Murica reafirma a essência brasileira em “Sede”

Lançado em julho desse ano, o disco “Sede”, de Murica, MC do Distrito Federal, soa como um grito pelo próprio estilo, para resgatar e escancarar uma auto estima individual e necessária. É quando ele fala sobre grana — não sobre ostentá-la, mas sobre ter as contas pagas, comida na mesa, e de quebra um ‘boot’ novo — e sobre ser humano .

Sede é um disco essencialmente brasileiro, de espírito tropical. Em outras oportunidades, o MC já deixou claro que não “copia gringo” e, quando faz referências que vão de Racionais à Clarice Lispector, mostra com excelência a forte ligação da cultura brasileira ao bom rap — e é aí que a gente pega a visão quando ele diz que “sabe a história do Braza só pelas capas dos discos”.

A sua forma de se expressar é muito direta, tanto ao dizer o que anseia conquistar quanto ao mostrar o seu lado mais íntimo, sensível e espiritual. Fala sobre evolução e sobre fazer por merecer, colher nem mais e nem menos do que aquilo que tem plantado. O dinheiro é um elemento que aparece várias vezes no disco, não pra tirar onda, mas num sentido muito mais humano de compreendê-lo; “fazer o do aluguel e ainda sobrar pro restaurante, não mais pagar a água, agora ser dono do fonte — ou melhor, ser a fonte” — é nessa pegada que Murica vai atrás do que é seu.

As faixas finais traduzem com maior clareza a alma do disco. É quando, depois da tempestade, o mar calmo se faz presente. A construção instrumental incrível produzida por MK cria o ambiente ideal pra Murica mesclar o Underground que o consagrou ao seu eu romântico e ao seu eu coletivo (retratado aqui pela Rataria e a banca da qual faz parte: Puro Suco).

É um disco intuitivo, rico e voraz — é a Sede de Murica.

Por Victor Amâncio

Texto publicado no Jornal de Brasília “https://jornaldebrasilia.com.br/entretenimento/murica-reafirma-a-essencia-brasileira-em-novo-videoclipe/”