Como melhorar seus hábitos de mobilidade por um futuro mais verde
É hora de reinventar a maneira como nos movemos.
Durante anos, as campanhas de sustentabilidade têm encorajado as pessoas a abandonar o uso de plástico e reduzir sua pegada de carbono. Esses são passos importantes, é claro, mas não abordam desafios sistêmicos maiores, como o fato de que os combustíveis fósseis ainda fornecem energia a quase todos os aspectos de nossas vidas, ou como a maioria das cidades são projetadas.
“Configuramos nossas cidades para privilegiar o uso de veículos particulares”, diz Benjamin de la Peña, CEO do Shared-Use Mobility Center. “Isso tem consequências graves para a equidade e o clima, com as emissões de gases de efeito estufa, o congestionamento e os custos para as famílias”, completa.
À medida que a crise climática continua, engajar pessoas, governos e empresas em torno da mobilidade é essencial para a solução. Nosso poder individual pode ser limitado, mas juntos podemos trabalhar por um mundo com opções mais verdes. E se isso também levar a menos trânsito, estamos a favor.
Investindo em infraestrutura mais verde
Se os carros são o problema, a solução parece simples: não dirija, certo? Mas é mais fácil falar do que fazer. É difícil isso funcionar se as cidades não fizerem mais para investir em infraestrutura que incentive bicicletas, pedestres, transporte público e o uso compartilhado do carro, em vez de dirigir sozinho.
Oliver Lord, chefe de política e campanhas do Fundo de Defesa Ambiental na Europa, destaca: “Em cidades como Londres, a dependência de automóveis próprios está intimamente ligada à acessibilidade do transporte público”.
Adicionar mais meios de transporte não significa ser anti-automóvel. Na verdade, é melhor para os motoristas, ao mesmo tempo que ajuda o meio ambiente. “Uma ciclovia não prejudica os motoristas. Quanto mais pessoas você tira dos carros, menos trânsito há”, acrescenta de la Peña.
Os dados também podem desempenhar um grande papel em decisões de infraestrutura que beneficiam a todos. “Nossos dados de crowdsourcing são bastante precisos para fins de planejamento, porque mostram para onde as pessoas estão realmente se deslocando”, afirma Andrew Stober, nosso head de parcerias públicas. Dessa forma, as cidades podem tomar decisões informadas sobre onde realizar intervenções no tráfego, como o fechamento permanente de estradas ou faixas que incentivam menos direção individual.
Algumas cidades já estão no caminho certo. De la Peña aponta como Barcelona e Madri estão construindo rapidamente novas ciclovias para priorizar viagens mais seguras para bicicletas e pedestres. No Japão e em Hong Kong, ele destaca que os imóveis ajudam a financiar o transporte público, pois o valor do terreno aumenta quando há transporte eficiente nas proximidades.
O progresso também está acontecendo em lugares conhecidos pelos carros.
“Los Angeles está investindo em transporte de massa, como sistemas ferroviários e subterrâneos. Isso é incrível”, diz Lord.
Veículos elétricos são realmente a solução?
Em conversas sobre sustentabilidade, os veículos elétricos tendem a chamar uma enorme atenção como alternativas verdes, mas a realidade é um pouco mais complicada (é claro).
“Eles certamente fazem parte da solução de longo prazo, mas não são a panaceia. Se todos os carros em uma estrada congestionada forem elétricos, você ainda terá congestionamento”, diz Lord. Ele explica que, mesmo sem emissões de combustível fóssil saindo do escapamento, os freios e pneus de todos os carros emitem partículas tóxicas que afetam a qualidade do ar e a saúde das pessoas. “Isso entra nos pulmões e na corrente sanguínea das pessoas, e não desaparecerá se tudo virar elétrico”, completa.
O movimento mais estratégico, segundo ele, é começar pelos veículos de entrega e de transporte público. Dessa forma, os veículos elétricos começam a causar impacto sem colocar o ônus de possuir um deles sobre os indivíduos.
Susan Shaheen, co-diretora do Centro de Pesquisa de Sustentabilidade em Transporte da UC Berkeley, universidade nos Estados Unidos, aponta que ainda há muito a aprender sobre veículos elétricos. “Mais pesquisas são necessárias sobre as emissões no ciclo de vida de tecnologias elétricas, incluindo a fabricação, substituição, reciclagem e descarte de baterias”, conta.
E também é preciso olhar para a rede de energia que alimenta esses veículos. Os combustíveis fósseis ainda geram a maior parte da eletricidade no mundo. “O investimento em veículos elétricos anda de mãos dadas com o investimento em fontes de energia mais limpas e renováveis”, esclarece Shaheen.
Uma área que parece promissora é a chamada “micromobilidade”, como as bicicletas e os patinetes elétricos. Essas opções não ocupam espaço na rua e se movem mais rápido do que suas versões analógicas.
As cidades precisam responder rapidamente para entender como se encaixam no cenário atual de mobilidade. “No Reino Unido, eles estão testando scooters elétricas para saber se elas devem estar na rua e para garantir que não prejudiquem as pessoas que andam ou pedalam de bicicleta”, afirma Lord.
Mudando para mobilidade compartilhada
Compartilhar viagens também é a chave para um futuro mais verde, mas em lugares onde ter carros particulares ainda domina (como os EUA), mudar o comportamento e fazer com que muitas pessoas façam isso nem sempre é fácil — especialmente durante uma pandemia quando, para muitos, o compartilhamento de carona não parece ser a melhor opção.
Mas mesmo agora, a partilha de carro segue forte. Não apenas por tirar carros da estrada; mas por ajudar a preencher uma lacuna no transporte de pessoas sem transporte público confiável — incluindo de trabalhadores essenciais.
“Temos muitos hospitais nos EUA que não têm excelente acesso ao transporte público. E você tem pessoas com funções críticas no hospital que não podem necessariamente comprar um carro. Como você garante que essas pessoas possam chegar ao trabalho? A carona compartilhada é ideal nessa situação, porque com um grande empregador, como um hospital, é provável que haja pessoas que vivem no mesmo trajeto”, diz Stober. E essas pessoas podem formar bolhas nas quais se sintam seguras durante o trajeto. À medida que mais pessoas se sentirem confortáveis compartilhando caronas novamente, as caronas podem ajudar a redefinir como será o deslocamento depois que a pandemia diminuir, tornando-o mais sustentável.
Também é importante lembrar que mobilidade compartilhada nem sempre significa compartilhar espaço em um ônibus ou carro. Qualquer transporte que você usa, mas não possui, é tecnicamente um transporte compartilhado. Isso inclui carros, bicicletas e patinetes que estão à sua disposição nos serviços de compartilhamento de viagens. Melhor ainda, eles podem tornar a combinação de uso compartilhado e transporte público mais viável.
“O que é empolgante sobre as novas opções de uso compartilhado é que elas expandem a utilidade do transporte público. Você não está limitado a onde o ônibus para, você pode alugar uma bicicleta ou patinete para o resto do caminho”, adiciona de la Peña.
Mesmo que as pessoas da sua casa precisem de carros para se locomover, o compartilhamento pode ajudar a aliviar a carga. “Estudos mostram que os serviços de compartilhamento de carros podem reduzir a necessidade de ter um segundo carro”, explica de la Peña. Certamente é mais barato e melhor para o meio ambiente.
Hábitos de transporte mais ecológicos que todos podem experimentar
Se você mora em um local onde dirigir é a forma mais conveniente ou a única maneira de se locomover, não se preocupe. Ainda há coisas que você pode fazer para tornar suas viagens do dia-a-dia mais sustentáveis, sem a necessidade de uma grande mudança de vida (como substituir seu carro por um veículo elétrico) que você pode não estar pronto ou capaz de fazer no momento.
Acredite ou não, “andar é um hábito muitas vezes esquecido”, explica Shaheen. “As pessoas costumam dirigir em trajetos curtos ou até mesmo mudar o veículo de uma vaga para outra em um shopping center, em vez de caminhar”, completa.
Além de caronas e veículos elétricos sempre que possível (algo a considerar na próxima vez que você alugar um carro), Shaheen também incentiva as pessoas a exigirem transporte mais responsivo, como o microtrânsito, de seus governos locais.
Também podemos estar mais conscientes de como nossas mercadorias viajam. É hora de repensar nossas preferências de entrega. “Você realmente precisa da sua compra no dia seguinte?” Lord pergunta. “Muitas vezes, as empresas atendem às suas necessidades, então esse é um grande passo que as pessoas podem dar.”
“Os empregadores têm o dever de ajudar as pessoas a compreender a maneira mais sustentável de chegar ao trabalho e também a serem proativas em relação a isso”, pontua Lord. Ele recomenda que os empregadores ajudem a subsidiar o custo da carona solidária e do transporte público ou ofereçam horários de trabalho flexíveis para ajudar a reduzir a poluição e o congestionamento.
Imagine um futuro com opções de transporte mais verdes
É hora de as cidades imaginarem como podemos recuperar o espaço que foi usado para estradas. E há muitos modelos para se inspirar: Estocolmo proibiu os carros a diesel no centro da cidade, Seul transformou o viaduto de uma rodovia em um parque e Paris está trabalhando para se tornar uma cidade que pode ser percorrida em 15 minutos.
Lord destaca que a pandemia certamente forçou as pessoas a ver como suas cidades podem ser diferentes. “A pandemia mudou os hábitos de muitas pessoas, o que é uma das coisas mais difíceis de se fazer”, pontua.
Uma mudança cultural também está acontecendo, especialmente entre as gerações mais jovens. “Os pedidos de carteira de habilitação entre adolescentes estão em baixa”, diz de la Peña. “Para a Geração Z, o carro não é liberdade — os telefones são. É onde eles podem usar aplicativos de compartilhamento de carona e solicitar transporte.”
Em vez de ficar apenas obcecado com sua pegada de carbono, faça um plano de como você pode mudar seus próprios hábitos e começar a defender o transporte público na sua comunidade.