O Futuro da Mobilidade depende do Compartilhamento
A última Live do projeto Waze Presents reuniu os principais players do setor para falar do momento da carona no cenário atual
Por Douglas Tokuno, Head de Waze Carpool na América Latina
No ano passado, comemoramos dois milhões de caronas realizadas com o Waze Carpool e nos orgulhávamos de saber que cerca de 40% dessas viagens eram com dois ou mais passageiros em um carro, afinal nossa meta sempre foi ocupar os assentos vazios e melhorar o trânsito.
Essa tendência de crescimento também era realidade para outras plataformas de carona, como o BlaBlaCar, que conecta condutores com passageiros para caronas intermunicipais (viagens acima de 70 kms), e também para o Bynd, aplicativo de caronas corporativas para funcionários de uma mesma empresa.
Mas, em março deste ano, com a pandemia e as orientações de distanciamento social, tivemos que diminuir nossos deslocamentos e, assim como diversos setores, a mobilidade foi duramente afetada no mundo todo, e passamos a analisar quais seriam as perspectivas futuras.
E é para falar sobre essas perspectivas que convidei para a quarta e última live do projeto Waze Presents: A Carona depois do Covid-19, representantes dos principais plataformas de carona e especialistas em mobilidade. No debate, nós compartilhamos desafios, iniciativas e tendências sobre a cultura de carona no Brasil.
Para onde foi a carona?
A carona, como muitos modais de transporte compartilhados, foi fortemente afetada. No Waze Carpool, assim que a pandemia foi declarada, imediatamente, limitamos o número de passageiros para uma pessoa por carro. A BlaBlaCar também seguiu a mesma linha de atuação. Segundo o Country Manager Ricardo Leite, além de diminuir o número de assentos disponíveis, a empresa também bloqueou as comunicações da iniciativa, esclarecendo que o trajeto deveria ser feito somente se necessário e seguindo todos os protocolos de saúde. Gustavo Gracitelli, co-fundador e CEO da Bynd, também comenta que, com a forte adoção de home office, os deslocamentos de carona corporativa perderam a relevância.
Porém, neste período as plataformas não ficaram paradas e investiram em inovações, como o BlaBlaHelp, iniciativa do BlaBlaCar que ajuda pessoas do grupo de risco a fazer suas compras, conectando com voluntários disponíveis. O Bynd lançou novos produtos de deslocamentos corporativos e no Waze Carpool, adicionamos funções de segurança para limitar as caronas a somente um passageiro.
Onde queremos chegar?
No entanto, mesmo antes do Covid-19, como destaca Diogo de Sant’Ana, da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (AMOBITEC), a mobilidade já enfrentava um desafio estrutural, com o volume de automóveis crescendo acima da capacidade viária. Por exemplo, em 2019, segundo dados da FENABRAVE, foram emplacados quatro milhões de carros novos no Brasil — enquanto a infraestrutura continuava sendo praticamente a mesma dos anos anteriores. A carona, o compartilhamento de assentos vazios no carro, se encaixava nesse contexto.
Para Lilian Lima, da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), isso acontece porque as pessoas estão avaliando como continuar seguras ao mesmo tempo em que precisam continuar se deslocando. Mas não devemos voltar ao patamar anterior. Segundo ela, o cenário complexo que estamos vivendo permite dar continuidade a agenda de mobilidade urbana que já estávamos construindo.
A pandemia tirou todo mundo da zona de conforto, mudou a forma das pessoas se relacionarem com a cidade e com o ambiente. Isso incentivou a população a experimentar novas soluções. A carona atinge este público, pessoas predispostas a testar iniciativas que sejam benéficas ao bem comum e conectadas com uma perspectiva de viver numa cidade melhor.
De fato, no início do ano realizamos uma pesquisa com nossa comunidade de caroneiros, os carpoolers, e descobrimos que a cultura da carona é construída em quatro pilares: compartilhamento, socialização, sustentabilidade e gentileza, complementando bem o que a Lilian afirma.
Para onde vamos?
É inevitável que a cultura de carona, e as empresas que operam neste mercado, têm diversos desafios à frente. Mas uma mobilidade mais agradável e sustentável permeia o futuro das cidades como queremos.
Como a carona é uma opção mais econômica de deslocamentos, ela viabiliza as viagens de carro que antes eram feitas por outros modais, como acredita Ricardo Leite. O executivo também afirma que o compartilhamento dos assentos é uma forma eficiente de mitigar os efeitos ambientais negativos do uso individual do automóvel, e a carona pode ser uma forma de incentivar o carro de uma maneira mais inteligente.
Para Gustavo Gracitelli, o home office expôs as pessoas à ineficiência de trajetos demorados. Essas pessoas, ao voltarem às suas atividades, não aceitarão mais passar horas no trânsito, sozinhas. Quando tivermos uma melhoria, teremos uma explosão de buscas por alternativas de formas de deslocamentos mais humanos e menos estressantes. E é aí que a carona entra.
No Waze acreditamos que, nesse cenário de solidariedade ocupando um papel fundamental para a sociedade em que as pessoas doam alimentos, remédios, dinheiro, entre outras coisas, para os mais necessitados é a gentileza que vai impulsionar ainda mais a carona, dando ainda mais importância a essa cultura. Eu costumo dizer que a carona é uma forma de doarmos mobilidade para aqueles que precisam se locomover.
Hoje, a tendência momentânea é a diminuição, e as empresas estão aproveitando este momento para criar outras iniciativas, investir no digital e entender melhor as necessidades do público. Segundo Diogo Sant’Ana, os agentes mais habilitados para captar as mudanças de comportamento são as plataformas digitais que estão conectadas com o dia a dia das pessoas, com a coleta de dados e a compreensão dos novos hábitos.
Durante o mês de julho, Waze promoveu o projeto Waze Presents: uma série de quatro lives com convidados e parceiros sobre o que nos aguarda na volta às ruas e os impactos na mobilidade, nas marcas, com os consumidores e seus comportamentos. Confira os vídeos na playlist do Waze no Youtube.
Douglas Tokuno é Head de Carpool e Waze for Cities na América Latina. Em paralelo à sua atuação na empresa, o executivo foi mentor de negócios na Startup Farm e no Google Campus por dois anos. Douglas é formado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre em Administração pela FEA-USP.