Blockchain além do hype: usando a tecnologia em prol da transparência
A ideia do blockchain, uma rede descentralizada e distribuída em que qualquer tipo de informação pode ser assegurada e validada por usuários anônimos ao redor do mundo, levanta suspiros de otimistas e desconfianças de céticos todos os dias. Mas, aos poucos, o hype fica para trás e podemos perceber que, entre grandes promessas e desprezos, o blockchain tem usabilidades importantes.
Um case que tem demonstrado o potencial prático da tecnologia é a Wibson, uma startup que usa blockchain para permitir que usuários vendam, de forma anônima, os seus dados para empresas e sejam pagos por isso. A startup é uma investida da Wayra e é parceira da Movistar, subsidiária da Telefônica no Uruguai.
A ideia da Wibson é relativamente simples. Quando um usuário cria uma conta na plataforma, ele informa que tipos de dados e de quais redes sociais está disposto a vender. Em seguida, recebe propostas de clientes dispostos a comprar seus dados e que precisam explicar o que farão com as informações, por quanto tempo irão armazená-las e quanto estão dispostos a pagar pelos dados. Caso o cliente aceite a proposta, ele vende diretamente para o comprador.
Dados como localização, contatos no Facebook ou até mesmo financeiros podem ser vendidos anonimamente pelas pessoas. “São dados que você já dá — sem ganhar nada em troca — para empresas todos os dias quando você está online”, afirma Adrian Ertorteguy, diretor de desenvolvimento de negócios na Wibson.
“Em síntese, a Wibson quer empoderar o usuário”, ele explica. “Não queremos ter controle dos dados, queremos dar isso a ele. Nós queremos que as pessoas entendam qual o valor de suas informações geradas no dia a dia”, afirma.
Transparência no blockchain
Por funcionar com blockchain, a Wibson não precisa armazenar nenhum dos dados, permitindo que as transações aconteçam diretamente entre comprador e vendedor. O pagamento é feito em tokens chamados “Wibs”, que podem ser trocados por outras criptomoedas.
“Não queremos ser o próximo Google ou Facebook, queremos apenas facilitar a transparência. E o melhor meio para isso é o blockchain. A tecnologia coloca o usuário no controle e dá a possibilidade de criar mecanismos de consenso — garantindo que os valores do sistema não serão corrompidos”, defende Ertorteguy.
A Wibson, assim como qualquer negócio em blockchain, precisa de escala para se justificar. E é aí que entram parcerias com grandes corporações como a Telefônica que, no Uruguai, irá validar as informações vendidas pelos usuários. A teleco funciona como uma espécie de notária, garantindo que os dados são autênticos e de alta qualidade.
Para Ertorteguy, a parceria com grandes empresas ajuda o negócio a crescer de forma transparente, mas ainda é uma aposta em um mundo diferente. “Todas as empresas que dependem de dados pessoais, como a Telefônica, estão investindo em um futuro no qual as informações terão que ser mais bem cuidadas e valorizadas, principalmente por conta de leis como a GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados)”, diz.
Popularizar o blockchain e fazer mais empresas abraçarem a privacidade não é uma tarefa nada trivial. Mas Ertorteguy e seus colegas da Wibson acreditam que é um caminho sem volta. “Mais e mais pessoas estão percebendo que seus dados valem dinheiro e que há várias empresas ganhando dinheiro em cima delas”, diz.
“O modelo de publicidade de extrair dados e transformá-los em anúncios para os usuários sem dar nada em troca é muito antigo. Queremos mudá-lo”, defende. “Nesse momento, projetos como o Wibson e outros que apostam no blockchain, surgem como possibilidades disruptivas e que vão na contramão de monopólios”.
Para isso acontecer, Ertorteguy acredita que é necessário um ambiente regulatório mais rico, com leis como a GDPR e Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (de 2018), que avancem o debate. Existe agora uma nova ferramenta pra ajudar nisso.