Donos da Rua — John Singleton
Da série: Arte Negra Importa
Envolvidos na cultura de gangues de Los Angeles, um grupo de amigos passam da adolescência para a vida adulta enquanto cada um segue seu próprio caminho.
Donos da rua é um clássico, não só do cinema negro americano mas do cinema dos anos 90. Ele é essencial para entender os filmes de gangue que se estabeleceram nos anos seguintes, criando praticamente um sub gênero.
Além disso, o diretor foi, depois de décadas da premiação, o primeiro diretor negro a ser indicado no Oscar como melhor diretor. O marco mostra não só a falta de oportunidades e reconhecimento de artistas negros como também a força e impacto que o filme teve.
Uma das principais marcas do filme é a representação e o retrato da realidade de pessoas negras. A narrativa sempre se preocupa com o coletivo, gastando um tempo precioso mostrando ações do cotidiano ou até eventos que, olhando superficialmente, não teriam nenhuma relação com a narrativa principal.
Mas um olhar mais atento vai mostrar que o filme está comentando pobreza, violência e até o racismo de negros para com negros.
Um dos grandes temas do filme é a forma como a própria comunidade negra olha para si, como as pessoas que entram no crime e as que fogem dela tem uma relação complexa de culpa, pesar, raiva, e, ao mesmo tempo, respeito mútuo.
A narrativa segue estruturas muito fortes da tragédia. Diferente do senso comum, o que qualifica essa estrutura não é apenas algo dramático acontecendo (o que ocorre aqui) mas um personagem que, mesmo buscando fazer o bem por todos os meios, acaba falhando.
Em “Donos da Rua”, o homem negro que entra para o crime não é tratado com condescendência muito menos com aprovação, mas com a dignidade de um herói de tragédia grega. E isso tem uma força simbólica sem tamanhos.