Qual o perfil dos jovens interessados em jornalismo de dados no Brasil?

Mais de 350 candidatos mostraram interesse no programa de bolsas do Volt Data Lab, grande maioria mulheres. Falta de proficiência em programação ainda pesa na área.

Renata Hirota
Volt Data Lab
4 min readOct 4, 2017

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Por Renata Hirota* — Twitter @renata_mh

Se 2015 foi considerado o “ano do jornalismo de dados no Brasil” pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, dois anos depois, a área, com crescimento tanto em em grandes redações quanto em iniciativas independentes — inclusive com a premiação de uma reportagem do Estadão Dados com o Prêmio Esso de Jornalismo — , continua a atrair profissionais.

O expressivo número de candidatos ao programa de bolsas do Volt Data Lab — 357 pessoas de 23 Estados e mais de 100 cidades — comprova o crescente interesse de jovens jornalistas, em sua maioria estudantes e recém-graduados, compondo mais de 77% dos inscritos, em atuar na na área jornalismo de dados. O objetivo do programa é fomentar a experiência nesse campo através da prática e do estudo da programação.

Quase todo o Brasil representado. Faltaram apenas candidatos de SE, MS, RO e RR.

Apesar disso, sinto que há uma defasagem no que a área demanda de um jornalista de dados e a formação nos cursos de jornalismo. Na Universidade de São Paulo, por exemplo, o curso em geral passa longe do perfil científico, dando prioridade para uma formação humanista — necessária, claro, mas sem o contraponto de raciocínio lógico geralmente reservado às ciências exatas e biológicas.

A carência de formação específica também se nota clara na análise dos dados dos candidatos ao programa de bolsas. Embora seja uma área em que linguagens de programação são frequentemente utilizadas, notamos que apenas 12,3% dos candidatos possuem algum conhecimento ao menos básico de linguagens como Python, Javascript, Ruby, SQL e HTML/CSS. Se considerarmos noções um pouco mais aprofundadas, somente 7 pessoas (2% do total dos candidatos) possuíam, no mínimo, bons, mas ainda limitados, conhecimentos de programação.

Por outro lado, 35 pessoas (10% do total de inscritos), das quais 29 são jornalistas ou estudantes de jornalismo, afirmaram que não haviam nem sequer ouvido falar das linguagens citadas.

Nesse contexto, buscar fontes alternativas de formação se torna cada vez mais importante para jornalistas em um mercado altamente competitivo.

Outro fato que se destaca no perfil dos inscritos do processo do Volt foi a presença majoritária de mulheres. Houve mais que o dobro de candidatas (67,8%) em relação aos homens (32,2%), em uma área que é predominantemente masculina.

Segundo a International Women’s Media Foundation (IWMF), as mulheres representam apenas um terço dos jornalistas no mundo. No Brasil, onde a instituição pesquisou 12 redações de jornais e 3 empresas de televisão, esse número aumenta para 40% — ainda bem longe da proporção que vimos no processo seletivo do Volt, com 242 mulheres para apenas 115 homens.

*Renata Hirota é jornalista e bolsista do Volt Data Lab, e atualmente estuda Estatística na Universidade de São Paulo. Já viveu na Espanha, Portugal e EUA, escrevendo para agências de notícias e revistas de viagem.

**Como regra, o Volt adota políticas de dados abertos. Neste caso específico, para resguardar a privacidade dos candidatos, não divulgaremos as tabelas completas com os dados desta matéria.

Veja abaixo os gráficos sobre a proficiência dos candidatos com certas linguagens de programação:

Linguagem mais popular para ciência de dados
Linguagem full stack, difícil de achar candidatos proficientes
Candidatos consideraram conhecer JavaScript mais do que outras linguagens
SQL, necessária para jornalismo de dados, ainda carece de bons candidatos
Github é uma ferramenta fundamental para trabalhar com programação

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Renata Hirota
Volt Data Lab

Jornalista e quase estatística. Trabalho com dados no Volt Data Lab.