Nóias são sorrateiras. Vivem sozinhas ou acompanhadas e podem ter o tamanho de uma azeitona ou não caberem num estádio. Tem nóia que dura segundos, enquanto outras… bem, não vão embora tão cedo. Algumas pessoas exibem as nóias com certo orgulho de criadores, enquanto outros deixam elas bem escondidas dos olhares indesejados.
A realidade, porém, é que todos tivemos (e temos) algumas delas se esgueirando em nossa jaula particular e mesmo que a gente ignore, elas continuam por ali sibilando e tentando se alimentar com nosso sono por alguns dias ou semanas. Tem nóia que é tão comum que parece que dividimos a guarda delas, e de tão banais, nem damos o valor que elas precisam. Algumas são até emprestadas de outras pessoas, que de tão sufocadas precisam compartilhar nóias para se sentirem um pouco mais leves.
Algumas são até incentivadas. Como a nóia do sucesso que parece até nos motivar ao cobrar um LinkedIn atualizado com os cursos da moda, mesmo que você pouco aprenda efetivamente com eles, uma trajetória profissional que sufoque a rotina (ao custo de alguns remédios controlados depois) e que seu nome seja referência no mercado antes dos 30. É a nóia que te incomoda querendo mudar de emprego, mesmo que esteja tudo bem, só para não parecer “acomodado” ou dar a impressão de que você não tem ambição profissional.
A nóia social também parece inofensiva e até benéfica no primeiro momento, mas é responsável por te fazer sentir mal ao ver o colega celebrando o aniversário do filho enquanto você ainda nem saiu da casa dos pais. É aquela que exige que você pareça confiante 100% do tempo e ainda tenha visto todos os filmes indicados ao Oscar, tenha uma opinião bem formada sobre a crise política, seja um exemplo de autocontrole, não faça nenhum comentário ofensivo e ainda tenha uma rotina saudável com o físico em dia, de preferência vegano, para poder julgar as outras pessoas livremente.
No campo dos relacionamentos, a nóia da insegurança é uma das mais mortíferas, mesmo que por muitos seja celebrada como elemento de “intensidade”. Ela sussurra que o tempo do companheiro em responder a mensagem é um forte indício de que ele está perdendo o interesse ou que aquela noite quando ele pareceu mais quietinho é o sinal claro de que há algo errado entre vocês… Será que estamos construindo um relacionamento sério ou será “thank you, next!” no próximo obstáculo? - a nóia te questiona a cada oportunidade.
Sim, existem MUITAS
É fácil alimentar as nóias e deixá-las tão grandes que engolem até os momentos que deveriam ser de celebração. Sem o devido cuidado, deixamos que elas avancem e dominem o espaço com suposições, comparações e ataques. Especialmente em uma realidade tão conectada, quantas vezes deixamos de festejar as conquistas, momentos ou a presença de alguém por nos preocuparmos, justamente, com outras pessoas e com situações que nem temos o controle? Assim, perdemos o fim de semana pensando na próxima segunda-feira, deixamos a semana de lado pensando quando teremos “aquela oportunidade”, não estamos felizes de passar o fim de semana em casa enquanto fulano posta fotos do Caribe e quando percebemos estamos no fim do ano fazendo planos para o futuro, mesmo sem ter mudado nossa rotina hoje.
Estar beirando os 30 faz com que algumas nóias que estavam quietas fiquem bem irritadiças, já que além de se comparar com os outros você começa a se comparar com a versão mais jovem e questionar algumas escolhas. Você avalia todos os sonhos que tinha antes e vê como alguns deles ainda parecem tão distantes. Algumas vezes, elas conseguem te envenenar e fazer sentir que só perdeu tempo, que fez escolhas erradas, que gastou energia em pessoas e planos que não mereciam… “ACORDA, VOCÊ NÃO VAI MAIS SAIR DESSE CICLO!”, dizem. Algumas vezes, sibilam tão alto que fica difícil lembrar o tanto de coisa boa que aconteceu, quantas vivências você teve nesses anos, as pessoas maravilhosas que te cercam e como você tem privilégios.
Não alimentá-las e deixar que elas sigam rastejando sem nenhum afago exige cautela constante!
Cada pessoa tem sua trajetória e comparar vivências, valores ou usar o Instagram como parâmetro de felicidade alheia é um caminho sem volta para que você perca o controle da situação e deixe que elas escapem.
O truque, até o momento, é não ignorar que as nóias estão por ali. Algumas vezes até deixar que elas apareçam com mais intensidade, mas com a disciplina de não deixar que elas saiam da jaula e façam um banquete com a sua cabeça. É um esforço diário de domá-las e mostrar que elas não vão circular livremente.
É colocar, todos os dias, para fora da jaula um aviso: “favor não alimentar as nóias” e respeitá-lo.
