Em busca da limpeza social

Renan Wrubleski
Voz e Vez
Published in
3 min readMay 25, 2016

Sorriso faz parte da rotina, o reconhecimento não

Durante os intervalos da rotina de trabalho os amigos se juntam para conversar.

Todos os dias, garis limpam a cidade, e mesmo sem a devida atenção, esses cidadãos são os responsáveis por respirarmos um ar sem cheiro ruim ou andar pelas ruas sem tropeçar em resíduos.

José Machado Gonçalves e Claudinei do Nascimento são dois desses cidadãos que, apesar de pouco tempo na profissão, 8 e 6 meses, respectivamente, já sofrem com o preconceito da sociedade. Os trabalhadores relatam que diariamente sofrem agressões verbais de moradores. “As pessoas xingam e reclamam do que fazemos, mas sempre fazemos o nosso melhor”, diz Claudinei.

Com uma rotina nada fácil e arriscada, estão sempre correndo para coletar o máximo de lixo possível e enfrentando os perigos guardados nas sacolas, como cacos de vidro e objetos pontiagudos jogados sem a devida atenção. Umberto Dos Santos diz que passou uma semana internado no hospital. “Recolhi uma sacola que tinha um prego mal embalado. Cortei a mão, o corte infeccionou e tive que ficar internado”. Já Gilmar Correa, parceiro de trabalho de Umberto, ressalta a história do Seu Zé, atropelado por uma senhora que fugiu do local sem prestar socorro. Além disso, Gilmar ainda cita outro colega que se cortou durante o trabalho e levou 10 pontos no antebraço.

Apesar da árdua rotina, Umberto mantém o senso de humor.

Mesmo vestidos de laranja fluorescente, os coletores de lixo podem passar despercebidos pela maioria das pessoas, mas são muito visados por cachorros de rua ou que saem por portões abertos deixados pelos descuidos de seus donos. Gesiel Júnior conta como foi o último ataque que ele sofreu por um rottweiler. “Eu tive sorte. O dono do cachorro deixou o portão aberto e o rottweiler correu atrás de mim. Quando ele me alcançou fui mordido, mas pegou só no meião”, conta com sorriso no rosto.

O sorriso no rosto é a autoestima de quem lutou uma vida inteira.

Mais do que cicatrizes no corpo, essas pessoas sofrem com marcas na autoestima e no orgulho, pois, mesmo pedindo mais cuidado por parte dos moradores, ainda precisam lidar com reclamações e com a indiferença.

Esses homens, ao falar sobre seus sonhos, respondem com sorrisos esperançosos e, sem hesitar, elegem a casa própria e o carro como principais metas a serem alcançadas, porque eles têm como principal objetivo ter algo para chamar de seu. E sempre ao fim de cada dia de trabalho vão para casa descansar e tirar o uniforme para se sentirem notados, antes que o sossego termine e voltem à rotina do lixo.

Fotos por: Andressa De Carli

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