EP#05 — Crazy Blues

Gui Grazziotin
We and the Devil Blues
4 min readMay 31, 2019
Mamie Smith

Após o Blues se popularizar na sociedade, o que fez com que ele solidificasse sua posição no mercado fonográfico?

Ouça o episódio número 5: Crazy Blues!

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Músicas deste episódio por ordem de execução:
BluesTones — Me and the Devil Blues Instrumental (Robert Johnson Cover)
W.C. Handy — St. Louis Blues
Eddie Lang — April Kisses
Mamie Smith — Crazy Blues
Lil Johnson & Black Bob — Press My Button Ring My Bell
Sister Rosetta Tharpe — I Wanna a Tall Skinny Papa

  • Todas as músicas estão em domínio público ou possuem autorização para uso.

Transcrição

Por volta de 1920, os americanos já estavam familiarizados com o termo Blues após a explosão popular das obras de W.C. Handy. Mesmo assim, o Blues ainda não era considerado um gênero musical pelo público. O blues era executado por músicos de rua, menestréis negros, bandas itinerantes e pelas bandas da “Nova era do Jazz”. Outros artistas eram conhecidos por seus trabalhos que traziam uma pequena influência do Blues como alguns compassos e gemidos, mas nenhum deles se dedicava exclusivamente ao Blues. Após a criação da companhia Pace e Handy, criada por W.C. Handy, outros compositores encontraram coragem para produzir materiais exclusivamente de Blues.

Foram as gravadoras, no entanto, que levaram o Blues ao posto dominante dentro da cultura de entretenimento afro-americana. Elas identificaram que, se produzissem discos direcionados ao gosto de comunidades étnicas, italianos, poloneses, espanhóis e demais, poderiam obter lucro. O compositor e produtor Perry Bradford estava convencido que o público negro não exitaria em comprar discos que fossem direcionados para eles, mas as gravadoras, no início, encararam de forma desconfiada os pensamentos de Bradford. A lógica da segregação, na época, era de que o público negro e o branco, ainda que frequentassem locais distintos, possuíam os mesmos hábitos de consumo de música. Os gerentes dos selos musicais estavam convictos de que os consumidores negros estavam satisfeitos em ouvir obras direcionadas à eles, mas com interpretação de cantores brancos, como Sophie Tucker.

Bradford alcançou seu objetivo quando a gravadora Okeh abriu as portas para uma cantora de teatro chamada Mamie Smith. Mamie gravou uma composição de Perry Bradford chamada Crazy Blues. Para a surpresa da indústria, se tornou um dos discos de maior venda no ano e cravou o sucesso das Race Records. Mamie juntou-se à outras cantoras e criaram o movimento chamado Blues Queens, o qual você pode saber mais no texto “O Blues e suas Rainhas” em wdbpodcast.com. O link está na descrição deste episódio.

A grande coincidência, ou não, depende do seu ponto de vista, é que a cantora originalmente escalada para gravar Crazy Blues era a própria Sophie Tucker que não pôde cumprir seu compromisso em função de uma doença. O resultado desse inconveniente você pode ouvir agora:

Foi Mamie que cantou à margem do Blues. Foi Mamie que marcou uma era na evolução do Blues. Foi com Mamie que o Blues deixou de ser uma música específica de um grupo e passou a ser uma forma sofisticada de entretenimento.

Quando as primeiras Race Records foram lançadas, o Blues já existia há alguns trinta anos e inúmeras tentativas de registrar essas músicas fracassaram. Com a possibilidade de gravar as canções, o Blues não mais precisaria se preocupar com isso. A partir daquele momento, negros de todos os cantos dos Estados Unidos agora poderiam ouvir as vozes de cantores que estavam além de seu local de convívio. Além disso, esse inúmeros sentimentos, que por muitas vezes foram desabafados em forma de um Blues improvisado, não corriam mais riscos de se perderem no tempo.

Ainda na década de 20, artistas de circo, cantores de bar, artistas de shows medicinais (aqueles onde se vendiam remédios milagrosos), andarilhos, mendigos e muitos outros podiam ser ouvidos em gravações de diversas formas de Blues e, do lado de fora das lojas de discos, a população negra formava filas para adquirir suas cópias dos últimos lançamentos. Bares, barbearias, barracas de cigarro, farmácias e diversos estabelecimentos direcionados ao público negro vendiam discos de Blues e esses mesmos discos podiam ser encontrados com vendedores itinerantes munidos de catálogos imensos com as últimas novidades. Essa era a sua música, o Blues de seu povo.

Obviamente, o crescimento das Race Records resultou no surgimento de novas gravadoras direcionadas a suprir esta demanda, mas a repercussão das primeiras gravações mostrou que essa demanda já existia e a população negra estava ansiosa para consumir sua própria música. Nesta hora, milhares de músicos locais de Blues brotaram e as gravadoras expandiram suas atividades para distritos rurais sulitas e começaram a gravar cantores locais, primeiro levando os artistas para seus estúdios, e após, deslocando vans para gravar em locais mais próximos de suas casas. Em 1923, um olheiro da gravadora Okeh que se deslocou para Atlanta para gravar uma dupla de Blues Queens local, foi surpreendido por um cantor e violinista branco chamado Fiddlin’ John Carson.

No próximo episódio, vamos falar sobre a ascenção do Country Blues. Até lá!

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