Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri — 17 de janeiro #1

Matheus Henrique
Vivendo Coram Deo
Published in
3 min readJan 18, 2019

Muito se comenta sobre a felicidade como tema da carta aos filipenses. Essa felicidade aparece da pena de um Paulo preso, dolorido e cansado, o que é um contrassenso. Exalar felicidade quando o mau cheiro de uma cela úmida, com ratos e provavelmente com seus excrementos se faz presente, é um feito sobrenatural. Mas como Paulo consegue tal feito?

1. Deleitar-se em Deus

Ele mesmo entrega o segredo diversas vezes em sua carta, convocando seus leitores a se alegrarem em Cristo, ou como a NTLH traduz, por estarem unidos a Cristo. Isso é tão importante que o apóstolo chega a ser insistente: “Tenham sempre alegria, unidos com o Senhor! Repito: tenham alegria!” (Fp 4.4 NTLH); “Para terminar: meus irmãos, sejam alegres por estarem unidos com o Senhor. Não me aborreço de escrever, repetindo o que já escrevi, pois isso contribuirá para a segurança de vocês.” (Fp 3.1 NTLH)

Paulo está se certificando quanto a segurança dos filipenses. E essa segurança está ligada ao deleite do cristão com seu Senhor. Esse é o hedonismo cristão [1] que o pastor batista John Piper propaga: o prazer em Deus, o deleitar-se nEle. É a partir de Sua glória que devemos nos alegrar, ou como o Piper cunhou, “Deus é mais glorificado em nós quando somos mais satisfeitos nEle”. Olhar para a obra de Cristo por nós espanta qualquer tristeza, Sua fidelidade anula qualquer insegurança.

2. Deus conosco

Mas a coisa é mais profunda. Quando os versículos usam a expressão “unidos com o Senhor”, Paulo nos revela a doutrina extremamente tocante da união mística com Cristo mediante a fé (cf. Ef 1.13). Nas palavras de Lutero: “Dessa união, conforme nos ensina São Paulo (Ef 5.31,32), concluímos que Cristo e o nosso espírito tornam-se um só corpo, de forma que tenham tudo em comum, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, em todas as circunstâncias.” [2]

Todas as nossas circunstâncias são comuns a Cristo, isto é, Ele é ciente e participa delas conosco, sejam alegrias, sejam tristezas. Como o autor de Hebreus sempre enfatiza, podemos nos achegar a Jesus porque Ele é o nosso intercessor que passou por nossas fraquezas e tentações (Hb 2.18; 4.15–16; 10.22). Ele não está alheio, mas pelo contrário, tem empatia porque vive conosco.

3. Deus em nós

Por fim, há um último aspecto que quero enfatizar. O de que nossa união faz com que já não sejamos mais nós que vivemos, mas Cristo vive em nós. O que Paulo destrincha em Gálatas 2.20, ele resume aos filipenses no versículo 1.21: pra mim o viver é Cristo.

Paulo não quer dizer apenas que a sua vida é para Cristo, mas que o seu viver é o próprio Cristo. Seus membros, sua ambição, seus passos, tudo é governado por Cristo de tal forma que já não há Paulo, mas Jesus.

Como escreveu Hernandes Dias Lopes, “[Paulo] olhava para a vida com os olhos de Deus” [3]. E assim, entendendo que a sua felicidade deriva do prazer em um Deus que está com ele e opera nele, que Paulo olha a tristeza nos olhos e pode sorrir. Ele mesmo não é capaz disso, mas um Deus que superou a pior das tristezas em forma de cruz, faz com que seu filho alcance tal feito.

Notas

[1] Termo cunhado pelo pastor Piper e base do seu ministério. Está em qualquer dos livros dele;

[2] LUTERO, apud MCGRATH. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Shedd Publicações, 2010.

[3] LOPES, Hernandes Dias Lopes. Comentários expositivos Hagnos. Editora Hagnos, 2010;

Essa pregação do pastor Thiago Dutra foi marcante pra mim e é muito melhor do que meu post. A canção tema, 17 de janeiro, também merece ser lida.

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