A curadoria da curadoria (da curadoria)

Como estamos postando conteúdo nas redes sociais?

Terena Miller
wewe
3 min readOct 5, 2023

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A rede social tá diferente…

Oi, sumides. 😎

A gente faz umas (longas) pausas aqui no wewe, mas quando você menos espera, sai um conteúdo do forno. E o post de hoje fala justamente sobre isso: como estamos postando o conteúdo nosso de cada dia, em especial nas redes sociais.

Aliás, faz sentido continuar usando o termo “redes sociais” para plataformas como TikTok, Instagram ou Facebook (e do que se alimentam os usuários que ainda têm conta no feice rsrsrs)?

De "social", ao meu ver, sobrou apenas o status quo: todo mundo consome conteúdo e informação por meio dessas plataformas. Mas o que elas contam sobre nós, pessoas físicas?

O André Carvalhal recentemente publicou um conteúdo falando sobre o desaparecimento de "pessoas de verdade" do feed das redes sociais — uma possível timidez no compartilhamento de conteúdos pessoais (como rolava lá no início da Era da Civilização Blogueira). Eu mesma publico pouquíssimo e, geralmente, prefiro os stories ou mensagens privadas para contar a quem interessa o que eu acho relevante.

Meu feed virou um eterno rodízio de conteúdos aleatórios escolhidos a dedo pelo meu anjo algoritmo. Das centenas de amigos que sigo, talvez 5% do que essa galera posta aparece pra mim. Ou seja, as pessoas já publicam pouco e o robozinho nem valoriza. 🥲

A preguiça do lacre e a cultura do aviãozinho

Como comenta Carvalhal (deuso, amo ele), essa virada de chave das redes vem como um certo rebote aos conteúdos superproduzidos que desencorajam a galera do fundão a postar sua fotinho no elevador. Pra mim, além desse sintoma de intimidação, tem também a preguiça do lacre.

Com tantos perfis entregando conteúdo alucinadamente, por que eu, Terena-mãe-cansada, vou entrar nessa batalha? O algoritmo de recomendação mastiga tão bem o que queremos ver (e dizer), que basta clicar no aviãozinho e zaz! Justo o que eu tava pensando foi enviado ao meu grupo da zoeira ou à minha amiga Cláudia Flores — que também curte uma zoeira — sem que eu precisasse produzir nada.

É tanto reel, tanto vídeo do TikTok e tanto carrossel de memes que o brasileiro não está dando conta. Soma a ansiedade pela superinformação (ou desinformação, melhor eu checar) + síndrome do impostor por achar que nada que acontece comigo é interessante + a praticidade de compartilhar aquele conteúdo pronto e embalado que traduz tão bem o que estou pensando agora.

Basicamente, o recorte social das redes que antes era feito de momentos bacanas do nosso dia a dia virou uma curadoria da curadoria (da curadoria) do que você envia no privado para o seus amigos.

A concorrência entre Meta e TikTok é, talvez, o principal gatilho para essa mudança. Em terra de vídeo, quem tem saco e talento pra esse formato vira Rei. E quem não tem, clica no aviãozinho.

O que nós dizemos nas redes fala sobre quem somos. Mas se não dizemos nada…

O que esse novo formato de compartilhar menos as experiências cotidianas e mais nossas perspectivas revela sobre quem somos? E ainda: o quanto marcas, negócios e grupos de pesquisa estão olhando para as nossas curadorias de conteúdo a fim de entender comportamentos e se adaptar — ou mesmo propor novas possibilidades de conexão?

Embora a gente aqui do wewe ame uma curadoria, acredito que o ato de criar conteúdo é fundamental na construção da identidade social. No momento em que uma plataforma que agrega mais da metade da população brasileira, como o Instagram, passa a concentrar muitos conteúdos de cada vez menos perfis quem perde é a representatividade. Quem é o brasileiro nas redes, afinal?

Vale lembrar que essa discussão tem muitas camadas, a começar pela geracional. Enquanto os Millennials ainda têm uma conexão afetiva com o famoso prompt “o que você está fazendo agora?”, a Gen Z só posta com filtro e prefere enviar a foto descabelada para os mais íntimos. O “conteúdo pessoal”, entre os djóvens, ganhou outro significado.

A propósito, o que você preferiria para compartilhar experiências pessoais: uma rede social estilo anos 2010 ou um canal privado só com seus amigos VIP? Conta pro wewe!

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Terena Miller
wewe

estrategista de conteúdo. inquieta. resetando minhas verdades.