Coronavírus e a interrupção do “progresso” histórico

Pablo Pamplona
vulgar
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2 min readMar 18, 2020

Na imagem abaixo, a tese 9 do texto “Sobre o conceito de história” de Walter Benjamin.

Nesse texto o Benjamin faz uma crítica à forma como compreendemos a história: de uma forma linear e cumulativa, como se ela caminhasse como uma flecha no sentido do “progresso” humano. O texto foi escrito em 1940, quando o mundo assistia a barbárie nazista na Alemanha, um dos países mais “modernos” e “civilizados” do Ocidente.

Nessa tese 9, o anjo da história assiste, à sua frente, todas as ruínas e todos os mortos acumulados ao longo da história. Ele “gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos”, mas é impedido pelo progresso, que o arrasta pelas costas em direção a um futuro desconhecido.

Depois, na tese 15: “A consciência de fazer explodir o continuum da história é própria às classes revolucionárias no momento da ação”. O ato revolucionário é aquele que interrompe a tempestade, interrompe o ritmo industrial capitalista, instaurando uma nova forma de encarar e lidar com o tempo.

O coronavírus, no meio de toda a sua tragédia, oferece essa oportunidade.

O capitalismo está forçado a reduzir drasticamente o seu ritmo de produção. Os efeitos disso são excelentes pro planeta, como já demonstrado, por exemplo, pela diminuição brusca da poluição atmosférica da China durante a quarentena. Mas essa diminuição não impedirá colapso ambiental nenhum se, passada a pandemia, o capital retornar ao seu modus operandi padrão (e a tendência é que isso ocorra). Os efeitos ambientais são efêmeros se não aproveitamos o momento pra produzir mudanças políticas e econômicas.

É preciso uma melhor compreensão e gestão do mundo e da sociedade. A única forma de conseguir isso é: parando tudo. Fazer explodir o continuum da história. E é terrível que a humanidade precise de uma pandemia pra isso, mas será ainda mais terrível se ela passar pela pandemia sem mudar em absoluto.

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Pablo Pamplona
vulgar
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Mestre e doutorando em Psicologia Social pela USP. Pesquisa a memória de lutas sociais.