Richard Feyman foi um físico estadunidense e ganhador do prêmio Nobel em 1965. No último dia 11, ele completaria 100 anos de idade. Essa carta foi originalmente escrita por Feynman para sua falecida esposa, Arline Greenbaum, dezesseis meses após sua morte.
17 de Outubro, 1946.
D’Arline,
Eu te adoro, minha amada.
Sei o quanto você gosta de ouvir isso — mas eu não escrevo apenas porque você aprecia — escrevo porque te escrever aquece meu coração.
Faz tanto tempo desde a última vez que te escrevi — quase dois anos, mas sei que você irá me desculpar, pois sabe como eu sou, teimoso e realista; e pensava que não havia sentido em escrever.
Mas agora eu sei, minha querida esposa, que é certo fazer o que posterguei, o que deveria ter feito muito tempo atrás. Eu quero dizer que te amo. Quero te amar. Sempre vou te amar.
Na minha cabeça, acho difícil entender o que significa te amar depois de falecida — mas ainda quero te confortar e cuidar de você — e quero que você me ame e cuide de mim. Quero ter problemas para discutir com você — Quero realizar pequenos projetos com você. Até agora, nunca havia pensando que poderíamos fazê-lo. O que deveríamos fazer. Nós começamos a aprender a costurar juntos — ou a aprender chinês — ou comprar um projetor de filmes. Posso fazer algo agora? Não. Estou sozinho, sem você, e você era a “mulher ideal” e instigadora de todas as nossas grandes aventuras.
Quando você estava doente de preocupação por não poder me dar algo que queria e pensava que eu necessitava. Não precisava se preocupar. Assim como eu te disse, não havia necessidade porque eu te amava tanto e de tantas maneiras. E agora, claramente, é ainda mais verdade — você não pode me dar nada e ainda assim eu a amo de tal forma que você fica na frente do meu amor por qualquer outra pessoa — mas eu quero que você fique na frente. Você, morta, é muito melhor do que qualquer pessoa viva.
Eu sei que você vai me garantir que sou um tolo e que deveria ser inteiramente feliz, você não quer ficar no meu caminho. Aposto que está surpresa por eu nem ter uma namorada (a não ser por você, querida) depois de dois anos. Mas você não pode ajudar nisso, amada, nem mesmo eu — eu não entendo, pois encontrei muitas garotas gentis e não quero permanecer sozinho — mas em dois ou três encontros todas parecem virar cinzas. Você é a única que permanece. Você é real.
Minha querida esposa, eu realmente te adoro.
Eu amo minha esposa. Minha esposa está morta.
Rich.
P.S.: Por favor, me perdoe por não te enviar essa carta — mas eu não sei seu novo endereço.
Traduzido por Paulo André Silveira Jr. e Isabela Silva
