Por que sua empresa precisa de um laboratório maker, mas você (ainda) não sabe disso

Thiago Cerutti
Way2rocks
Published in
6 min readDec 12, 2019

Tudo começou em uma aula de Inglês. Nosso professor in-company, Jon, trouxe uma placa de desenvolvimento que ele havia comprado por curiosidade, e para que desbravássemos o dispositivo, discutindo em Inglês seu funcionamento e estudando sua documentação.

Placa BBC Micro:bit

A programação era feita toda em blocos, como mostra esse guia de iniciante, onde se arrasta e solta os “comandos” e preenche seus parâmetros, encadeando-os e assim formando sequências lógicas de ações baseado em gatilhos. Fácil assim.

Durante a aula conversávamos e Inglês para entender como a placa funcionava, o que poderíamos fazer, experimentando, errando, aprendendo. As vezes esquecíamos que estávamos falando Inglês, pois o objetivo maior era entender como a placa de desenvolvimento funcionava, e o Inglês fluía naturalmente como uma ferramenta para fazer aquilo acontecer. E é ai que os grandes mestres se diferenciam: eles fazem o aprendizado acontecer. Thanks Jon!

Era época de Black Friday de 2018. Fiquei encantado com a simplicidade e ao mesmo tempo com a infinidade de possibilidades que a BBC Micro:Bit nos havia proporcionado durante aquela aula. Resolvi que tinha que dar o próximo passo: comprei um kit com um Arduino, alguns sensores e alguns LEDs para aprender mais a respeito.

Kit Arduino iniciante da FilipeFlop

Ao abrir o kit achei muito bacana aquele monte de sensores e placas, mas ainda parecia rocket science pra mim. Até que se fez a luz (literalmente). Aquela sensação de vitória ao fazer um script que faz um LED piscar. Ou fazer um LED acender e apagar com o clique de um push button. Depois vieram as experiências com os servo motores, o entendimento de corrente, tensão e potência (que já abordamos nesse artigo aqui), a queima de LEDs 😆, o aprendizado de C++, linguagem de programação que se usa para programar o firmware do Arduino. Um admirável mundo novo! Aquele conhecimento não poderia ficar só comigo. Mais pessoas tinham que ter aquela mesma sensação “wow”!

Semanas depois, fizemos uma reunião interna para apresentar aquele mundo recém desbravado a todos da empresa que tivessem interesse. Aquelas pequenas vitórias. Aquele mundo novo de possibilidades. Sucesso: pessoas se encantaram com a possibilidade de colocar o código, que está no nosso DNA, pra fora da tela, e controlar o mundo físico com o nosso conhecimento do dia a dia. Naquela noite, depois do trabalho, vimos que poderíamos fazer mais com aquele conhecimento.

Projetos surgiram, morreram e ressurgiram transformados. Construímos nossa estação autônoma de recarga de celular com energia solar, que em um futuro próximo vai auxiliar na agricultura inteligente (spoiler alert!) 😄. Desenvolvemos um painel de LEDs 100% “no braço” que mostra a temperatura capturada pela nossa estação meteorológica do projeto Temperatura Aqui. Tentamos automatizar os ar-condicionados da empresa de acordo com a média de temperatura do ambiente, mas isso foi mais do que conseguíamos fazer na época com o conhecimento que tínhamos. Criamos o Smart Bambu da Cultura, que virou atração na empresa com uma proposta divertida, um projeto prazeroso para se trabalhar. E foi aí que as coisas começaram a mudar. Vimos que esse nosso lado maker estava se transformando em cultura, não mais em eventos isolados.

Esses projetos não se tornaram produto, não foram vendidos, não ganharam concursos de inovação, mas tiveram um efeito mais positivo do que o propósito pelo qual o projeto foi criado. Hoje chamamos esse espaço para pesquisa e desenvolvimento de ideias, das mais práticas às mais malucas, de Way2Labs. Nos encontramos um dia por semana logo depois do almoço para pensar em conjunto nessas soluções, dar boas risadas e aprender uns com os outros. Way2Labs virou sinônimo de “espaço para pensar fora da caixa”, e assim agregamos um pouco mais à cultura da Way2 Technology, que já é conhecida pela sua liberdade com responsabilidade.

Esse laboratório maker que se tornou o Way2Labs promoveu não somente o fomento de conhecimento, mas a cultura da união. Atualmente a Way2 conta com cerca de 80 colaboradores, e é normal que tenhamos mais contato com nosso time e que tenhamos menos contato com pessoas de alguns outros times. Dificilmente teríamos motivos para trabalhar em conjunto, a não ser se tivéssemos um projeto em comum 💡.

Ao trabalhar com pessoas diferentes temos que nos adaptar a essas diferenças, o que é incrivelmente positivo. Deixamos de nos apaixonar pela solução e passamos a nos apaixonar pelo problema.

Nosso projeto de Natal será construir um painel “Stranger Things” para enviarmos mensagens e exibirmos com o piscar de luzes de Natal. A intenção inicial do primeiro dia do projeto era analisar a viabilidade de usarmos bulbos de plástico coloridos e encaixar LEDs WS2811 endereçáveis dentro para conseguir o efeito esperado. A princípio tínhamos dois voluntários para a tarefa. Logo chegaram mais alguns poucos na sala de reunião, e em seguida mais alguns e mais outros. Em pouco tempo a sala estava cheia, e a definição de qual seria a melhor solução para o problema veio do grupo. Sim, coletivamente chegamos a uma solução que se tornou a mais adequada para o problema.

Nosso laboratório maker criou um ambiente que fez com que pensássemos coletivamente para resolver problemas. Que usássemos o nosso conhecimento para complementar o conhecimento alheio com foco em um objetivo em comum. Fez com que trabalhássemos com pessoas de outros setores da empresa e que desenvolvêssemos ainda mais esse espírito de equipe que está tão fortemente nas raízes da empresa. E o melhor de tudo, fez com que nos divertíssemos aprendendo.

Mesmo que sua empresa seja das mais formais, é impressionante os efeitos colaterais de espaços maker para fomentar essa criatividade na resolução de problemas. Talvez sua empresa precise de um laboratório maker, e agora você saiba disso 😉.

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