Pingue-pongue Wayra: Pedro Roso, CEO da Docket, nova startup do portfólio da Wayra

Wayra Brasil
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6 min readFeb 13, 2020
“Validar a ideia é importante para não empreender de forma inconsequente, mas é preciso começar”, diz Pedro Roso, CEO da Docket

Conseguir ajudar uma startup a escalar seus negócios é o principal desafio da Wayra, hub de inovação aberta da Telefónica no mundo e da Vivo no Brasil, desde 2012 no país. Além de apresentar as startups para fazer negócios com o grupo espanhol e garantir mentorias de executivos da companhia aos fundadores, a Wayra conecta suas investidas a outros investidores, parceiros e grandes corporações.

Reconhecendo o alto valor dessas conexões e a troca de experiências, a Docket, uma legaltech que cresce de 200 a 250% ao ano, entra para o portfólio de investidas da Wayra. Seu CEO e um dos fundadores, Pedro Roso, estreia como entrevistado do pingue-pongue mensal aqui no Medium da Wayra. O objetivo é compartilhar histórias, aprendizados e experiências de profissionais do ecossistema de empreendedorismo e venture capital para oferecer inspiração para quem empreende ou investe em startups.

A Docket é uma startup focada na busca, pré-análise e gestão de documentos para corporações que acabou de concluir uma rodada de investimentos de R$ 35 milhões com Wayra, Kaszek, Valor Capital e ONEVC. Ao reunir a documentação necessária de forma eficiente, a Docket reduz a burocracia na tramitação de documentos entre diferentes órgãos públicos brasileiros, acelerando o tempo de entrega ao enviá-los digitalmente via software. Entre os mais de 50 clientes há empresas de diversos setores como telecomunicações, bancos, fundos de investimento, mineradoras e do ramo agrícola. “Nosso objetivo é continuar crescendo, além de lançar novos produtos que possam trazer mais eficiência para os departamentos que lidam com documentações”, conta Roso, que está à frente das estratégias de vendas da startup.

Antes de fundar a Docket, Pedro atuava como executivo de marketing, acumulando mais de uma década de experiência no setor. Hoje, o CEO está à frente do time de vendas da startup, além de manter um relacionamento estreito com os membros do conselho e os fundos de investimento.

Confira abaixo a íntegra da nossa conversa com Pedro Roso.

Wayra: como a Docket surgiu?
Pedro Roso: Um dos nossos fundadores, o Flávio Castaldi, já havia trabalhado na área jurídica de uma construtora e tinha vivido o desafio da busca de documentos nas corporações. Eu conhecia o Flávio da época da faculdade e comentei com o Rodrigo Lopes, que na época trabalhava comigo, sobre a ideia de criar uma forma mais fácil das empresas encontrarem os documentos que precisam. Achamos que fazia sentido criar um MVP (minimum viable product) dessa ideia e foi assim que começamos. No início, o Flávio atuava diretamente da lavanderia da casa da mãe dele, mas aos poucos fomos crescendo, contratamos uma pessoa, alugamos uma salinha de 9m² e compramos notebooks de segunda-mão para a nossa equipe. Felizmente, já no nosso primeiro ano alcançamos 1 milhão de reais em faturamento, atuando só com bootstrapping mesmo, fazendo nosso fluxo de caixa na unha.

W: Qual o principal desafio de mercado que a Docket ajuda a resolver?
PR: Surgimos de uma dor muito grande do mercado, que é a busca e obtenção de documentos em diferentes locais, que vão desde cartórios a juntas comerciais, ministérios públicos, prefeituras, tribunais, fóruns, instituições regulatórias como IBAMA e INCRA, entre tantas outras. Conseguir esses documentos e certificados é algo muito crítico para as empresas. É de posse deles que elas conseguem lidar com crédito imobiliário, garantir o cumprimento de processos de compliance, conseguir incentivos fiscais, realizar uma determinada operação ou até mesmo conseguir crédito agrícola, por exemplo.

W: Você se lembra de como foi conquistar o seu primeiro cliente?
PR: Foi um pânico total, ficamos até sem dormir. “E agora, como vamos fazer?”, eu pensava. Tínhamos conquistado um cliente muito grande, um banco. O que dissemos na época foi “traga para dentro, depois a gente vê como resolve”. Trabalhávamos 15 horas por dia, além dos fins de semana, para fazer a entrega, e realmente conseguimos. Lembrando agora, não deu nem tempo de comemorar, porque vimos a responsabilidade aumentar muito. Talvez a gente devesse até parar para comemorar mais algumas dessas etapas, mas na época foi desesperador. A nossa única preocupação era se comprometer com a qualidade do trabalho que íamos entregar para o cliente. Afinal, ele é o único que pode te demitir em uma startup.

W: Houve um momento em que vocês pensaram “agora a Docket deu certo”?
PR: Nunca nos demos esse luxo. As pessoas pensam que sair de um bootstrapping é diferente de ser captado por seed, mas a verdade é que a empresa toma outra proporção. Talvez, pensando na nossa pivotagem de 2018, esse momento tenha acontecido quando focamos mais no mercado B2B, que nos fez ganhar mais de clareza do nosso modelo de negócios. Não quer dizer que ficamos confortáveis, mas o caminho da Docket ficou mais claro com esse novo modelo de negócio.

W: A Docket já está com quase cinco anos. Nessa jornada empreendedora que você tem trilhado, qual foi o seu principal aprendizado?
PR: Resiliência e capacidade de se desenvolver rápido. Empreender é trabalhar muito, nada cai do céu. Captar rodada de investimentos não é “uhu, vai ficar tudo bem”, pelo contrário. A responsabilidade aumenta, a empresa cresce, precisamos nos preocupar com as nossas pessoas também, em comunicar e ser transparente. Crescemos em um ritmo muito alto, uma média de 20% ao mês, e precisamos nos desenvolver nesse ritmo também, para acompanhar a complexidade dos assuntos, que fica cada vez maior. Eu estudo muito, tento evoluir muito, para conseguir acompanhar o crescimento da Docket. É o que aprendi que funciona pra mim.

W: E existe algum ponto da jornada que, se você pudesse voltar atrás, faria diferente?
PR: Eu teria começado desde o início com uma melhor visão do nosso modelo de negócios, focando a nossa energia em um modelo só. Mas foi assim que a gente aprendeu o que dava certo, precisamos testar.

W: Existe alguma personalidade ou empreendedor que te inspira?
PR: Sim! A verdade é que a gente teve muita sorte e fomos muito ajudados. Desde o começo, pudemos contar com o apoio do Bruno Yoshimura (ONEVC, Kekanto, Delivery Direto) e do Alan Kajimoto (Kekanto, Delivery Direto). Os dois foram uma inspiração para essa cultura de resiliência, de hard work, de construir times. São pessoas com quem eu conversava e converso até hoje, com quem posso trocar ideias, e que nos ajudaram muito.

W: Empreender no Brasil exige mesmo essa resiliência, mas também tem suas oportunidades. Quais desafios e vantagens você vê ao empreender no país?

PR: Temos muita oportunidade por aqui. São vários problemas locais, com potenciais enormes para a gente resolver. Transbordam oportunidades! Além disso, o mercado é um pouco menos competitivo do que no exterior. Lá fora, quando você chega com a sua ideia, já existem sempre três ou quatro que fazem a mesma coisa. Agora, existe também o desafio de lidar com a complexidade fiscal, trabalhista e tributária do Brasil. A Docket não teve problemas, mas existe a dificuldade do acesso à capital, a escassez de talentos, especialmente de tecnologia, que vão acabar impactando o sucesso das empresas. Além disso, para a gente que atua em todo o Brasil, ainda há a complexidade de manter em dia as licenças regionais e acertar os impostos locais.

W: Com a entrada da Docket no hub de inovação aberta da Wayra, o que mudou para vocês?
PR: Passamos a ter acesso a muitos benchmarks e a uma série de ferramentas, além de podermos aprender muito com as pessoas que fazem parte do hub, por meio do compartilhamento das experiências e de negócios com o grupo. Esse contato facilita muito a nossa navegação pelo mercado. Os benchmarks, em especial, são muito valiosos. A gente pode ler muito, escutar muitos podcasts, mas poder conversar com quem passou por este ou aquele desafio é muito diferente e nos economiza muito tempo.

W: E se você fosse dar um conselho para as startups e empreendedores que estão começando agora, o que diria?
PR: Diria que o cenário ideal nunca existe. Por isso, o principal cuidado é estruturar um MVP, validar e começar a fazer. Validar a ideia antes é importante para não empreender de forma inconsequente, mas é preciso começar. A Docket começou com a gente em uma mesa escrevendo em um caderno o nosso plano de negócio, baseado em índices econômicos. Depois foi para um PPT, depois para uma planilha, e depois validamos. O segredo é começar a fazer, validar para diminuir o risco, e aí as coisas vão acontecendo. Se a gente fosse esperar pelo momento perfeito, não teríamos feito nada. Durante a jornada você vai aprendendo, vai evoluindo. A Docket de hoje é completamente diferente da Docket que começamos em 2016, mas é importante começar. Dar o primeiro passo e fazer as coisas acontecerem.

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