Passo a passo da reportagem sobre as pedaladas de FHC a Dilma
Há alguns dias eu vi num grupo de Facebook um gif que aparentemente mostrava as pedaladas fiscais praticadas pelos governos Dilma e Lula, e alguma coisa também de FHC.
Ignorei o fato de esse gif ter uma exagerada linguagem anti-governista, mas era difícil ignorar também que carecia de informações essenciais para que qualquer gráfico funcione bem — como cabeçalho, legenda e fonte clara. Não duvidei das informações nele apresentadas, porque eu desconhecia de onde vinham, mas fiquei confuso em como aquele gráfico apresentava as informações de forma pouco clara e elucidativa.
Como editor da agência de jornalismo de dados Volt Data Lab, contatei nossos parceiros do Aos Fatos para averiguar, inicialmente, a veracidade daquilo, porque me parecia informação relevante — e, claro, saber quais eram os números por trás do gráfico.
Depois de fuçarmos bastante fazendo buscas na Internet, encontramos um denso documento do Tribunal de Contas da União (TCU) — mais de 800 páginas — e achamos um gráfico idêntico na página 614.
Ou seja, o gráfico por trás daquele gif politicamente motivado tinha um fundamento: veio de uma fonte pública oficial, o TCU — o qual declarou na peça: "a soma dos saldos dos benefícios na última década mostra a assimetria verificada a partir do segundo semestre de 2013, que se intensifica consideravelmente ao longo do exercício de 2014."
Fazia sentido.
(OBS: Não creio que o autor do gif, por mim desconhecido, tenha achado a imagem naquele relatório — mais provável que o tenha descoberto no site do Contas Abertas, que reproduziu a imagem estática.)
Mas, ainda que aquele gif tivesse fundamento em dados utilizados pelo TCU, os próprios dados eram um mistério. Do que tratavam? Qual era a base?
Descobrimos que se tratavam de dados da Caixa Econômica Federal, mas ainda havia dúvidas. Primeiramente, a fonte referida no relatório era literalmente "Ofício 0014/2015/DEFAB, de 17/9/2015 (peças 251 e 252)", o que, para praticamente todo mundo que não é funcionário da Caixa ou analista do TCU, não significa nada.
Em segundo lugar, o relatório tampouco oferecia tabelas mostrando os dados utilizados, nem referência clara de como foram levantados.
O Aos Fatos, então, entrou em contato com a assessoria de imprensa do TCU, que nos enviou os seguintes documentos: um ofício da Caixa Econômica em resposta a solicitação do TCU, e uma gigantesca tabela em formato PDF com os dados utilizados no relatório.
As tabelas nos interessaram mais. Ao longo de 170 páginas, o arquivo mostra saldos diários da conta da Caixa sobre repasses destinados para Seguro Desemprego, Abono Salarial e Bolsa Família.
O que nos interessou mesmo estava a partir da página 156: os saldos relativos ao último dia do mês.
Utilizando a ferramenta Tabula, "raspamos" essas tabelas e as transportamos para uma planilha normal, que pudesse ser organizada por nós, a fim de tirarmos sentido daquela numeralha. Os dados podem ser encontrados em formato CSV neste link.
A partir daí, chegamos ao saldo no fim de mês da Caixa sobre cada um dos três programas sociais analisados, e fizemos uma conta básica de soma para saber quais os meses em que houve saldo positivo conjunto e em quais houve saldo negativo (as pedaladas).
Depois, filtramos os saldos negativos e notamos as datas para saber quais os presidentes em exercício em dado período em que as pedaladas ocorreram.
Para visualizar os dados, utilizamos a biblioteca Morris.js, que possui funcionalidades bastante maleáveis de notação, especialmente para marcarmos eventos específicos (como a data de cada pedalada).
A vantagem da nossa visualização foi, além de notar precisamente as pedaladas, cobrir um período maior, desde 1994, enquanto a visualização original do TCU cobria apenas a partir de 2004.
Os gráficos interativos você pode checar aqui e aqui.
Por fim, vale notar que o Volt/Aos Fatos não se baseou em qualquer pauta política, seja do governo ou da oposição. Nós apenas contamos o total de pedaladas e somamos seus valores.