Uma nova onda antifascista: 3 breves considerações

Não é necessariamente “bom” ou “mau” que muitas pessoas se reconheçam enquanto antifas. Será bom ou ruim de acordo com o que faremos com isso.

Pablo Pamplona
vulgar
2 min readJun 1, 2020

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A respeito da disseminação do termo e da imagem “antifa” entre a esquerda brasileira:

  1. É real que existe um processo de cooptação e pacificação da história do movimento antifascista. Há um risco de que ele perca seu horizonte prático e vire uma hashtag, mas não adianta espernear contra. O passado “glorioso” do movimento antifa não é mais importante que o seu futuro. Só nos resta aproveitar o momento pra fazer propaganda sobre o significado real do símbolo.
  2. É ingênuo esperar que essas pessoas que descobriram o antifascismo agora vão buscar informação a respeito. É ingênuo acreditar que os ideais anarquistas e libertários do antifascismo vão crescer com essa nova onda. A conscientização e radicalização dessa nova onda depende dos quadros e das organizações da esquerda radical.
  3. Não é o momento apenas de resgatar a verdadeira história do movimento antifa. É esse momento também, mas é sobretudo um momento para renovação e elaboração de novas estratégias. Para crescer enquanto prática e movimento, ação antifascista não pode significar apenas “dar soco em nazi”. O ataque às pessoas nunca será suficiente porque o fascismo é muito mais do que pessoas. É preciso expandir o horizonte prático da ação antifascista.

Dois exemplos:

  • É importante lembrar que o fascismo tem gênero e tem cor. Logo, podemos pensar a educação de gênero — ou, por exemplo, as rodas de conversa e conscientização entre homens para discutir masculinidades — enquanto ação antifascista? O fascismo é movido na base do medo e do ódio às diferenças. Ações de respeito à diferença são ações antifascistas por excelência.
  • É importante lembrar que o fascismo opera com um apagamento da memória. Recuperar a memória coletiva das lutas populares pode nos ajudar a mostrar que os direitos que temos hoje não brotaram do nada — significa destacar que esses direitos são fruto das lutas e da solidariedade do povo organizado. Logo, podemos pensar o trabalho com memória enquanto ação antifascista?

O antifascismo não deve atuar apenas de forma reativa; ele pode atuar também de forma preventiva.

Pode ser que o Brasil veja aflorar uma nova onda antifascista. Atuemos para que ele seja amplo, popular e duradouro.

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Pablo Pamplona
vulgar
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Mestre e doutorando em Psicologia Social pela USP. Pesquisa a memória de lutas sociais.