Como calcular o valuation de uma empresa; Investidores explicam

Carolina Morandini
Wayra Brasil
Published in
4 min readMar 2, 2018

Você sabe o que é valuation, sabe como calculá-lo? Investidores explicam como conseguir um investimento inteligente

Um dos momentos mais críticos na vida de qualquer empreendedor é o de captar investimentos — principalmente no começo da empresa. Afinal, como calcular o valor do negócio na hora de ofertar uma participação dela em troca de dinheiro? E que tipo de investidor o empreendedor deve aceitar? Ou ainda, como cuidar para que a rodada atual não prejudique possíveis captações futuras?

O valuation, momento no qual o potencial valor da empresa é avaliado para se calcular e negociar os possíveis aportes que serão feitos nas startups, não é uma ciência exata. Ao menos é o que afirmam experientes investidores, como Manoel Lemos, da Redpoint e.ventures, e Humberto Matsuda, da Performa Investimentos.

Matsuda faz a comparação com um copo d’água: o preço da água para quem está morrendo de sede no deserto é um; para quem tem vários copos na geladeira, é outro. No entanto, estamos falando da mesma coisa. “Muitas vezes o empreendedor acha que sua empresa é o copo no meio do deserto; enquanto o investidor acha que não”, diz.

É aí que se chega ao preço, que nada mais é do que o valor que, naquele momento e contexto, faz sentido tanto para o vendedor quanto para o comprador. “Existe um momento de convergência, de percepção comum de valor, na qual vendedor e comprador concordam em entregar aquele dinheiro por aquela participação”, avalia.

O momento de um investimento, portanto, leva em conta tanto o presente da companhia quanto seu potencial no futuro. “É preciso entender que o que leva à formação de preço hoje é a percepção de quanto uma coisa vale não só no presente, mas também o quanto pode valer lá na frente”, diz.

Um valuation não tão exato

O problema é que startup significa incerteza, risco. E calcular o preço levando em conta o valor de algo com um futuro incerto é difícil. “Em um mercado sólido, de países desenvolvidos todo mapeado, no qual fatores exógenos são conhecidos, as indústrias são compreendidas e há grandes empresas, por isso valores futuros são relativamente mais fáceis de se prever”, comenta Matsuda. Porém, em startups, com mercados disruptivos, em países emergentes como o Brasil, o exercício de futurologia é muito maior.

Nesse cenário há algumas saídas, como comenta Manoel Lemos. Uma delas são as chamadas convertible notes, também conhecidas como títulos de dívidas (ou notas) conversíveis em participação societária. Nesse modelo, basicamente, o investidor é um credor. No futuro, ele pode trocar aquele título de dívida por participação acionária na empresa. “É um mecanismo de adiar a conversa sobre o valuation e deixar para uma rodada na qual a empresa tem mais histórico e, consequentemente, previsibilidade”, comenta Lemos. Ainda assim, é necessário se calcular um preço para definir os termos da nota conversível.

Para isto, e para situações onde é necessário definir um valuation existem alternativas. Manoel comenta que uma opção é usar comparáveis. Procure ver se não há empresas semelhantes no Brasil ou em outros países com mercados parecidos com o seu; se não há negócios em estágios semelhantes em mercados com as mesmas condições; ou se ao menos há empresas com os mesmos desafios, mas em mercados diferentes. Neste caso use as informações sobre o valor destas empresas para extrapolar o valor de sua startup. Mas lembre-se, é preciso entender o estágio em que a empresa se encontra.

Mas a incerteza continua sendo uma certeza no estágio inicial de qualquer empresa. E é aí que entra a capacidade de gerar expectativas. “Sem o poder de convencer, de encantar, em gerar expectativa no investidor, é impossível o empreendedor captar valores altos”, comenta Matsuda. E isso cabe ao empreendedor.

“Ter a inocência de acreditar que a empolgação do investidor vai ser a mesma do empreendedor é absurdo. Se fosse o mesmo, talvez o próprio investidor fosse empreender”, comenta. E aí é preciso gerenciar as expectativas de ambos os lados. “Da mesma forma que você entende que o investidor não tem a mesma empolgação que o empreendedor, o investidor tem que entender que o empreendedor tem”, diz.

Lemos comenta, no entanto, que é preciso ter cuidado para não subestimar nem superestimar os valores, já que isso pode ser negativo para empreendedores e investidores nas rodadas seguintes. Uma empresa supervalorizada pode sofrer para conquistar futuras captações; enquanto uma subvalorizada pode diluir demais a participação dos fundadores. É do interesse de ambos, portanto, chegar num valor razoável.

O mais importante a se ter em mente é que tipo de investidor você precisa. “Nesse estágio de incerteza, o que o empreendedor mais necessita é de um investimento inteligente”, diz Lemos. “Muito mais que um cheque, ele quer gente que conheça da indústria, que possa ajudar ele, que tenha contatos, que já tenha feito coisa parecida. Os melhores fundos e melhores anjos, em geral, têm esse perfil”, comenta.

Já do lado do investidor, tudo depende do tipo de negócio no qual ele está aportando, como explica Matsuda. “Conheço investidores que valorizam mais o produto e o mercado; outros dão mais atenção para a capacidade dos fundadores. Depende. Quando você pensa em inovação, por exemplo, as pessoas que estão à frente do negócio contam mais. Se é uma cópia, algo que já existe, há outros fatores de mercado que vão ser mais importantes”, diz.

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