Olhares do coração

Roberta Petrosk
Voz e Vez
Published in
3 min readMay 31, 2016

“Meus olhos são minha filha”

A menina dos olhos.

Em um bairro simples da cidade de Cascavel, talvez passando despercebidos por muitos, moram Valmir da Costa (40) e sua filha Marieli, de 4 anos. Os dois vivem uma realidade comum nos dias atuais de pais que se separam e de uma criança em meio a essa situação.

O que não é tão comum assim é o fato de Valmir ser deficiente visual desde que nasceu e criar sua filha sem assistência alguma da mãe. “A mãe dela é uma prostituta, depois que saiu aqui de casa não parou mais com homem nenhum, já teve uma filha que não sabe nem quem é o pai e agora já está grávida de novo”, afirma Valmir. Ele tem a guarda da menina na justiça, e a mãe, que atualmente mora em São Paulo, tem o direito de visitar Marieli a cada 15 dias, mas isso já não acontece há muito tempo.

Na vida de Valmir o drama não tem vez.

Os dois moram em uma casinha no fundo de um terreno, com quarto, sala, cozinha e banheiro. Entre os brinquedos e desenhos da Marieli, estão também os perfumes, produtos cosméticos e catálogos de venda que Valmir usa para ajudar na renda mensal dos dois, junto com o benefício que recebe. Ele conta que vende para as professoras da escolinha da filha, para amigos da Acadevi (Associação Cascavelense de Pessoas com Deficiência Visual) da qual participa e, às vezes, até para pessoas, principalmente mulheres, que ele encontra no ponto de lotação e que se interessam em olhar os produtos quando comenta que vende cosméticos.

A simplicidade no espaço de lazer da família.

No Brasil, segundo os dados do Censo 2010, havia 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9% da população. O maior percentual foi encontrado na Região Nordeste (26,6%), enquanto que a Sul e a Centro-Oeste mostraram as menores proporções (22,5%). A deficiência visual foi a mais frequente, atingindo 35,8 milhões de brasileiros.

Apesar de Valmir estar sempre andando pelas redondezas, quando procurado para esta entrevista, muitos moradores do bairro não sabiam que ele era pai solteiro. Quem não conta com a visão é ele, mas quem deixa de olhar para tanta coisa no dia a dia é a sociedade. Valmir não relata grandes dificuldades, não deixa que a conversa se bandeie para o drama, se mostra uma pessoa bem resolvida e que sabe lidar com os obstáculos do caminho.

“Meus olhos são a minha filha. Não só os meus olhos, mas se tudo dá certo na nossa vida a dois é porque ela é uma criança maravilhosa”, diz o pai, emocionado. De fato, Marieli com apenas quatro anos já se adaptou às necessidades do pai. Uma criança doce, de olhos arregalados e que entre as brincadeiras com ursos, bonecas e a bicicleta já tem responsabilidades de gente grande.

Apesar da pouca idade, Marieli já se arruma sozinha.

A relação de pai e filha é encantadora, a cumplicidade e os gestos de ternura são evidentes. Um ajuda o outro, Valmir com suas limitações e Marieli com sua inocência de criança, uma família feliz e com muito amor, apesar de todos os obstáculos.

A união está presente em todos os momentos.

Fotos por: Roberta Petrosk

--

--