Keynote “In defense of Jack-of-all-trades” do Diretor Criativo do New York Times.

Quer saber qual é o próximo passo? Olhe para o Norte.

Maurício Oliveira
@wearedesignbus
Published in
6 min readJun 17, 2019

--

No início de 2018, quando um amigo me convidou para um festival de inovação e tecnologia que acontecia nos Estados Unidos, eu, de imediato, torci o nariz, descrente da natureza do formato “festival de tecnologia”.

O tal festival, organizado pelos mesmos criadores do Web Summit (Lisboa) e do RISE (Hong Kong) prometia ser, segundo a plataforma Inc., o encontro de tecnologia que mais crescia na América do Norte. Mais uma vez, uma daquelas promessas vazias que muita gente está cansada de ouvir.

Um ano depois, agora com a minha própria empresa de design e inovação, me deparo novamente com esse festival ao mapear os eventos globais nos quais investiríamos energia e conhecimento para a nossa companhia e para os nossos clientes.

O Collision Conference (Collision, porque é a colisão de 14 diferentes verticais que estão sendo transformadas radicalmente pela tecnologia).

Algumas das verticais de negócios e conteúdos presentes no Collision.

A primeira coisa que me chamou a atenção é que o encontro deste ano aconteceu em Toronto, no Canadá. Pesquisando, vi que ele ocorreu por três anos em Las Vegas e, depois, outros três em New Orleans. No processo de decisão sobre ir ou não ir ao evento, questionei: Por que Toronto? Como design é muito sobre fazer as perguntas certas, essa acabou por ser aquela que gerou as mais ricas respostas sobre o festival.

Talvez você esteja familiarizado com a cidade, mas eu não estava.
Portanto, lá vai:

- Toronto é a quarta maior cidade da América do Norte.

  • Foi eleita há um ano, pela BBC Radio, a cidade mais diversa do mundo, com mais de 230 nacionalidades chamando a capital do estado de Ontario de sua casa.
  • A metrópole de Toronto é hoje o hub com o maior número de start-ups comparado com os EUA. Para ter uma ideia, as empresas resididas lá criaram em 2018 cerca de 30.000 empregos em toda a cidade — mais do que a área da Baía de São Francisco, Seattle e Washington D.C. combinados.
  • “The Six”, como a cidade é apelidada por seus residentes, em função do seu código de área, representa também a terceira maior indústria de Design da América do Norte.

Somente a Universidade de Toronto, fundada em 1827, e campus de estudantes de mais de 190 diferentes nações, tem dez prêmios Nobel na sua história (o Brasil não tem nenhum). Invenções e inovações como a descoberta da insulina (1921), dos raios cósmicos (1903), do primeiro marca-passo cardíaco (1950), das células-tronco (1961), além dos estudos de mídia de Marshall McLuhan, são legados da instituição símbolo da cidade.

Não menos importante, Toronto é a casa dos Raptors. Sob o mantra “We The North”, o time da NBA virou a febre do mundo do basquete, enquanto faz história, 24 anos depois do surgimento da franquia. Em 2019, pela primeira vez, a final de uma das maiores ligas esportivas do mundo foi realizada pela primeira vez fora dos EUA. E o time do Raptors, no momento que este artigo é escrito, acaba de se tornar o primeiro clube canadense a ser campeão da liga profissional de basquete dos Estados Unidos, com um elenco tão diverso como a cidade de Toronto. A começar pelo presidente do clube, que é nigeriano. No time, há um camaronês, um congolês, um britânico, um espanhol, um canadense e, é claro, vários americanos. Historicamente, o Canadá é o país do hockey, mas Toronto é dos Raptors.

Fans presentes no ‘Jurassic Park’ explodem após inédito troféu do time canadense.

Fatos esportivos à parte, esse contexto também representa o quanto a cidade de Toronto vem há muito tempo desenhando intencionalmente sua bandeira de inovação e diversidade em diversos vetores da marca da cidade, não somente na esfera da ciência e da tecnologia.

Tkaronto, dos índios Mohawk, significa “onde as árvores se erguem sobre a água”.

É a cidade da colisão de diversos mundos em um único lugar.

Esses simbolismos também atestam a razão da conferência ser realizada lá. O próprio Justin Trudeau, Primeiro-ministro do Canadá, abriu o congresso de 2019 em uma clara demonstração de entendimento do poder público, da capacidade do setor de tecnologia em acelerar a fertilidade de ideias, de diversidade e de criação de valor para a cidade e para o país.

Justin Trudeau na abertura do Collision Conference 2019.

São quatro dias de keynotes, expositores, workshops e conversas tão diversas quanto Toronto. Por isso, faz tanto sentido ver isso de perto. Honestamente, não há um ‘uau’ sobre o que se ouve lá. Mas é inegável não ser impctado sobre o por que se ouve o que se diz lá. Porque vivemos em 2019, e os organizadores impõem um termo antidiscriminação no momento da inscrição, para todos os participantes, garantindo que não haverá tolerância com manifestações excludentes de qualquer natureza.

E porque o mundo precisa se reorganizar na velocidade da cultura, a liderança do Collision também age intencionalmente para que o festival e o próprio mercado de tecnologia equalizem o mais rápido possível as diferenças entre homens e mulheres. Desde 2015, o Women in Tech garante protagonismo de vozes e de espaços específicos para mulheres, garantindo que em 2019 45,7% dos inscritos fossem do sexo feminino, algo notável para um encontro de tecnologia, sabidamente, ainda hoje, um território de domínio masculino.

O jovem congresso já atrai empresas e pessoas de envergadura global em setores fundamentais da economia. Debates massivos e emergentes convivendo em um só local:

Microcrédito Para Milhões na África.
www.korapay.com

A Explosão do Mercado de Cannabis.
www.houseplant.com

A Ressignificação do Urbanismo.
www.sidewalklabs.com

O Futuro do Trabalho.
www.breather.com

O Fim dos Plásticos Descartáveis.
www.loliware.com

E muitas outras empresas que estão, de fato, construindo novas narrativas econômicas empoderadas pelas novas tecnologias.

Hoje em dia, num digitar no Google, você encontra centenas de meetings, summits e festivais. Muitos deles com propostas apelativas. Se você chegou até aqui no texto, fique com essa: observe profundamente o que faz sentido para você e para o seu negócio na hora de ir a um congresso. Não entre no hype.

Sobre o Collision, afirmo que ele definitivamente não é o melhor festival de tecnologia do mundo. Simplesmente porque isso não existe. Trata-se de um encontro que promove diversidade de visões sobre a tecnologia de uma forma contemporânea. Foi isso que me fez olhar para o Norte, olhar para Toronto. Uma cidade que tem legitimidade e lugar de fala de sobra para promover iniciativas como esta. E isso, para mim, é o melhor que o Collision pode ser.

--

--