Inovação aberta: uma oportunidade para empresas se reinventarem com colaboração externa

Wayra Brasil
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7 min readFeb 20, 2020

Desde a invenção da internet, a digitalização vem chacoalhando os mercados e exigindo de diversos setores a transformação digital dos seus processos. Como reflexo dessa mudança, vimos o surgimento de novos tipos de trabalhos, a exigência de outros tipos de habilidades profissionais e novas demandas dos consumidores. Essas transformações afetam também as grandes empresas, que estão sentindo cada vez mais a pressão pela reinvenção, seja de produtos inovadores ou mais eficiência no modo de trabalhar.

Em meio a esse turbilhão de mudanças, uma das formas que as companhias encontraram para se reinventar foi por meio da colaboração com startups/empreendedores e experts de mercado. Apesar de não fazerem parte dos quadros das empresas, eles ajudam na descoberta de novidades e na implementação delas na velocidade que o mercado contemporâneo exige. Essa valorização da participação de parceiros externos à empresa pra o desenvolvimento de inovações ficou conhecida como “Inovação aberta”, termo cunhado pelo teórico organizacional norte-americano Henry Chesbrough em livro homônimo. O nome Inovação aberta surge em oposição à tradicional “inovação fechada”, que acontece em centros de pesquisa corporativos, restritos à funcionários contratados.

Ao apostar em inovação aberta, as grandes empresas passam a trabalhar lado a lado com empreendedores e experts do mercado, em uma parceria que traz novas informações e conhecimentos para dentro da companhia, ao mesmo tempo que refina as tecnologias para usos futuros. O grupo Telefônica foi um dos pioneiros da inovação aberta no mundo, quando os executivos perceberam que existiam duas opções possíveis frente às pressões do mercado: encontrar uma forma de inovar mais rapidamente ou ser deixados para trás.

Diante desse dilema, investir em inovação aberta foi uma importante decisão para que o grupo pudesse se reinventar e se atualizar em tempo hábil para continuar atendendo às crescentes expectativas dos consumidores, entregando um serviço cada vez melhor. Iniciativas como a Wayra, que faz parte do braço de inovação aberta da Telefônica, funcionam como um entreposto que auxilia na seleção, escalamento e alinhamento de negócios entre as startups do hub e as demandas de diversos departamentos da companhia, seja para melhorar a eficiência interna da empresa ou gerar novas receitas com novos produtos e serviços.

Programas/iniciativas de inovação aberta no Brasil

Com o tempo, outras grandes empresas também enxergaram as vantagens de investir em iniciativas em que pudessem trazer as inovações necessárias aos seus negócios em um formato aberto. Além da Wayra, o Brasil conta hoje com diferentes programas de Open innovation, incluindo fundos de Corporate Venture Capital. É o caso do iDEXO (da TOTVS), do Accenture Ventures, da Qualcomm Ventures, do EDP Ventures, da Algar Ventures, do Inovabra Habitat (do Bradesco), do Cubo (do Itaú) e de aceleradoras como o Boostlab (do BTG) e a Oxigênio (da Porto Seguro). De maneiras distintas, essas iniciativas têm o propósito de envolver startups e profissionais inovadores próximos das grandes corporações, permitindo a colaboração para a criação de novas soluções e ideias que geram resultados práticos, conforme a estratégia de cada companhia.

Uma questão de cultura e estratégia

Os benefícios da inovação aberta, contudo, só vão fazer sentido se a empresa que a implementa tiver consciência de que se trata de um processo de transformação real e de longo prazo. “O impacto da inovação aberta no aumento da eficiência e rentabilidade das empresas só será realmente significativo e duradouro se contribuir para uma mudança de mentalidade dentro da empresa”, pondera Vitor Andrade, diretor geral da iDEXO, braço de inovação aberta da TOTVS.

Isso porque para que uma companhia colabore com startups, universidade e até mesmo outras empresas, é preciso que a equipe interna tenha clareza de que nem todas as respostas estão ‘dentro de casa’. “É preciso ser menos avesso ao risco, entendendo a falha como parte do aprendizado. Afinal, é a partir do choque de ideias que vão surgir novos produtos”, completa Andrade.

Na experiência da Wayra, se você busca atuar com inovação aberta dentro da sua companhia, vale ficar atento a três principais pontos:

· Desenvolva uma cultura de maior abertura à colaboração

Em geral, as corporações têm mais costume com a ‘inovação fechada’, desenvolvendo tecnologias ou novos produtos internamente, sem ouvir pessoas do mercado ou de outras áreas. Aos poucos, é preciso incentivar os gestores a colaborarem com fontes externas, experts da área ou startups que tenham relação com um determinado desafio de um departamento.

Foi a partir de uma colaboração com a Gupy, investida da Wayra, que a Vivo conseguiu reduzir significativamente o prazo dos seus processos seletivos para contratação de novos profissionais, aumentando a satisfação dos gestores que estavam lidando com o recrutamento. “Além de termos resolvido uma dor específica de uma grande corporação, pudemos ajudar a alterar o mindset de recrutamento e auxiliar na modernização de processos”, explica Dedila Costa, Manager of Customer Success da Gupy.

Essa colaboração possível pela estratégia de inovação aberta permite reduzir não só o tempo de implementação das soluções, mas também o risco e o investimento necessários para levar novas soluções ao mercado. “Especialmente nas grandes empresas, há uma grande pressão por resultados em curto prazo. Ao trabalhar em conjunto com outras iniciativas, é possível realizar mais em menos tempo”, analisa Andrade.

· Compartilhe com as startups os desafios de escalar uma ideia para atender os grandes volumes das corporações

O ritmo de desenvolvimento das startups costuma ser mais veloz, especialmente porque são empresas menores, com menos processos e também menos clientes a atender. Ao atuarem em um ambiente de inovação aberta, essas startups ganham a chance de discutirem os desafios que vão enfrentar ao escalar seus serviços. “O desafio de escalar uma solução de uma startup não é apenas técnico, envolve muitas vezes com reposicionamento para comunicar a solução para milhares e até milhões de clientes mais pragmáticos e conservadores, explorando novos modelos e canais de distribuição ainda desconhecidos”, opina Andrade. Além disso, à medida que os colaboradores das empresas ganham mais maturidade e experiência com os processos da inovação aberta, os impactos positivos começam a surgir na mesma velocidade em que os desafios são resolvidos, acredita Paulo Costa, que foi diretor de Open Innovation da Accenture para a América Latina. “A partir da agilidade e da escala das soluções originadas pelos processos de Open Innovation, o impacto começa a ser financeiro e pode até se tornar uma vantagem competitiva”, reforça Costa, que hoje atua como diretor da Accenture Ventures.

· Se prepare para trabalhar em parceria e co-criar

Uma das melhores formas de trabalho em um ambiente de inovação aberta é a parceria que permite co-criações, quando gestores das corporações e experts ou startups do mercado conseguem pensar juntos em soluções que possam ser aplicadas nos negócios. Foi o que aconteceu com a Teravoz, um dos maiores exits da Wayra, que junto com a Telefônica conseguiu melhorar a eficiência dos seus serviços com a infraestrutura oferecida pelo grupo. Ao se tornar uma interessante cliente, a Teravoz também passou a gerar mais receita para a companhia, em uma relação de ganha-ganha entre as partes.

Foi também por meio da co-criação com a Valkyria, mais recente investida da Wayra, que a Vivo foi capaz de reduzir consideravelmente seus custos com processos jurídicos por conta de fraudes em comprovantes de residência. Especializada na investigação e prevenção de fraudes online, a Valkyria pode comprovar sua taxa de mais de 95% de resolução de fraudes ao detectar milhares de adulterações em comprovantes de endereço durante um período de um ano de testes com a base da Vivo. “Conseguimos entregar a mais alta tecnologia e modelos cognitivos para a companhia, otimizando processos e trazendo reflexos positivos para as áreas jurídica e financeira”, comemora Luciano Eisfeld, CEO da Valkyria.

Estratégia de longo prazo para quem quer inovar

Criar e manter ambientes de colaboração e de inovação exigem tempo e dedicação. “A liderança precisa apostar na iniciativa para fazer acontecer”, sentencia Renato Valente, country manager da Wayra no Brasil. É importante que haja cuidado em desenvolver um ambiente de “colisões positivas”, onde as ideias que parecem se opor possam gerar uma solução nova e eficaz para todos. Na Telefônica, por exemplo, além da Wayra, existem outras iniciativas que trazem empresas inovadoras para perto. É o caso do Telefónica Innovation Ventures, veículo que investe em startups de forma direta e indireta (por meio de fundos de venture capital). O objetivo é investir em empresas que fazem sentido para a companhia. Outro exemplo são as iniciativas culturais, como o programa Vivo Shapers, que reúne colaboradores de várias vice-presidências da empresa e as áreas regionais e ostransformam em embaixadores da inovação. “O papel de um Vivo Shaper é identificar as principais dores de suas áreas e encontrar startups que resolvam o problema e que possam fazer negócios com a vivo, para gerar mais eficiência ou aumentar receita”, detalha Valente.

Fazer esse match entre startups e grandes corporações não é fácil, exige persistência e muita dedicação. “Precisamos de cada vez mais profissionais envolvidos com dedicação integral à inovação aberta. Enquanto deixarmos isso como uma função adicional ou apenas movidos pela vontade ou pela paixão de alguns heróis, talvez não cheguemos a alcançar os resultados esperados”, alerta Costa. No entanto, quando a inovação aberta efetivamente acontece, o resultado é um sucesso tanto para as startups e experts que colaboram com as corporações quanto para os departamentos e gestores que se abrem para ouvir profissionais externos à companhia, é uma relação de ganha-ganha sempre.

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