Anakin ou Darth Vader?

Quando a idolatria nos torna reféns de nossas próprias escolhas.

Beatriz Litz
Viva e Eficaz
3 min readDec 13, 2021

--

A famosa saga dos cinemas, “Star Wars” conta há décadas uma história fantasiosa que, nas entrelinhas, nos permite refletir sobre a realidade.

Um dos personagens cringe mais conhecidos do cinema é Darth Vader, um vilão com uma história de escravidão e escolhas difíceis. Voltando um pouco no tempo dessa ficção você poderá conhecer Anakin, um jovem prodígio, porém escravo. Nascido escravo e filho de escrava, qual era o futuro de Anakin senão a escravidão? Acontece que o menino, pela misericórdia de um cavaleiro Jedi, ganha sua liberdade e nasce para uma nova vida. Anos mais tarde, esquecendo-se de seu propósito e suas raízes, se deixa levar pelo poder (alerta de spoiler!) tornando-se Darth Vader, o Sith mais temido da galáxia.

Vader é conhecido por trajar uma grande armadura preta e uma máscara que lhe permite a respiração mecânica. Não sei se você já parou para refletir no que a escravidão significa, mas talvez essa seja uma boa definição: uma respiração mecânica. Aquele que pertence a outro não possui vontade própria muito menos livre arbítrio. Quem decide tudo a seu respeito é o próprio alvo de sua devoção. Para entender a graça de Deus, precisamos ter clareza de que todos temos um “senhor”. Àqueles que escolhem a Cristo tornam-se herdeiros e os que não o escolhem, tornam-se escravos de suas próprias decisões disfarçadas de liberdade. Viram reféns de uma respiração mecânica.

Jesus respondeu: “Digo-lhes a verdade: Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado. João 8:34

Na época de Jesus, os fariseus eram como autoridades espirituais. Verdadeiros acusadores de pecados e pecadores, faziam da religião seu ídolo. No entanto, não eram capazes de enxergarem os erros em si mesmos. Usando-os como exemplo, Jesus divide a humanidade em dois grupos: aqueles que precisam de ajuda e aqueles que pensam não precisar dela. Na estrada da religiosidade, somente um desses grupos foi o responsável por crucificar Jesus. Nas palavras de Judah Smith em seu livro Jesus é…:

“Pecadores notórios não mataram Jesus. Pessoas religiosas, sim.”

Enganam-se àqueles que pensam na idolatria como uma prática das “pessoas do mundo”. Na classificação dos dois grupos elencados por Jesus, devemos estar muito atentos para qual deles estamos caminhando. Em Lucas 2 a bíblia conta que no caminho para Jerusalém, Maria e José perdem Jesus no templo. Assim como eles, estamos sujeitos a perder Jesus no templo estando ainda dentro dele. A idolatria pode nos tornar escravos ao assumir a conhecida forma de um ministério, de um “modelo ideal” de super-crente, de aparências que enganam, de críticas religiosamente construtivas baseadas no conhecimento egocêntrico. O caminho que pensamos nos levar ao templo pode estar nos levando à crucificação do verdadeiro Jesus enquanto escolhemos Barrabás (Mateus 27).

Escravos das escolhas que pensamos partir de Jesus, caminhamos muitas vezes desanimados e fatigados na vida cristã. Sem perceber, criamos ídolos que aos poucos assumem o lugar de Cristo em nós. Empurramos Deus para as extremidades apertadas do nosso coração e no lugar Dele abrimos espaço para relacionamentos irreais, carreiras falsamente bem-sucedidas, ministérios inférteis, e tantos outros. Cheios de corações vazios caminhamos ordenadamente rumo ao precipício da vida. Quando chegamos ao final desse poço pensamos, “Deus não me ajudou!”, mas não se engane: Deus nunca esteve nisso.

Felizmente, a igreja é o único hospital em que médicos e pacientes são a mesma pessoa, em que a cura das nossas mazelas nos torna médicos de outros. Na oração do ‘Pai nosso’ Deus demonstra sua identidade relacional. Assim como temos um Deus trino, aprendemos que a nossa jornada não é carreira solo. As maiores respostas que podemos encontrar para a idolatria e escravidão estão no relacionamento.

Quando olhamos para Deus como alvo de toda nossa devoção e para o próximo como nosso igual, essas correntes caem. Nem Anakin, nem Darth Vader. Não fomos criados para ser escravos, nem de práticas, nem de pessoas, nem de situações. Fomos chamados para liberdade.

Para continuar lendo outros artigos: https://medium.com/viva-e-eficaz

--

--