#NãoTemVagas: procuram-se espaços de criação e conteúdo inclusivos

Cláudia Flores
wewe
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4 min readJun 28, 2020

Encontramos poucas vagas de emprego e freelas na área que mencionam a inclusão de pessoas negras e LGBTI+

Neste mês, celebra-se o orgulho LGBTI+ (Foto: Pixabay)

Estamos em um mês de junho de profundas discussões sobre a pauta antirracista. Mês em que também se celebra mundialmente o orgulho LGBTI+. Ao mesmo tempo, vivemos uma pandemia e uma crise que vem aumentando os índices de desemprego, e evidenciando desigualdades.

Quando a Terena Miller e eu paramos para analisar as oportunidades da planilha de vagas e freelas de criação e conteúdo que publicamos em maio (e seguimos atualizando em junho), encontramos apenas 20 vagas, entre as 138 abertas nesse momento, que mencionassem as palavras “diversidade” e/ou “inclusão”. Isso representa menos de 15% das vagas.

Tem mais: dessas 20 vagas que mencionam “diversidade” e/ou “inclusão”, 14 estão abertas no estado de SP, 3 são home office e apenas 3 são vagas de outros estados (1 no Paraná, 1 em Minas Gerais e 1 no Rio de Janeiro).

Não queremos, com esses números, tirar conclusões precipitadas sobre essas empresas, muito menos julgá-las. Mas achamos que o levantamento pode ser um alerta para olharmos para como o nosso mercado está de fato tratando (ou não) da diversidade e da inclusão nos espaços de criação e conteúdo.

Incluímos na planilha uma aba para sinalizar vagas que mencionam diversidade e inclusão na descrição a partir de agora. Acesse aqui:

Times diversos geram valor para suas empresas

Alguém tem dúvidas de que se o mercado de Criação e Conteúdo fosse mais diverso e heterogêneo — em agências, clientes, veículos, plataformas — evitaríamos campanhas como a da esponja Krespinha e inúmeras crises de imagem de marcas e pessoas/creators que expressam preconceito ou praticam o storytelling sem um storydoing?

A ideia de criar ambientes criativos mais inclusivos não é para as empresas serem generosas, legais ou descoladxs: uma pesquisa da McKinsey & Company de 2017 mostra que existe uma correlação entre equipes diversas em cor e gênero com potencial lucrativo e geração de valor.

Como a própria pesquisa mostra, a amostra de mulheres, pessoas negras e LGBTI+ em posições de liderança ainda é desproporcional a de homens, e isso também parece se refletir no universo da comunicação, que não é tão desconstruídx assim como parece.

Um levantamento feito em 2019 pelo Grupo de Planejamento — que incluiu 78 agências de publicidade da cidade de São Paulo — mostrou que só 13% das agências contam com programas estruturados de inclusão de qualquer natureza (gênero, raça, orientação sexual, entre outras) em suas estruturas. E 53% das agências disseram não ter qualquer iniciativa relacionada à diversidade e inclusão. Isso só na cidade de São Paulo.

Ou seja, temos um longo caminho pela frente.

Nesse podcast sobre inclusão de LGBTI+ no mercado de trabalho, o consultor Ricardo Salles — fundador da Mais Diversidade e uma das pessoas que mais frequentemente acompanho para aprender sobre esse tema — diz que nos últimos anos a inclusão de LGBTI+ nas empresas avançou, mas não da mesma forma para todas as empresas. Para ele, as grandes companhias, especialmente multinacionais, avançaram mais em políticas de inclusão do que as pequenas e médias empresas. Além disso, a presença de pessoas que se identificam como lésbicas, gays e bissexuais no mercado de trabalho ainda é maior do que a de pessoas transexuais, travestis e transgêneros.

Um estudo da UFMG divulgado em maio mostra que 21,6% dos LGBTs entrevistados estão desempregados — quando a taxa nacional de desemprego do IBGE é de 12,6%. A mesma pesquisa fala sobre o impacto da crise sobre a saúde mental dessas pessoas: 28% dos 10 mil entrevistados já receberam diagnóstico prévio de depressão. Esse número é quase quatro vezes maior do que o índice da população brasileira.

Recomendo a todxs que ouçam esse podcast da Ponte Jornalismo sobre a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho para entender que não basta apenas editar a descrição das vagas e para tornar uma empresa realmente inclusiva e diversa. É sobre criar oportunidades sim, mas também sobre criar condições para que as pessoas se sintam verdadeiramente respeitadas em seus espaços de trabalho. É um processo que passa pela percepção de privilégios e preconceitos, e por estarmos abertxs a aprender.

Gostaríamos muito de abrir espaço no wewe para seguir essa conversa para além do mês de junho. Acreditamos que o futuro do conteúdo é ser consciente, e isso só vai acontecer de fato quando tivermos mais pessoas negras e LGBTI+ pautando a criação desse conteúdo. Seguimos juntxs.

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