Pra quê existe essa tal de Side Quest?

João Pedro Mendes Pereira
We Jab You
Published in
9 min readJun 15, 2018

Se você viveu fora do universo dos jogos eletrônicos de um tempo pra cá e não sabe o que é Side Quest, eu te explico. As missões secundárias são mais comuns em jogos de mundo aberto e aumentam a vida útil do jogo. Normalmente essas missões estão lá e -creio- que a grande maioria deixa elas passarem em branco por conta das missões principais. Seja pela ânsia de descobrir logo o final da história principal ou somente por uma questão de evitar a fadiga.

Eu mesmo nunca me liguei muito nesse tipo de missão, principalmente quando eu era mais novo. Com o tempo eu fui me acostumando e experimentando diversos tipos de missões secundárias, umas boas, outras ruins e algumas desnecessárias. A geração de hoje, que eu chamo carinhosamente como Troféu Freak, gosta somente dessas missões por conta dos troféus que só podem ser desbloqueados quando fizer TUDO dentro do jogo. Não critico isso, acho até que dá um gás para as produtoras se empenharem em fazer conquistas prazeirosas para essa molecada se divertir. Por outro lado eu já acho isso uma idiotice tremenda, acho que o jogo deve ser apreciado da maneira que o jogador quiser e essa “ditadura” é bem escrota. Ou seja, você tem várias platinas? Você é um cara muito empenhado, um mago supremo. Você tem poucas platinas? Você é um bosta. Sem meio termo. Isso é papo pra outro texto, vou tentar me focar somente no assunto principal do texto. Já disse que esse é o primeiro texto que escrevo sobre jogos? Okay, vou focar.

Platina, você criou uma geração de monstros.

Após vários vazamentos, no dia 11 de junho de 2017 foi oficializado que o novo jogo da franquia Assassin’s Creed se passaria no Egito e se chamaria Origins. Primeiramente eu só fiquei empolgado na parte da ambientação ser no Egito, gosto muito de história em geral e esse período é o meu favorito. Todo lance de pirâmides, faraós, aqueles deuses maravilhosos, um ar meio espiritual e diversas coisas sempre me chamaram a atenção para essa época. Mas por outro lado, infelizmente, era um jogo dessa franquia que eu curtia no passado e descarrilhou como um trem desgovernado, minha opinião, ok? Ok!

Vídeo do anúncio oficial.

Eu jogava e esperava todos os anos por um AC novo e realmente o hype era recompensado. Lembro quando lançou o segundo jogo e todo mundo ficou louco pra jogar, não que o primeiro tenha sido ruim, mas era um pouco problemático em alguns pontos. Pelo menos foi o “piloto” para dar início a trilogia do Ezio. Eu joguei toda ela e eu considerava os melhores jogos da franquia, até chegar o Origins, calma que eu já chego lá.

A trilogia do Ezio é composta por umas das melhores histórias dos jogos atuais e isso nem precisa ser discutido. De fato esses jogos foram decisivos e inspirariam várias empresas a lançarem jogos parecidos com eles, assim como foi com os Batman da Rocksteady. Mas uma coisa que não me interessava – e eu joguei bastante pra falar isso – eram as missões secundárias. Elas pareciam desinteressantes e a cada uma que eu fazia mais confuso eu ficava. A história principal já estava ali redondinha e não precisava de complementos na minha opinião. Passada a trilogia, chegou o Assassin’s Creed 3 e foi aí que a franquia desandou. O jogo é uma verdadeira merda e deveria ter sido renomeado para Bugs Creed 3, que joguinho horrível. Com essa bomba na minha mão eu desacreditei e larguei a franquia por completo e só fui retornar esse ano.

A grande trilogia do Ezio, que coisa linda.

Voltando ao lançamento do jogo, eu realmente colocava fé e ao mesmo tempo pensava que seria uma grande merda. Pegar uma cultura rica como o Egito e transpor isso para um vídeo game não é algo simples, tem muitas nuances e detalhes que podem ser ignorados e afetariam a caracterização do jogo de uma maneira catastrófica. Esperei ele sair e fui acompanhando as críticas em cima do jogo e para minha surpresa a maioria foi muito positiva! Acho que o último jogo que eu tive vontade de jogar da franquia foi o IV e mesmo assim não joguei até hoje, não por falta de oportunidade e sim por falta de interesse. Pois bem, ele foi lançado próximo a uma Black Friday e prontamente comprei. Resolvi dar uma chance novamente para a franquia. Ele entrou na fila de espera e agora estou terminando e posso dizer, o jogo é F*DA!

Quero deixar de lado o capitão óbvio logo de cara e vou dizer algumas coisas pertinentes, porém óbvias. O jogo está um desbunde graficamente falando. E eu nem estou falando só dos detalhes maiores, até porque isso é relativamente fácil fazer com a tecnologia disponível hoje. Digo mesmo pelos pequenos detalhes, tipo o piso feito de caquinhos que o personagem pisa. Todos ambientes são absurdamente ricos em detalhe e logicamente o aspecto mais grandioso (pirâmides, construções e essas coisas) também estão lindos. O combate do jogo mudou radicalmente e ficou bastante “soulslike”, leia-se muito uso de espada e – principalmente – escudo. Os botões de ataque ficam no mesmo lugar da série souls também, mas claro que a Ubisoft aprendeu bastante com o For Honor. Por mais que o jogo tenha problemas e eu nunca venha a comprar ele, joguei a beta e o combate é realmente interessante, confuso, porém interessante. Os pequenos detalhes me pegaram nesse jogo, ele tá bem puxado para o estilo RPG e tem itens que te dão um status diferente para o personagem, seja bom ou ruim. Tem armas que são amaldiçoadas e diminuem seu sangue e outras que te dão uma vantagem maior, tudo com o contexto bonitinho da época. Isso me conquistou demais, por mais besta que isso seja.

Bayek ou Homão da Porra.

O jogo conta a história de Bayek o último Medjai (é basicamente um cara que patrulha o deserto e que se torna um herói dentro da narrativa) do Egito. Depois de ver seu filho ser assassinado por uma pessoa misteriosa, ele e sua mulher Aya procuram quem matou seu filho e logicamente partem no caminho da vingança. Logo eles descobrem que foi uma galera chamada Ordem dos Anciões e a partir daí ele mata um por um com sangue nos olhos. Daí que começa toda aquela patifaria da ordem dos assassinos, realmente é a origem de tudo, como já está dito no título do jogo. Pela história se focar em um sentimento recorrente no consciente coletivo, automaticamente você toma partido do personagem principal e começa a viver as situações com ele. Sabe quando você ficou absolutamente pistola e quis ver o John Wick matar Deus e o mundo por causa da morte -até hoje não superada- do seu little dog? Então, é basicamente isso. É clichê? Claro, não tem como negar isso. Mas quando temos um clichê bem feito e tendo justificativas coerentes com a realidade, temos que parar e pensar os motivos que te fazem querer tanto a mesma coisa que o personagem. Calma que eu já chego no título do texto.

O sistema do jogo funciona da seguinte maneira: o mapa é dividido por áreas e cada área tem um nível vigente. Tem áreas que você vai levar um hit e falecer, ou seja, você tem que ir upando seu personagem da maneira que você achar melhor. Você pode explorar, pode caminhar por aí ajudando players a se vingar e as possibilidades são grandes. Mas o que dá mais XP são as missões secundárias -claro- e elas estão lá, se você não quiser fazer elas o jogo não te obriga, mas ao mesmo tempo o jogo fala assim pra você: tem uma porrada de missões aqui, que vão te dar bons itens, xp arregado e de quebra você ganha uma boa história, vem comigo? É claro que eu fui, afinal, não tenho todo tempo do mundo pra jogar vídeo jogos para ficar caçando xp por aí, então fui aos poucos fazendo essas missões. Algumas de fato são OK e outras me pegaram de jeito, me vi mais imerso na história do jogo por conta dessas missões e vou explicar a missão que me fez parar e escrever esse texto.

Estava eu caminhando por um local e vejo uma pessoa ajoelhada e tomando muita porrada em praça pública, para minha surpresa era uma missão. Fiquei curioso e fui checar. A pessoa que estava batendo aparentemente era importante dentro de alguma igreja ou instituição religiosa do Egito. Ele disse para o Bayek que estava batendo no cara e que iria mata-lo em seguida. O motivo era: o cara, aparentemente, roubou duas estátuas valiosas do templo, só que o cara jura de pés juntos que foi roubado e ele dá uma possível localização, Bayek como um bom Medjai propôs averiguar os locais em troca da liberdade do rapaz e caso ele fosse culpado iria pagar pelo que fez. O cara aceitou e lá fui eu. Claro que ninguém sabe o motivo do cara ter que chamar outra pessoa para averiguar uma situação, mas vamos relevar isso. Para a -não- surpresa as estátuas estavam realmente lá, peguei e entreguei pro cara. Imediatamente o desgraçado pega uma estátua e não satisfeito a dar a liberdade pro cara, dá uma porrada absurda na face do coitado, que inclusive, desmaia. Depois disso ele chama uns guardas para poder escoltar e matar você e o coitado caído no chão. Prontamente tomei distância, saquei meu arco e dei uma flechada na cara do agressor. Veja que, não fui pra cima dos guardas que eram as ameaças, fui movido por um sentimento de indignação e matei o cara. Sim, eu estava completamente imerso dentro da trama e só fui perceber aí.

E não tem somente esse tipo de missão, tem algumas mais descompromissadas que você curte tão quanto as de cunho mais sério. Tem uma assim que você chega na Arena de Crocodilópolis -que nome IRADO- você encontra dois caras lutando e quando você interage com eles você descobre que um deles é um lutador velho e que vive de conquistas do passado. Claro que ele não tem emprego na cidade por conta de sua idade, mas no desenrolar da missão você acaba descolando um emprego para o cara. Tem umas missões que são continuações das missões principais e uma em específico dá gosto de fazer. Se você jogou você sabe a missão que estou falando, aquela que envolve aquela família e faz parte das missões do Crocodilo (que por sinal, uma das melhores partes do jogo).

Side quests são importantes para o aprofundamento da história principal e isso é nítido em Assassin’s Creed Origins. E como eu disse lá no começo do texto, esse é o jogo favorito da franquia justamente por esses pequenos detalhes. Outros jogos investem pesado em suas missões secundárias como o rei das side quests Yakuza, é prazeroso andar por Karumocho e fazendo as missões mais bizarras possíveis. Outro jogo que é excelente nesse quesito é Nier Automata, esses dois jogos vou deixar pra comentar em outro texto -e isso depende do sucesso desse texto, ou seja, provável que não tenha sucesso, sorry-. Caso alguma empresa esteja lendo esse texto o que eu indico é: invista a mesma dedicação e tempo que vocês gastam na história principal com as histórias secundárias. Isso é bem óbvio, mas parece que as pessoas esquecem disso por algum motivo. Então, acho que é isso, nunca pensei que faria um texto tão grande sobre um jogo de Assassin’s Creed. Então, jogue esse jogo, você não irá se arrepender.

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João Pedro Mendes Pereira
We Jab You

Leitor compulsivo de quadrinhos, amante de filmes, louco por música e ainda escrevo esses textos aí.