O líder em movimento e o discurso de Abdias do Nascimento

Uma das vozes que se somam à de BK em seu último disco é a de Abdias do Nascimento, um dos maiores heróis negros do século 20.

O Brasil pós Lei Áurea, que “liberou” os escravos da senzala, formou uma massa de miseráveis. A liberdade foi assinada, mas era somente um papel; negro não era mais propriedade de senhor de engenho, mas o Estado não fez nada para garantir mínimas condições de vida. Os ex-escravos trilharam o caminho à marginalização e a cor da pobreza no país foi reforçada no início do século 20.

Abdias do Nascimento, nascido em 1914, não se contentava com esse destino reservado a ele. Na década 30, integrou o movimento de luta Frente Negra Basileira e, nos anos que se seguiram, criou o Teatro Experimental Negro, que revolucionou a vida de muita gente. Recrutou negros e negras marginalizados para estudar teatro.

Abdias alfabetizava o elenco, preparava os atores e incentivava a conscientização deles como cidadãos. O palco virou espaço para todos terem voz e mostrarem seu talento. Eles aprendiam sobre suas origens, aceitavam as raízes africanas, orgulhavam-se de ser quem eram. Abdias trabalhou a autoestima daqueles ex-escravos que quase não tinham deixado de ser ex, mais de 50 anos depois da Lei Áurea.

Além da experiência no teatro, dedicou parte da vida às atividades políticas. De deputado federal à senador, sempre reivindicou políticas de integração dos negros na sociedade brasileira.

Abdias foi um herói nacional que merece ser reconhecido, estudado e celebrado por todos os brasileiros, e BK fez um grande trabalho de resgate e afirmação em seu som.