Negros no mercado de trabalho, iniciativas de fomento ao afroempreendedorismo e dicas de conteúdo para pensar as relações trabalhistas #9

Jeferson Batista
Vozes Pela Diversidade
5 min readApr 30, 2020
Imagem: nappy

Frase da Semana

“A maior parte dos empreendedores são pobres e são negros e atuam na informalidade e em setores de baixo valor agregado, são pessoas que desempenham atividades autônomas e precisam de apoio para enfrentar as barreiras sociais e prosperar com seus negócios”

Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta eleita uma das 51 pessoas negras mais influentes do mundo

Negros no mercado de trabalho e iniciativas de fomento ao afroempreendedorismo

Amanhã, primeiro de maio, celebramos o Dia da Trabalhadora e do Trabalhador. Aproveitamos a data para falar de uma luta história do movimento negro brasileiro: a inserção das pessoas negras no mercado de trabalho e o combate ao racismo empresarial.

E sempre vale relembrar as estatísticas. Embora representem a maior parte da população (55,8%) e da força de trabalho brasileira (54,9%), apenas 29,9% das pessoas negras ocupam cargos de gerência, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018, realizada peIo IBGE.

Os números apontam também que o rendimento médio mensal da pessoa ocupada preta ou parda gira em torno dos R$1.608 contra os R$2.796 das pessoas brancas.

O trabalho informal é outra realidade da população negra: enquanto 34,6% das pessoas ocupadas brancas estavam em ocupações informais, entre pessoas pretas e pardas o percentual atingiu 47,3%.

No mercado de trabalho, o homem branco tem muita vantagem quando comparado com outros segmentos da população, mostra o IBGE. As mulheres negras, por sua vez, recebem menos da metade do que os homens brancos. Os homens pretos ou pardos possuem rendimentos superiores somente aos das mulheres da mesma cor.

É possível mudar esse cenário? Como oferecer à população negra condições dignas de trabalho e renda? Quais os caminhos que as empreendedoras e para os empreendedores negros devem seguir para viver daquilo que fazem?

Vale ressaltar que a busca pelo empreendedorismo nem sempre é uma vocação, mas uma necessidade. Dos 14 milhões de empreendedores brasileiros que se declaram negros, 35% empreendem por vocação (sempre quiseram empreender), 34% por necessidade, 22% por engajamento e 9% apresentam perfil misto. Entre as pessoas que empreendem por necessidade, 46% abriram um negócio próprio por falta de emprego, apontou o Estudo do Empreendedorismo Negro no Brasil.

O empreendedorismo negro, ou afroempreendedorismo, tem sido uma opção para muitas pessoas. Mas como empreender com condições dignas e com acesso aos serviços necessários para um negócio prosperar?

Eleita em 2019 como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes e uma das 100 afrodescendentes mais influentes do mundo, segundo a ONU, Nina Silva é fundadora do movimento Black Money, plataforma que visa empoderar o povo preto por meio de uma economia mais forte e sustentável.

Silva lançou agora o Mercado Black Money, marketplace que permite a conexão entre empreendedores e consumidores negros. E o mercado, segundo Back Money é grande: 51% dos empreendedores brasileiros são negros, segmento da população que movimenta 1.73 trilhão de reais na economia do país.

As pessoas negras que optam por empreender enfrentam mais dificuldades que as brancas. Na hora de buscar crédito, por exemplo, 32% dos empreendedores negros já tiveram crédito negado sem explicação.

O empreendedor Sergio All faz parte deste número e, após ter crédito negado, criou a Conta Black, o primeiro banco digital liderado por negros entre as mais de 500 fintechs que atuam no Brasil.

A consultoria Indique Uma Preta é outro exemplo de iniciativa no meio empresarial. Criada pelas amigas Amanda Abreu, Daniele Mattos e Verônica Dudiman, oferece cursos de capacitação profissional a mulheres negras e as conecta a empresas com vagas abertas. O objetivo é colocar mulheres pretas em todos os tipos de cargos.

Em Salvador, o Vale do Dendê é uma holding social destinada a fomentar ecossistemas de inovação e criatividade com foco em diversidade. Empreendedores negros baianos podem buscar apoio, consultoria e outras serviços.

A Feira Preta, criada há 18 anos por Adriana Barbosa, é o maior evento de fomento ao afroempreendedorismo da América Latina. Na última edição, em São Paulo, 40 mil pessoas passaram pelo evento, que contou com 170 empreendedores brasileiros, além de Gana e Senegal.

Para ler, ouvir e assistir

Nossa curadoria selecionou dois documentários e um livro que abordam a temática do trabalho. Veja:

GIG: A Uberização do Trabalho, documentário produzido pela ONG Repórter Brasil, com a direção de Carlos Juliano Barros, Caue Angeli e Maurício Monteiro Filho, reflete sobre a “Gig Economy”, ou “uberização”, como o fenômeno é conhecido no Brasil. O filme mostra os impactos da precarização do trabalho nas vidas e na sociedade.

Vidas Entregues, curta-metragem acompanha entregadores de aplicativos de comida que trabalham de bicicleta, mostrando, como o filme anterior, a precarização das condições de trabalho, baixíssimos salários (ganhos), ausência de direitos trabalhistas e sociais. A direção é de Renato Prata Biar.

Escravidão Contemporânea, organizado por Leonardo Sakamoto. O livro reúne grandes especialistas nacionais e estrangeiros que mostram o que é o trabalho escravo contemporâneo, sua história recente, como ele se insere no Brasil e no mundo, o que tem sido feito para erradicá-lo, e por que tem sido tão difícil combatê-lo.

Para participar

Aretuza Lovi, Matheus Carrilho, Pabllo Vittar, Pepita e Urias se reúnem hoje, às 21h, para o Festival Orgulho Live. O evento musical LGBT+ busca arrecadar doações para as instituições Casa Florescer, Grupo Pela Vidda e Projeto Séfora’s, Família Stronger e ONG Arco-Íris. A transmissão será pelo canal da Pabllo Vittar no Youtube.

Entre os dias 11 de maio e 23 de junho, o Itaú Cultural oferece o curso on-line Dramaturgia Negra: a Palavra Viva. Gratuitos e realizados a distância, os encontros e exercícios propostos pela ação pensam a dramaturgia negra de forma ampla, multicultural, considerando influências que vão do teatro grego às heranças indígenas.

Vozes Pela Ciência

Observatório do CEMI — COVID 19: continuamos com os relatos que mostram os impactos da pandemia do novo coronavírus pelo mundo. A partir de agora, você pode ler os textos no site do Centro de Estudos de Migrações Internacionais da Unicamp.

Observatório nº 16: Covid-19: Entre o cepticismo e a esperança (Leonel Matusse Jr.)

Observatório nº 17: Quando o vírus ataca a ideologia nas barbas do regime (B. Samad ,pseudônimo)

Observatório nº 18: Amarrar o mundo numa nsinga: por outras direções do humanitarismo (Rosa Vieira)

Observatório nº 19: Uma outra epidemia na China! (Mónica Chan)

Observatório nº 20: Five Vice-Presidents, four ventilators: South Sudan, Ebola and COVID-19 (Ferenc David Marko)

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