As cidades mais violentas do Brasil

Projeto explora dados sobre taxas de homicídios em 18 capitais brasileiras em 2014

Sérgio Spagnuolo
Volt Data Lab

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Este artigo é parte do projeto independente de jornalismo de dados Volt. Para acessar gráficos interativos, outras informações e toda a documentação e fontes da reportagem, além de outros projetos, acesse o site www.voltdata.info

Anualmente, o Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal (CCSP), uma entidade com sede no México, publica um ranking mundial das cidades mais violentas do mundo.

Em 2014, nada menos do que 19 dessas cidades eram brasileiras — sendo 18 capitais. Os dados foram divulgados em janeiro de 2014 e foram discutidos pela imprensa internacional e nacional, mas eu vi poucas visualizações com esses dados, algo que pudesse ajudar a enxergar esse cenário de volência em nosso país.

Eu então pensei em fazer um projeto para o Volt, baseado especialmente em mapas, a fim de literalmente apontar para essas cidades que são consideradas entre as mais violentas do mundo.

O primeiro dos mapas, mostrando apenas as 18 capitais brasileiras indicadas no estudo da CCSP, você pode ver abaixo — ou acessar os dados interativos neste link.

As cidades com as maiores taxas de homicídios do país. Mapa feito pelo Volt Data Lab

Como pode ser visto, a violência brasileira desconhece regiões. E, como as capitais costumam ser as cidades mais populosas dos Estados, é seguro dizer que essas cidades realmente tem um número assombrador de assassinatos a cada 100 mil habitantes.

A média global em 2012 foi de 6,2 casos a cada 100 mil habitantes, de acordo com o “Estudo Global de Homicídios” mais recente , elaborado pelo escritório da ONU para drogas e crimes, o UNODC.

O relatório da agência da ONU aponta para um situação de “estabilidade” no Brasil e em outros países do continente americano, mas alerta também que os índices continuam altos: foram 25,2 homicídios a cada 100.000 pessoas em 2012 no Brasil como um todo, ficando atrás apenas de Venezuela (53,7) e Colômbia (30,8).

Um segundo mapa desse projeto explorou a própria lista da CCSP com as 50 cidades mais violentas do mundo, e pode-se ver claramente no mapa abaixo que o continente americano é indiscutivelmente o primeiro lugar no número de assassinatos nas grandes cidades.

Os números não contabilizam os mortos em guerras nem em outros tipos de conflitos armados, apenas em "condições normais" de funcionamento de uma cidade.

Há diversos dados online sobre isso — UNODC, Mapa da Violência, CCSP, entre outros — e a questão principal foi principalmente como escolher os melhores dados de comparação para refletir a situação no Brasil.

Cidades com maiores taxas de homicídios no mundo. Mapa feito pelo Volt Data Lab; para o gráfico interativo, clique aqui

Como foi feito o trabalho

Eu sempre quis fazer um projeto que trabalhasse com o Odyssey, uma ferramenta de "storytelling" desenvolvida pela CartoDB que engloba mapas e outros elementos novos de formatação de texto e imagens.

Apesar de ser uma boa ferramente, o Odyssey ainda tem diversos "bugs", especialmente na hora de escrever em Markdown ou acrescentar outros basemaps. Além disso, a versão de slide, que eu utilizei para o primeiro mapa, não é responsiva — logo, fica bem ruim em dispositivos móveis (o mapa é responsivo, mas a caixa de legenda não).

O problema não está na linguagem de Markdown, que eu como um bom usuário do editor de texto iA Writer Pro prefiro usar em detrimento ao "rich text", que é um saco de ficar ajustando a formatação toda hora. Mas sim nos ajustes que os desenvolvedores do Odyssey fizeram nessa linguagem para que o aplicativo possa entender as coordenadas geográficas. Haja paciência no mundo para lidar com aquelas apóstrofes (ou seriam vírgulas) que ficam entre o título e o texto e que contém as diretrizes do mapa.

Além disse, aprendi da pior maneira que é necessário mudar o basemap — se você quiser, claro — apenas após ter acabado de escrever todo o código. Caso contrário, um tremendo de um bug simplesmente faz o mapa sumir a cada alteração que você faz na caixa de edição, chama de Sandbox. No meu caso, usei o Dark Matter Lite, em vista do tema sombrio.

Tentei também usar a versão de "scroll" do mapa, que me parece legal, mas esse formato simplesmente não se ajustou bem ao que eu precisava.

Outro problema do Odyssey também é a falta de oportunidades para customizações. Claro, ele usa Markdown, que permite pouquíssima formatações de texto em vista dos ganhos de padronização e facilidade de edição. Mas, mesmo assim, faltou um jeito de poder editar o tamanho da fonte e, principalmente, coisas como cores e tamanhos da caixa.

É claro que é possível fazer tudo isso se você instalar o Odyssey.js em seu servidor e mexer no código fonte, mas é um trabalho que, para se fazer sozinho junto a todas as outras coisas que o projeto requer (como analisar os dados, fazer o texto, preparar o CMS), simplesmente não vale a pena fazer.

Outra coisa chata é ficar acrescentando manualmente as coodernadas no Sandbox ou ficar caçando a posição no mapa do lugar que você quer marcar. Deveria ter um jeito mais fácil, ainda mais pra CartoDB, que já sua ferramenta homônima tão sensacional de mapas.

Dito tudo isso, eu recomendaria o Odyssey. É simples de usar, simples de "embedar" e certamente simples de entender. Se você tiver paciência e quiser uma ferramenta para fazer uma visualização simples de dados envolvendo mapas, é uma boa escolha. Só faltou mesmo o suporte responsivo para mobile.

Para o segundo mapa, eu não quis utilizar o Odyssey. Fui para uma ferramenta que considero infalível na hora de fazer mapas e outras visualizações, que é o Tableau Public.

Claro, poderia ter utilizado o CartoDB, como fiz para meus mapas no projeto das bicicletas roubadas. Geralmente seria minha escolha. É um serviço que gosto muito, mas o Tableau é bom o suficiente para o que eu queria e eu precisaria fazer antes uma limpeza nas minhas tabelas CSV para o CartoDB conseguir achar a geolocalização das cidades que eu tratei. O Tableau acheu bem mais facilmente com o que eu tinha na hora.

Por fim, o gráfico comparativo sobre o Mapa da Violência e a lista da CCSP foi feito no próprio Tableau também.

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Sérgio Spagnuolo
Volt Data Lab

Jornalista, editor e fundador da agência de jornalismo Volt Data Lab (www.voltdata.info). Coordenador do Atlas da Notícia, uma iniciativa sobre jornalismo local