão puramente lógico-racional, envolve nossos mais profundos afetos. “A fé cristã não é sobre desejar menos e sim sobre desejar mais aquilo que deve ser desejado” — Rev. Eric Rodriguez.

A fé cristã tem a ver com a promoção de um desejo sobre-excelente por Deus, desejo tal que simplesmente ofusca qualquer outro. De modo que o abandono dos desejos carnais pelos cristãos não se trata de um ato de repressão, mas sim de amor. — Jaime Sepulcro Jr. (Igreja Anglicana Âncora)

Ele é o Senhor; este é o teu nome! Ele não dará a outro sua glória.

Voltemos ao único lugar seguro da existência, pelo menos a consciência, pois nunca saímos de lá. Não estamos nesta posição por mérito, fomos levados! Nada pode nos tirar.

Você já sabe de tudo isso, mas não custa lembrar, não é?!

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Bruno Emídio
Vitral
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Feito filho de Deus pela obra de Jesus, Mutuense,quase psicólogo e amante de metalcore e tatuagens.