Vivendo de amor! O que Bell Hooks está nos dizendo?

Montagem realizada com a foto de Bell Hooks e flores. Autor/a desconhecida

Bell Hooks autora estadunidense, conhecida por esse codinome que foi adotado em homenagem a sua avó, é uma grande referência para o feminismo negro dos EUA e do mundo. Formou-se em Stanford no curso de literatura inglesa, possui mestrado pela Universidade de Wisconsin e doutorado pela Universidade da Califórnia. Possui diversos livros, artigos, palestras publicados no Brasil e no mundo como: “Ensinando a Transgredir: a educação como prática de liberdade” e “Olhares Negros: raça e representação”. É autora de mais de trinta livros de vários gêneros, transita entre a teoria e a poesia. Já foi premiada pelo The American Book Award. O texto de hoje chama-se “Vivendo de amor” foi publicado em 1994 e nos faz refletir sobre algo tão importante, a capacidade de nós pessoas negras permitirmos sentir amor e deixar que nos amem.

O amor cura. É a primeira frase de Bell Hooks, simbólico não? Afirma ainda que a nossa recuperação está no ato e na arte de amar. Há verdades privadas na vida de mulheres negras, uma delas é o sentimento de que em nossas vidas existe pouco ou nenhum amor, é uma realidade dolorosa relata a autora.

Traz para reflexão a definição de amor de M. Scott Peck: “a vontade de se expandir para possibilitar o nosso próprio crescimento ou o crescimento de outra pessoa (…) uma intenção e uma ação”. Refletindo sobre a construção histórica da população negra e aplicando essa definição de amor ao histórico racista e colonial, faz sentido que haja frustração. O sistema escravocrata e as divisões raciais geraram um ambiente que dificultou o crescimento espiritual (mas não impediu que ele acontecesse). A opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de amar. Por que?

Bell Hooks explica que:

1) A vida dos negros é permeada por questões políticas que explicam a interiorização do racismo e de um sentimento de inferioridade.

2) Quando temos nossa habilidade de querer e amar alteradas o sistema de dominação, racial e capitalista, é mais eficaz.

3) Somos um povo ferido — é uma ferida emocional.

4) A vontade de amar representa um ato de resistência, porém é uma escolha e ao realizá-la podemos descobrir nossa incapacidade de receber e dar amor.

O impacto da escravidão no ato de amar: é a repressão dos sentimentos como estratégia de sobrevivência das violências cotidianas. Quando a escravidão acabou houve o desejo de se experimentar as relações de intimidade que foram negadas à população negra, mas essas relações são estabelecidas agora sob outros moldes, os moldes do colono com bases hierárquicas, de controle e dominação. Não mais pela lógica que havia sido antes dos homens brancos, da colonialidade e de toda sua violência que reflete na vida e nos costumes de todas as gerações que a vivenciaram e vivenciam suas consequências.

Emoções Reprimidas: A chave da sobrevivência: O sistema de dominação racial continua operando em nossas vidas, certas barreiras emocionais permanecem mesmo após a abolição. Em nosso imaginário, acreditamos que a capacidade de conter emoções é uma característica positiva, que demostrar sentimentos é uma bobagem e até mesmo a habilidade de esconder e mascarar sentimentos passou a ser considerado como sinal de personalidade forte. Crianças ensinadas a não chorar, a reprimir o choro, como essas crianças poderiam acreditar que podem estar abertas para o amor?

Em algum momento você nos amou? O amor como um luxo, amor como cuidado, atenção e afirmativa da necessidade de experimentar prazer e felicidade. “No nosso processo de resistência coletiva é tão importante atender as necessidades emocionais quanto materiais.” O exemplo de mulher negra forte que acredita que não necessita ou merece amor, uma vida pautada em luta.

Segundo a Bell Hooks é a falta de amor que tem criado tantas dificuldades em nossas vidas. Sobreviver não é viver plenamente. Temos dificuldades em conhecermos o amor, e para isso acontecer precisamos aprender a responder as nossas necessidades emocionais. A experiência de cultivar a saúde emocional e a luta contra o racismo e o sexismo estão interligadas e não são excludentes explica a autora.

“A arte e a prática de amar começam com nossa capacidade de nos conhecer e afirmar”. A afirmação é o primeiro passo para poder cultivar o amor interior. Amor interior é diferente de amor próprio, pois o próprio é geralmente usado para definir a nossa posição em relação ao outro. Nossa vida interior é importante, e é importante explorá-la para conhecermos nossas emoções e sentimentos nos permitindo sentir e afirmar interiormente nosso direito de amar. Olharmos-nos internamente sem culpa e sem censura.

Construir a capacidade de pedir ajuda também demonstra poder relata Bell Hooks. Realiza um convite, para que nós pessoas negras em processo de descolonização começarmos a perceber como outras pessoas negras respondem ao sentir nosso carinho e amor. Geralmente mulheres negras não esperam receber amor, pois acham que não é para elas. “Se escolho dedicar minha vida à luta contra a opressão, estou ajudando a transformar o mundo no lugar onde gostaria de viver.”

Termina seu texto afirmando que aprender a amar é uma forma de encontrar a cura e defende que: “Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura”.

Acesse o texto na íntegra: <http://www.olibat.com.br/documentos/Vivendo%20de%20Amor%20Bell%20Hooks.pdf>

Imagem acessada em: <https://lercoragem.wordpress.com/2018/03/21/livro-nao-sou-eu-uma-mulher-bell-hooks/>

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Uma preta ensinou
Vivendo de amor! O que Bell Hooks está nos dizendo.

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