Spume.co cria laboratório aberto e colaborativo para prever a evolução da COVID-19 no Brasil e no mundo

Wayra Brasil
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4 min readMay 26, 2020

Depois de mais de cinco anos se especializando em predição e previsão e futuros, Mauro Jeckel se pegou em uma curiosa reflexão: será que um dos seus algoritmos seria capaz de prever o avanço de um problema do presente? Foi assim que ele teve a ideia de usar a expertise de predição de eventos da sua startup, a Spume.co, para visualizar o avanço do contágio do novo coronavírus.

Foram quase três meses de testes, comparando as previsões dos seus robôs com os resultados do mundo real, até que Jeckel pudesse comprovar que seus algoritmos de big data estavam conseguindo prever com assertividade a progressão do vírus na Itália e nos EUA, além de demonstrar precisão na medição da curva de contágio da COVID-19 também aqui no Brasil.

“Esse é um problema que não será resolvido só com teses, que demoram meses. Temos um período muito curto [para decifrar a curva da COVID], por isso as teses em papel não vão dar conta. Acredito que a solução precisa ser um software capaz de se corrigir em tempo real”, explica Jeckel. Percebendo a eficácia do seu modelo, a Spume.co decidiu abrir seus algoritmos ao público, convidando cientistas e colaboradores do mundo todo para ajudar a refinar a capacidade e assertividade do projeto, que foi batizado de ConvocamosVC.

Uma Wikipédia de previsão de epidemias

Foi a inquietude de Mauro que fez com que o ConvocamosVC virasse realidade. Surpreso com o fato de que nenhum grande estudo ou modelo estatístico estivesse dando conta de prever corretamente o avanço da COVID-19, Jeckel decidiu tentar ele mesmo dar conta da questão. “Os dados do Imperial College erraram a curva [do contágio do novo coronavírus] no Reino Unido e também não conseguiram acertar nos EUA. Por isso, pensei que poderia tentar também, criando meu próprio laboratório”, descreve.

Consciente da necessidade de envolver experts de áreas que iam além da Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning, que são especialidades da Spume, o empreendedor montou um time multidisciplinar para o laboratório, que hoje conta com as expertises de uma PhD em estatística, especialistas em infectologia e em design, um biofísico, cientistas de dados e de computação, um estatístico e um jornalista. Juntos, eles passaram três meses testando e comparando os resultados obtidos com os dados oficiais informados pelos governos. Segundo Jeckel, o algoritmo do ConvocamosVC pode prever os picos e quedas da Itália, do Reino Unido e até de Nova Iorque, um dos mais recentes epicentros da COVID. “O robô por trás do algoritmo parece ter aprendido o funcionamento do vírus e estava acertando as previsões”, revela o CEO da startup, que faz parte do portfólio da Wayra Brasil.

Diante dos bons resultados, o time se convenceu de que o cálculo criado poderia ajudar na tomada de decisões no combate à pandemia. Decidiram então abrir o laboratório, transformando-o em um projeto de código aberto e colaborativo. “Somos completamente open source. Todas as informações, patentes, algoritmos e fontes de informação que usamos estão abertas para consulta no site”, explica Jeckel. Atualmente, o robô faz atualizações a cada 15 minutos, computando dados de milhares de cidades do mundo e atualizando as curvas de crescimento em tempo real.

Esse tipo de painel colaborativo de predição da COVID-19 é algo inédito, reforça Jeckel. “É como se tivéssemos montado uma Wikipédia de predição e previsão de epidemias”, explica o CEO da Spume.co, citando o amplo acesso e a colaboração como principais similaridades entre os projetos.

Em busca de colaboradores

Assim como uma wiki, o que o ConvocamosVC busca são colaboradores que possam ajudar a enriquecer o projeto e mantê-lo no ar, o que pode acontecer de diversas formas. Especialistas em áreas como a matemática, infectologia ou estatística podem se tornar voluntários para refinar o algoritmo, enquanto empresas podem apoiar a iniciativa ao suprir parte da infraestrutura necessária para que o laboratório continue funcionando. Pessoas físicas e jurídicas também podem apoiar a iniciativa ao fazer doações de qualquer valor, que vão ajudar a financiar o projeto.

“Conseguimos unir a agilidade de execução de uma startup com a profundidade do pensamento acadêmico. Agora, precisamos de ajuda para não deixar o projeto parar”, explica Jeckel. A combinação entre startup e academia é tão prolífica que chamou a atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS), que deve adicionar o ConvocamosVC dentre a sua lista de soluções inovadoras contra a COVID-19.

Para Jeckel, a oportunidade não é apenas conseguir visualizar o avanço da COVID-19, mas também estar melhor preparado para lidar com potenciais novas variações desse vírus e até novas epidemias que podem surgir no horizonte. “Estamos pensando em refinar a tecnologia para também compreender as novas ondas e novos tipos de COVID, para não sermos pegos desprevenidos com futuras epidemias”, sintetiza.

Confira o teaser sobre a ferramenta aqui.

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