Pingue-pongue Wayra: Melina Yasuda, fundadora da Pluginbot, colocou robôs de telepresença para atender pacientes durante a pandemia da COVID-19

Wayra Brasil
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8 min readApr 7, 2020

Já pensou se descobrir capaz de ser muito útil em meio à uma das maiores emergências de saúde dos últimos 100 anos? Foi essa a sensação de Melina Yasuda, fundadora da Pluginbot, startup que faz parte do portfólio da Wayra, ao perceber que seus robôs poderiam ajudar a fazer a triagem dos pacientes suspeitos da infecção em São Paulo, uma das cidades mais afetadas do país.

Especializada em robôs de atendimento e telepresença com uso de inteligência artificial, a Pluginbot se viu com a incrível oportunidade de poder auxiliar a equipe médica de um grande hospital paulista a lidar com o momento de pico da pandemia do novo coronavírus na maior cidade do Brasil, mas precisava fazer isso praticamente da noite para o dia. “Nos mobilizamos para montar uma operação complexa em pouco tempo, e foi tudo possível com o apoio das pessoas envolvidas ”, confidenciou Melina, ao mesmo tempo que se mostrava absolutamente motivada pela ação social que estava conseguindo participar.

Nos últimos dias, a empreendedora e seu time estiveram focados em adaptar o sistema de telepresença de três robôs para permitir que médicos e enfermeiros pudessem utilizá-los para fazer a triagem de pacientes com suspeita da doença. Ao acessar a plataforma da Pluginbot por meio de celulares ou computadores, os médicos podem conversar com os pacientes e circular pelos corredores do hospital de forma absolutamente segura e livre de contágio. A Pluginbot fez questão de ceder os robôs que tinha disponíveis e realizar toda a implementação do sistema sem cobrança, como um trabalho pro bono. “Precisamos colaborar”. Além da crise da COVID-19, existe uma crise financeira grande que vai atingir todos nós. É hora de pensar no coletivo, tenho visto muita gente empenhada em ajudar, e essa mobilização é incrível”, contou ela em uma entrevista concedida diretamente dos corredores de um hospital paulistano.

A paixão de Melina pelo empreendedorismo fica evidente enquanto ela fala, como se estivesse sorrindo do outro lado da linha. “Gosto de tentar, de experimentar, é o que me dá prazer, isso pra mim é vida”, explica ao relembrar a época da fundação da Pluginbot, depois de mais de 20 anos de vida corporativa no setor de segurança eletrônica. Formada em direito, Melina quase não chegou a advogar: entrou na faculdade ao mesmo tempo em que passou a atuar nos negócios da família. Dentro de poucos anos, também se viu com um enorme desafio de tocar os negócios da família, por conta de um problema de saúde sofrido pelo pai, que ficou afastado da companhia. Com apenas 28 anos, foi Melina quem continuou batalhando e mantendo as contas em dia. “Não dava nem tempo de lembrar que era uma mulher em um ambiente tão masculino”, diz ela, que fez a empresa crescer e se destacar a ponto de ser mais tarde adquirida por uma das maiores empresas de segurança do mundo. Depois de fazer a integração entre as companhias, atuando como diretora de tecnologia por quase cinco anos, Melina decidiu fechar sua fase corporativa e se lançar à vida empreendedora. “Aprendi muito no mundo corporativo, mas minha paixão é empreender”, sintetiza ela, sorridente.

Confira abaixo a íntegra da conversa com a Melina.

Wayra: As últimas semanas têm sido intensas para a Pluginbot. Vocês passaram os últimos dias adaptando os robôs para realizarem atendimentos de telemedicina, é isso mesmo?

Melina Yasuda: Sim! Participamos no início do ano do HackMed [maior evento de inovação em saúde do Brasil], e conseguimos apresentar no evento como a IA e a robótica podem ajudar na medicina e nos hospitais. Quando começaram a surgir os primeiros casos do novo coronavírus, vimos que, em outros países, muitos médicos foram contaminados. Infelizmente é algo que acontece muito, porque a COVID-19 é super contagiosa, e esses profissionais precisam estar na linha de frente para atender aos pacientes. Conversamos com a equipe de um hospital de São Paulo para desenvolvermos um trabalho colaborativo utilizando os nossos robôs de telepresença, que permitem o atendimento médico de forma remota. Estamos colocando os robôs para atuar no primeiro atendimento, quando é feita a triagem dos pacientes que estão com sintomas suspeitos de Coronavírus, já que essa é uma tarefa que pode ser feita à distância. Dessa forma, conseguimos auxiliar na prevenção de contaminação dos profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que a qualidade de atendimento ao paciente é preservada. Além desse primeiro atendimento, os robôs de telepresença podem também viabilizar visitas médicas, e possibilitar que familiares conversem com pacientes internados sem correrem nenhum risco de infecção.

Wayra: Existem outros hospitais interessados nesse tipo de atendimento? Vocês têm robôs suficientes para enviar também para outros locais?

MY: Felizmente, sim! Já estamos em contato com alguns hospitais e estamos nos dedicando para disponibilizar tanto os robôs de telepresença quanto mobilizando nossas equipes para dar todo suporte na implementação e uso dos robôs.

Wayra: Você pode detalhar que tipos de atividades esses robôs podem realizar nos hospitais no atendimento aos pacientes que estejam com suspeita de Coronavírus?

MY: Os robôs podem ser utilizados na teletriagem, trabalhando em conjunto com enfermeiros e médicos. Funciona assim: os profissionais que atuam na triagem dos pacientes conseguem “entrar” no robô por meio de um celular ou computador, pilotando o equipamento pelos corredores. Isso permite que eles conversem com as pessoas, realizem visitas… É como se o médico pudesse ter a mobilidade que teria no hospital, mas sem estar fisicamente presente. O robô de telepresença também permite a televisita de familiares e psicólogos a pacientes que estão em isolamento. Existe um desafio muito grande por parte dos hospitais que é prestar um bom atendimento aos pacientes e garantir a disponibilidade dos profissionais de saúde. O uso dos robôs pode contribuir para minimizar os riscos de contaminação de quem está na linha de frente, viabilizando atividades que podem ser realizadas remotamente.

Wayra: Quando vocês tiveram a ideia de que poderiam ajudar? Quando deu para falar “puxa, podemos nos envolver para ajudar nesse processo”?

MY: Foi tudo no início desta semana [final de março]. Conversamos com o pessoal do hospital e foi criada uma “corrente do bem”. Em meio ao caos, é gratificante ver tanta gente engajada em fazer o bem, ajudando a buscar alternativas, pensando em possibilidades criativas para solucionar os problemas. Pessoas que acreditam que cada pequena ação pode ajudar muita gente. Fora isso, além da crise sanitária, existe uma crise financeira que vai atingir a todos. Precisamos pensar em como conviver em sociedade, como nos ajudar mutuamente. Esse exercício tem sido super bacana.

Wayra: Quantas pessoas estão envolvidas com essa implementação em tempo recorde de vocês?

MY: No começo, éramos apenas cerca de sete pessoas, mas agora há muita gente envolvida, tanto do nosso lado quanto do hospital. Todos vão se ajudando.

Wayra: Tem dado tudo certo nessa implementação relâmpago? Imagino que não seja um prazo que seja muito usual para vocês, não é?

MY: Sim, conseguimos levar os robôs no mesmo dia que tivemos autorização do hospital. Eles conseguiram disponibilizar o Wi-Fi em tempo recorde nos corredores e nos andares onde precisam que o robô circule. Isso me surpreendeu! Nossa área de operações está presente pessoalmente, dando suporte e cuidando de todos os detalhes. Todo o time do hospital envolvido no processo está empenhado em fazer acontecer.

Wayra: Que cuidados vocês estão tendo com o pessoal da Pluginbot que está in loco no hospital?

MY: Eles estão passando por todos os treinamentos que o hospital está dando aos médicos e enfermeiros. Existe risco? Sim! Mas imagina se os médicos, as enfermeiras e as recepcionistas parassem. O Spencer [Santos, gerente de projetos da Pluginbot, que está atuando no hospital] me disse: “Melina, fica tranquila! Estou aqui batalhando porque acredito na nossa causa e que tenho que fazer minha parte para ajudar o Brasil a sair da crise”. Claro que o que está acontecendo é um desastre, mas ao mesmo tempo é muito gostoso, como startup, ver que o time está ainda mais unido, se apoiando, mais criativo e colaborativo.

Wayra: Mudando um pouco de assunto, Melina, você é uma das poucas mulheres empreendedoras no Brasil. Infelizmente mulheres fundadoras ainda são raras. Como você vê esse tema do empreendedorismo feminino?

MY: As mulheres estão cada vez mais presentes no mundo dos negócios, estão empreendendo e se empoderando cada dia mais. Venho de um mercado muito masculino, trabalhei com segurança eletrônica por mais de 20 anos, então não sou muito um exemplo. Eu era nova e acabei aprendendo a me virar em um mundo masculino, isto pra mim era normal. Profissionalmente eu não vejo diferenças entre homens e mulheres, ambos têm as mesmas competências e capacidades, realizam igual. Na verdade, é assim que eu me sinto.

Wayra: Além desse projeto no hospital, a Pluginbot também tem robôs de atendimento em outros locais, como aeroportos e lojas. Como funciona esse tipo de atendimento?

MY: Fizemos um projeto com a Vivo para o lançamento de uma nova tecnologia, um wearable que estava sendo utilizado e apresentado pelo robô. Para um banco, criamos uma aplicação para que o robô fizesse pesquisa junto aos funcionários. Já em uma das principais redes hoteleiras no Brasil, criamos o primeiro robô concierge da América Latina. Ele também está presente em uma loja de acessórios para celulares oferecendo produtos e esclarecendo dúvidas. Junto com a GOL, temos um robô de atendimento que chama Gal e fica no aeroporto de Guarulhos (GRU). Ele foi programado para responder a perguntas diversas sobre a companhia, status de voo, e outros que estão em desenvolvimento. É engraçado como as pessoas perguntam sobre tudo para o robô, não apenas temas relacionados ao cliente. Algumas desabafam e outras brincam, sempre alguém pergunta se o Palmeiras tem mundial…. (Risos). Os robôs tangibilizam o conceito da inteligência artificial, vinculam a marca à inovação.

Wayra: Significa que os robôs da Pluginbot podem tanto fazer o trabalho de alguém — como substituir um atendente ou um pesquisador, por exemplo — quanto levar um profissional até um local de difícil acesso por meio da telepresença, como tem sido feito no hospital de São Paulo. Como você enxerga essa dualidade dos robôs permitirem um trabalho mais seguro para os médicos e ao mesmo tempo poderem substituir trabalhadores de base, como atendentes e recepcionistas?

MY: Cada vez mais robôs (físicos e virtuais) e pessoas estarão interagindo e dividindo atividades profissionais. De uma forma geral, há muitas tecnologias substituindo trabalhos repetitivos, mas também existem vários outros trabalhos sendo criados, atividades que antes não existiam e que agora fazem parte do nosso dia a dia. Acredito que temos todos a responsabilidade de ajudar os profissionais que terão suas atividades automatizadas a se reencontrarem neste novo ecossistema profissional. Educação é a base.

Wayra: E para as startups que podem estar considerando se aplicar para fazer parte da Wayra — algo que elas podem fazer a qualquer momento do ano — você teria algum recado?

MY: Empreender tem um lado fascinante e outro que é completamente desafiador. Se você é uma startup com pouco tempo de mercado, tudo é mais complicado. Desde abrir uma conta bancária a se cadastrar para fornecer para grandes grupos. A Wayra é um super hub de inovação, bem-conceituado não apenas no Brasil, mas no mundo. Fazer parte da Wayra aumenta nossa credibilidade perante o mercado, [o que ajuda a abrir portas para grandes clientes.

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