A evolução da trilha sonora da nossa direção
Das fitas de 8 faixas aos audiolivros, o que toca no carro dá o tom do passeio
Se você parar para pensar nas suas lembranças favoritas em viagens de carro, há uma boa chance de mais de uma delas ser o que você estava ouvindo durante o trajeto. Talvez seja a fita cassete da sua infância, a perfeição atemporal de seus CDs “Verão de 99 — Remix” ou, hoje, seus podcasts e audiolivros favoritos para distrair em viagens longas.
Por alguma razão, tudo soa melhor no carro — especialmente músicas sobre carro -, mas não conseguimos identificar o porquê. Conversamos com especialistas e motoristas para descobrir o que torna direção e áudio uma combinação atemporal, desde o rádio e as fitas de 8 faixas até as opções de streaming que aproveitamos hoje.
Nasce o rádio automotivo (Décadas de 1930 a 1950)
Nos primórdios da condução, a única trilha sonora possível era o próprio motor. À medida que os carros se tornaram mais amplamente disponíveis na década de 30, os irmãos Paul e Joseph Galvin decidiram mudar isso com o primeiro rádio comercial para automóveis: o Motorola 5T71.
Nomeado para misturar as palavras “motor” e “vitrola”, o sistema usava tubos de vácuo alimentados por bateria e era vendido por cerca de 130 dólares (aproximadamente 2.000 dólares no valor atual). Naquela época, ouvir rádio no carro era considerado tão inseguro e distrativo quanto enviar mensagens de texto enquanto dirige é hoje. É difícil de acreditar, mas talvez seja por isso que alguns de nós ainda sentem a necessidade de diminuir o volume da música para “ver melhor” na hora de fazer baliza.
Claramente, o medo diminuiu o suficiente para tornar os rádios automotivos uma sensação, já que, em 1946, nove milhões de carros já tinham o dispositivo instalado. O aumento na popularidade também levou a inovações tecnológicas: em 1952, a empresa alemã Blaupunkt vendeu o primeiro rádio FM para automóveis.
Uma batida na estrada (Década de 1950)
Em 1956, a Chrysler lançou o primeiro e único fonógrafo automotivo, chamado “Highway Hi-Fi”. Ele era montado na parte inferior do painel do carro e conectado diretamente ao rádio. Mas tinha só um problema: a faixa pulava a cada obstáculo na pista, então a Chrysler abandonou a invenção em poucos anos.
Tornando a música portátil com o 8 faixas (Década de 1960)
Uma melhor opção foi aparecer quase uma década depois. Em 1965, a Ford começou a oferecer o leitor de fitas de 8 faixas em todos os seus carros esportivos e de luxo. Logo depois, a maioria das grandes gravadoras lançou seus catálogos nesse formato.
Baixista, produtor musical e entusiasta de carros, Bryant Wilder afirma que, entre qualquer tipo de áudio para carro, esse tinha a melhor qualidade. “As fitas de oito faixas soam exatamente como você ouve. O aparelho tinha oito faixas, quatro de cada lado”, explica. “A qualidade não era tão boa quanto o vinil, mas era melhor que a cassete, que era melhor que o CD, que é melhor do que o que ouvimos hoje, no que diz respeito à plenitude do som.” Se for mesmo o caso, estamos cruzando os dedos para que a nova geração tenha um plano para trazê-las de volta — como vimos acontecer com os toca-discos e as câmeras de filme.
A ascensão das fitas cassete (Décadas de 1960 a 1970)
Quando as fitas cassete se tornaram populares nos carros no final dos anos 60, elas viraram totalmente o jogo. O grande motivo? Pela primeira vez, as pessoas puderam criar suas próprias mixagens. Elas são basicamente as precursoras das playlists que conhecemos (e adoramos ouvir dirigindo) hoje.
Chris Molanphy, crítico musical e apresentador do podcast “Hit Parade”, conta: “Eu tenho uma playlist para dirigir que era originalmente uma fita e eu ainda ouço hoje”.
O apelo personalizável e a facilidade das cassetes marcaram uma nova era para os audiófilos: enquanto as 8 faixas representavam cerca de um quarto de todas as vendas de música nos EUA em 1973, o formato foi quase completamente ofuscado pelas cassetes no final da década.
O CD senta no banco da frente (Décadas de 1980 e 1990)
Em 1984, a Pioneer lançou o primeiro reprodutor de CD para automóveis, o CDX-1. E dois anos depois, a Sony lançou o trocador de CD para carro, que tinha capacidade para 10 CDs e parecia o futuro. Os CDs eram mais resistentes que as fitas cassete, e a capacidade de pular músicas sem precisar avançar ou retroceder a gravação os tornou muito mais fáceis de usar, especialmente ao dirigir.
Embora os CDs fossem o formato mais popular na época, nem todos os carros vinham com tocadores, o que significava que alguns motoristas precisavam de uma solução alternativa. “Meu acessório favorito quando eu era adolescente na década de 80 era um adaptador de fita Rakuten, com um fio saindo dele para que eu pudesse conectar meu Discman no som do carro”, diz Chris.
Para alguns, os CDs que ouviram no carro influenciaram seu gosto musical por muitos anos. “Fazíamos muitas viagens quando eu era criança, e meus pais sempre tocavam ótimos CDs no caminho”, diz Madison, uma Zillennial que passa o tempo livre viajando pelo país. “Eu tenho memórias muito marcantes de sentar no banco de trás quando criança, enquanto meus pais faziam críticas sobre Elton John, Queen ou Abba. Foi assim que eu aprendi sobre música.”
Depois que ela começou a dirigir, a música ganhou ainda mais significado. “A música é uma grande parte da experiência de dirigir”, diz ela. “Eu costumava fazer todo mundo mixar CDs, e meu pai ainda tem no carro um que eu fiz para ele no colégio. A primeira faixa é “It Takes Two,” e o resto é composto principalmente por canções dos anos 90. Eu fico dizendo a ele que posso atualizar, mas ele adora do jeito que é.
Mudando para o digital (Décadas de 2000 e 2010)
Tudo mudou (de novo) quando a Apple lançou o primeiro iPod, em 2001. Em pouco tempo, os tocadores de MP3 se tornaram os favoritos para música portátil, mas os carros demoraram um pouco mais para acompanhar.
“O tocador de CD se tornou padrão nos carros quase quando os iPods ficaram populares, o que era um problema porque, se você não tivesse mais um toca-fitas no painel, não havia um jeito fácil de reproduzir o iPod no som do carro”, Chris explica. “Os conectores auxiliares não eram comuns em carros até 10 ou 12 anos atrás. A indústria automobilística sempre esteve um passo atrás, sendo atualizada pela tecnologia mais recente. ”
Quando os tocadores de MP3 se tornaram populares, as pessoas ainda tinham que comprar e baixar músicas, o que significava uma biblioteca ainda bastante limitada. Isso mudou em 2011, quando o Spotify foi lançado nos Estados Unidos e mais opções de streaming de áudio tornaram-se disponíveis.
Sem limites de faixa, há menos pressão para criar a playlist perfeita antes de pegar a estrada. “Meus enteados são da Geração Z, e eles levam as playlists a sério”, diz Chris. “Quando estamos no carro, eles tocam as mixagens mais ecléticas — pode esperar por Panic!At the Disco seguido por uma música da trilha sonora do musical ‘Hamilton’. ”
A era de ouro do áudio (Hoje)
Hoje, não é só a música que nos faz companhia na estrada. Nos últimos anos, podcasts e audiolivros assumiram a direção, o que faz sentido considerando que o carro é o lugar perfeito para focar, sem interrupções.
“Minha esposa e eu ouvimos uma quantidade enorme de podcasts no carro”, diz Chris. “E, sob o ponto de vista de alguém que apresenta e roteiriza um podcast, eu sei que é adequado para viagens na estrada, porque os episódios são longos.”
Historicamente, a leitura não é uma atividade recomendada durante a condução devido àquela coisa de “manter os olhos na estrada”. Mas hoje, os audiolivros tornam possível abrir um livro com segurança (no sentido figurado) no carro. Se você é a pessoa que pergunta “a gente já chegou?” a cada hora durante uma viagem de vários dias, nossos amigos do Audible oferecem uma enorme biblioteca de podcasts e audiolivros — além de uma surpresa especial para os Wazers. Você vai realmente desejar que sua viagem fosse um pouco mais longa.
Para Madison, os audiolivros oferecem uma mudança de ritmo bem-vinda em suas longas viagens. “Na minha última viagem, comecei a me cansar de música, então ouvi o livro Greenlight, do Matthew McConaughey”, diz ela. “Eu adorei, mas não acho que teria lido a versão impressa, porque a melhor parte foi ouvi-lo contando as histórias em sua própria voz.”
Percorremos um longo caminho desde os primeiros dias da estática do rádio. Entre Bluetooth, sistemas de som automotivos com tela sensível ao toque, a popularidade crescente de podcasts e audiolivros e playlists quase ilimitadas, é mais fácil do que nunca definir qual vai ser o tom da sua direção.
Claro, certas coisas nunca mudam totalmente. “Eu gravei minha playlist de dirigir em um CD e, agora, ele está preservado para sempre no iTunes”, diz Chris. Então, o que torna uma playlist perfeita para dirigir? Ele expõe seu método comprovado: “Acredito firmemente que uma mixagem de qualidade tem de 75 a 80 minutos, que caberia em uma única fita ou CD. Um mix para a hora de dirigir deve considerar que está sendo ouvido em um carro, com a letra ou com o ritmo, e deve contar uma história.”