Freudian — Daniel Ceaser

Hudson Araujo
vulgo H.A.S opina
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2 min readAug 12, 2021

Da série: Arte Negra Importa

Daniel Ceaser fez um barulho considerável desde seu primeiro álbum.

O Artista se destacou com o público com as canções mais românticas, como Best Part, com a cantora H.E.R. Mas é evidente que a paixão romântica despreocupada não é o principal foco do trabalho.

Os instrumentais do álbum é uma das coisas mais interessantes do R&B dos últimos anos. Em uma era em que o digital é praticamente obrigatório na sonoridade, o artista, junto com sua equipe, traz uma roupagem equilibrada: ao mesmo tempo que usa a instrumentação clássica do gênero, com um analógico presente, ele usa do digital para dar textura, dando singularidade para o projeto.

Além disso, o Gospel é fator predominante e incansável do álbum. Dos órgãos, aos vocais com coral em algumas das faixas, até aos trechos de música gospel americano que o artista parodia, de certa forma, usando frases e temas das canções que ele mostra conhecer muito bem, passando uma nova mescla do R&B e Gospel, semelhante ao que Ray Charles fez em meados dos anos 50.

As faixas, conscientemente ou não, parecem mostrar uma narrativa, do encantamento do relacionamento ao seu deterioramento progressivo, o que culmina na faixa final, cheia de neuroses e uma relação, aparentemente Edipiana, onde o eu lírico parece confundir a figura materna com o amor romântico.

O álbum não tem uma resolução emocional sobre o tema, a dor romântica e a confusão entre fé e amor é como uma ferida aberta ao final das faixas. Porém, a jornada não deixa de ser interessante, trazendo um som único, uma voz forte e, talvez, apontando para a divinização do amor romântico da nossa cultura atual.

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Hudson Araujo
vulgo H.A.S opina

Estudante de Letras, (inglês português), Redator, Escritor e outras coisas mais.