Benção de todos os Santos

Andressa De Carli
Voz e Vez
Published in
3 min readMay 25, 2016

Dona Olímpia: uma vida dedicada às orações

Na porta de casa, Dona Olímpia já demonstra ser católica de cruz na testa.

O benzimento é apenas um detalhe diante de tantas histórias que Dona Olímpia Brocco tem para contar. Com 91 anos, a rezadeira já passou por muitas coisas, e conta tudo com lucidez e muitos detalhes, até mesmo quando relata suas lembranças da infância. E foi lá, na infância, que o interesse pela reza e pelo benzimento surgiu. Sempre curiosa, aos nove anos adquiriu um cobreiro e precisou ser benzida. O responsável pelo benzimento era um senhor que segundo ela era surdo. Naquele momento, ela ficou atenta ao que era feito e foi se envolvendo cada vez mais com as orações.

Esse livro a acompanha em todo benzimento.

Católica de cruz na testa, como ela mesma diz, conta como foi importante conseguir fazer a primeira comunhão, mesmo com as barreiras que quase a impediram. Na época, já estava grávida, no fim da gestação, e a possibilidade de o neném nascer nos dias próximos à cerimônia era grande, mas no fim deu tudo certo.

Já são 64 anos de reza por aqueles que a procuram quando estão passando por algum problema ou situação de que não sabem o melhor caminho para resolver. O benzimento mesmo é feito, principalmente, para as crianças, em casos de susto, lombriga, cobreiro e quebrante. Já para os adultos, ela tem sempre um bom conselho e uma oração para cada tipo de problema. Por exemplo, para doenças contagiosas, as orações são feitas para São Roque. Para ter providência, o Santo é São Caetano. Já Santa Veneranda é a mais indicada para problemas com a vida passada. Ela explica que muita gente carrega este tipo de angústia quando um ente querido partiu sem que fosse perdoada alguma desavença, então o melhor é encomendar uma missa em intenção a esta santa.

É fato que hoje em dia o preconceito rodeia muito as religiões, e quando se trata da tradição do benzimento mais ainda. Tem muita gente que não acredita, que acha que não é algo do bem, mas Dona Olímpia não liga para este tipo de comentário e continua sua missão.

Ela surpreende a cada parte das histórias que conta, desde as lembranças detalhadas de anos atrás, às expressões marcantes e uma pitadinha de humor. Dona Olímpia gosta é de falar, e quando você acha que está acabando, lá vem outra surpresa. Ela sabe rezar em latim, uma oração que foi passada de geração para geração em sua família. Porém, até um tempo atrás, não sabia o significado de algumas partes dessa reza. Foi quando um padre da Igreja Ucraniana de Cascavel lhe explicou parte a parte.

A maioria das pessoas que procuram a Dona Olímpia estão passando por algum problema familiar e é aí que ela se mostra mais feliz ainda em ajudar. Ela valoriza muito a família, o amor entre os parentes e acredita que nenhuma desavença pode acabar com esse laço. Essa valorização cresceu quando seu pai faleceu no Rio Grande do Sul e ela não pôde ir ao velório. “Pobre igual rato de igreja, como eu ia?”, diz. Por isso é importante procurar ajuda para resolver, rezar e acreditar. E é isso que ela procura fazer, rezar para que famílias não se percam.

Dona Olímpia com seu bisneto.

Fotos por: Roberta Petrosk

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