Olhar de turista
Olhar de turista resvala nas cores.
Paixão aos detalhes amor à beleza.
Olhar de turista enxerga outro plano
a desbravar a conquistar
um território que para o outro
é só cotidiano.
E recomeça, tem pressa de fazer do presente
semente de um hoje pra sempre.
Cores, luzes, ruídos
na memória que o sentir eterniza.
Preso ao etéreo à névoa de cada segundo
se entrega, navega na esperança de eternidade.
Amplidões de concreto sugerindo versos,
agonia de poeta a investigar rastros
e na luz fugidia captar palavras de amores e leitos
ruídos de vestidos a roçar altares.
Lugares esquecidos ecos de vozes!
Olhares que espiam frestas na cumplicidade das sombras,
retumbar de passos algozes e vítimas,
mãos nas sombras resumindo em força
a dor da escravidão sem data
o ecoar de gritos o ressoar da história.
Caminhar de outras vidas,
pegadas em pedras pisadas por séculos
telhados ocultando versos sonhos diversos.
Portas abertas a existências mortas
janelas ouvindo murmúrios de vozes abafadas no ontem.
Sons e horizontes.
Partidas a sul e a norte. Adeus a tantos lançados ao oceano incógnito,
entregues às águas açoitadas por monstros diluídos em ventos, tormentas.
Mortes esquecidas em conquistas inúteis.
Nomes perdidos nem voz nem lembrança.
Anjos a planarem baixo
contornam pedras que se fizeram vãos.
E preces, preces e preces.
O poder da fé a rogar, a construir monumentos
súplicas em diferentes rotas
contínuo verbalizar de apelos a mártires de ouvidos moucos.
Ouro sem dono e sem regras se fazendo reza
se fazendo súplica se tornando templo
aceitando rogos aceitando velas
ignorando bençãos ignorando prantos
lançando ao nada a poesia de vidas que se tornaram nunca.
Multidões ressoando falas e cantos e contos —
no ontem e no hoje — todos reduzidos a traços
fragmentos dispersos.
Sons de outra era são ecos
os de agora são passos em multidão de março.
qual multidão? qual março?
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