. tortura
há tanta dor no mundo
tanta ausência de cor e um profundo
desespero de viver
não sei como não morro a cada cinco minutos
não sei como não corro para o escuro todo oculto
há tanto sofrer que me doem os cotovelos
e os olhos ardem secos
incapaz de chorar oceano sigo árida
por dentro tanta clareza
naquilo que me fere
ofusca o agir e impulsiona um único movimento
despejar palavras
dizer o que ninguém tem coragem ou vontade
aquilo que do centro nos afasta
já larguei dores por milhares de laudas
tantas que não me sinto pessoa
sou chaga aberta evitando
quinas cantos lâminas lágrimas
imagem esvanecida à procura de um desvio
sem espinhos rumo e falho
todos os dias sangro larga
cutucada na ferida
descarnada
a pele colando na poeira da rotina
os pedaços de palavra
grudam em tecidos paredes anos
são fragmentos que nunca hei
nem quero recuperar
bastam ser partes escritas
que pararam de latejar.