. os vivos que amamos
vamos abraçar os vivos
porque os mortos
esses já são muitos longe reunidos
do lado de lá
nos resta ansiar que atravessemos logo
essa ponte partida no fim do dia
madrugada afora rolamos
antes de cair de vez no abismo de não-sentido
que-en-fim, nos encontramos
senhor do que se trata
essa varredura de praga
levando vantagem sobre a nossa raça
sem dor que agora ficamos
desfacados no leito
os vivos continuam sentindo fome
conversando sobre banalidades
comem os bichos mortos dos pobres
café frio e pão duro para os órfãos
enquanto a história decompõe
mais uma parte desmoronada
o azul de florzinhas plásticas
o piso frio desgastado de enterros
sob a sola do pé que não percorre
mais nenhuma milha
atado à beira da família na cama final
a casa nunca esteve preparada
para a extinção que chega sem avisar.