Internacionalizar para conquistar: o caso da BovControl

Wayra Brasil
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5 min readMay 9, 2018

Startup brasileira de gestão de rebanhos conta como abrir escritório nos Estados Unidos foi fundamental para seu crescimento

O Brasil é um país imenso, cheio oportunidades e problemas para resolver. Com um mercado de tal tamanho, é comum que muitos empreendedores tentem ganhar escala primeiro por aqui para, depois, talvez, pensar em conquistar o mundo. No entanto, essa estratégia pode fazer com que muitos percam a oportunidade de crescer rapidamente. Muitas vezes, mirar o Brasil e o mundo simultaneamente é a melhor forma de escalar. A BovControl, uma agtech investida pela Wayra, e que ajuda na gestão de rebanhos, é um exemplo de que, em muitos casos, vale a pena ser global.

Fundada em 2013, a empresa oferece uma plataforma de software para gerir rebanhos pelo celular. Ela foi criada por Danilo Leão, que tem uma fazenda no interior paulista e procurou desenvolver um sistema para ajudar sua família a gerenciar os animais à distância. A ideia virou um produto, que virou um negócio, que agora já é uma empresa global.

Com o apoio da Wayra, eles já cresciam rapidamente no Brasil e chamavam a atenção. Mas ganharam outra proporção em 2014, quando participaram do Mass Challenge, um programa de aceleração do MIT em Boston. Lá não só receberam investimento, como também conhecimento e abertura a mercados nos EUA. Foi quando decidiram globalizar e expandir o produto.

parte da equipe da BovControl se estabeleceu nos EUA para gerir um escritório de lá

“Vimos que o interessante era não só fazer um aplicativo para gestão de rebanho, mas trazer mais gente para dentro da plataforma e explorar sinergias e criar oportunidades de negócios”, conta Marcelo Murachovsky, head de design da empresa.

“O sistema é usado por pequenos e médios fazendeiros, mas também por bancos que querem dar crédito para pecuaristas; empresas de laticínios que precisam de uma comunicação melhor com seus fornecedores; por frigoríficos; por universidades etc. Estão todos dentro da mesma plataforma criando oportunidade de negócios e explorando essas sinergias”, comenta.

Para poder desenvolver o produto rapidamente atendendo as diferentes demandas dos diversos agentes da indústria, parte da equipe da BovControl se estabeleceu nos EUA para gerir um escritório de lá. Marcelo é um dos que cuida das operações da startup no país.

Internacionalizar para crescer

“Normalmente as pessoas pensam que viemos para cá [EUA] porque nossos usuários estão aqui”, comenta Murachovsky. Não é verdade. Cerca de metade dos usuários da BovControl estão no Brasil. “Estamos aqui pelas parcerias que podemos alcançar. Estamos pelo ecossistema de inovação”, diz.

A empresa tem escritório em Boston, no Vale do Silício, na Califórnia; em São Paulo; e ainda há uma zootecnista em uma de suas fazendas laboratório, no interior de São Paulo. Além disso, contam com estudantes do MIT estagiando na companhia.

Segundo Murachovsky, o ecossistema americano faz todo sentido para a inovação da empresa. Um fator simples é a redução de burocracias. “Estando no Brasil, o resto do mundo é fácil. Aqui, se você quer abrir uma empresa, no dia seguinte está operando”, comenta.

Mas, o principal, para ele, é a cultura empreendedora no Vale do Silício. “É muito importante estar em um ambiente disposto a te ajudar, onde errar não é um problema”, comenta. Para o empreendedor, em tal cenário, é fácil encontrar grandes parceiros. “A possibilidade de bater na porta de alguma empresa legal e conseguir uma grande parceria é muito boa”, comenta.

No caso da BovControl, o ecossistema e a possibilidade de parcerias são essenciais porque a empresa lida com um tipo de cliente muito específico: o pecuarista. “São pessoas nem sempre muito familiarizadas com tecnologia”, comenta. Um dos principais desafios da companhia é ouvir seus clientes e conseguir desenvolver mudanças rapidamente.

Para isso, eles trabalham com “farm labs” no Brasil e nos EUA. São fazendas laboratório, em Presidente Prudente (São Paulo) e Fresno (Califórnia) onde todas as novidades são testadas antes de ir ao mercado. “Tomamos muito cuidado para garantir que o que estamos lançando é aderente às necessidades específicas de nossos clientes” garante o empreendedor. No caso da fazenda californiana, eles têm uma parceria com a Fresno State University, uma das principais nos estudos de pecuária — a colaboração é mais um exemplo dos frutos da internacionalização da equipe.

Além de testar em ambientes controlados, o time da BovControl recebe muito feedback de seus usuários. “Há clientes no mundo inteiro. Todos os dias eles estão pedindo coisas, sugerindo atualizações. Avaliamos o tempo todo. Nossos usuários são o veículo para melhorarmos a aplicação em cada país”, avalia Murachovsky.

O desafio da internacionalização

Internacionalizar, no caso da BovControl, dá acesso a importantes parceiros, inspira inovação e dá velocidade para que a empresa desenvolva seu produto rapidamente e conquiste novos mercados o tempo todo. Isso não quer dizer, no entanto, que é fácil; tampouco que não há desafios e perdas na globalização.

Um dos principais desafios é gerenciar recursos. Nos EUA, naturalmente, tudo é muito mais caro do que no Brasil. “Não só pelo dólar, mas porque o próprio Vale do Silício é uma das regiões mais caras do mundo”, como comenta Murachovsky. “Tem que ter estabilidade financeira para operar aqui”, comenta.

Outro desafio é gerenciar pessoas de diferentes nacionalidades, com diferentes culturas. “É difícil adaptar a cultura da empresa, ter claro para todo o time — que tem backgrounds diversos e crenças variadas — para onde queremos ir e como queremos”, explica.

Ainda há o cuidado de adaptar todo o conteúdo em três idiomas diferentes e trazer experts e consultores de diferentes países para levar o produto a novas regiões e nações.

Para conseguir expandir e conquistar territórios, é necessário tomar alguns cuidados especiais. Murachovsky compartilha alguns do que aprendeu tocando a BovControl nos EUA:

1) “O dinheiro gasto com advogado é um dos mais bem investidos nesse momento”. Pode até parecer caro, mas um bom advogado poderá evitar grandes dores de cabeça lá na frente.

2) “Saiba para onde você está indo”. É preciso ter claro o objetivo pelo qual você está abrindo escritório em um novo lugar. Nem sempre vai ser pela cultura, pelos usuários ou por questão financeira. Estude e avalie se as vantagens e desvantagens do local têm relação com o momento de sua empresa.

3) “Procure iniciativas focadas em empresas brasileiras, que te ajudam a internacionalizar”. Murachovsky comenta o caso da Apex Brasil — Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, que auxiliou a mudança da BovControl no início. Além de ajudar com conexões e estruturalmente, organizações do tipo ajudam a conhecer pessoas importantes, dão dicas preciosas e poupam muito tempo na hora de entrar em um novo país.

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