Blonde — Frank Ocean

Hudson Araujo
vulgo H.A.S opina
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2 min readAug 12, 2021

Da série: Arte Negra Importa

Provavelmente nenhum outro álbum sintetiza tanto nossos tempos como Blonde, do cantor e compositor Frank Ocean. Eleito pela Pitchfork como álbum da década de 2010, a produção representa em distribuição, estética e letra algumas das principais marcas da década.

Lançado em 2016, em uma safra absurda de obras fonográficas importantes, o produto já se destacou pelo seu lançamento.

Depois do excelente Orange, o cantor tinha um contrato com a gravadora para mais um álbum. O artista usou esse contrato para um projeto experimental, intitulado Endless, lançado através de uma transmissão online. Dias depois, o cantor lançou o álbum “de verdade” pela própria marca pessoal. Esse foi um movimento revolucionário no mercado para se livrar da gravadora e trazer mais autonomia nos lançamentos.

Sobre a estética, também é possível dizer que esta é a obra musical mais influente da década. Apesar de Orange ter um dos sons mais originais do R&B dos últimos anos, é em Blonde que o artista elabora um som que seria amplamente recriado: harmonias flutuantes, instrumentação minimalista cheia de camadas, além da já comum marca do artista de misturar Rap, R&B, POP e Gospel, trazendo um som homogênea mesmo com as mesclas.

Sobre as letras, as composições variam entre relacionamento amorosos, temas de sexualidade e questões raciais, muitas das vezes com os temas se entrelaçando. Porém, se pudéssemos resumir o álbum, acredito que o tema que melhor define é: “relações descompromissadas que acabam significando alguma coisa”.

Todas as canções acabam voltando para isso, a fragilidade das relações contemporâneas e a nossa necessidade e falta de habilidade em manter esses relacionamentos, ou até relacionamentos que começam de forma casual e se transformam em algo mais. Uma geração que deseja o afeto e é incapaz de, ou não deseja, manter esse afeto de forma duradoura.

Certamente, Frank Ocean não é o primeiro a falar sobre isso, mas ele o faz de maneira primorosa, articulando forma e conteúdo para registrar nossos tempos líquidos.

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Hudson Araujo
vulgo H.A.S opina

Estudante de Letras, (inglês português), Redator, Escritor e outras coisas mais.