S.O.S! precisa-se de novos influencers!
como as marcas podem assumir a liderança e transformar nossa relação com o consumo
enquanto o Titanic afunda, Thássia Naves segue fiel ao seu plano: postar looks ostentação, vestindo marcas inatingíveis, e gerar desejo. a blogueira tem sido alvo de discussões pela aparente alienação ao momento Covid, mas o problema é que ela não está sozinha. grande parte dos influencers mais influencers não sabe o que fazer agora que seus seguidores de fato precisam deles.
reflita aí consigo mesmx: quantos posts têm passado batido na sua timeline depois que você entrou em quarentena? looks do dia milionários, chuva de selfies alienadas, makes prontos pra ir a lugar algum: muita gente ganhou o meu unfollow simplesmente por ignorar o meu momento — ou, no caso, o momento de todxs — , muitos creators que ganham a vida estimulando o nosso desejo de consumir seja o que for, de repente, se viram desempregados (Gabriela Pugliesi que o diga, né minha filha?).
alguns criativos bacanas vêm percebendo a pandemia como uma oportunidade para que marcas revejam sua relação com os influencers (algo que eu e a Cláudia Flores já vínhamos batendo há certo tempo com alguns clientes, bem antes desse filme de ficção maluco virar realidade).
"É o momento de validar quem de fato acrescenta algo de positivo nas nossas vidas e na sociedade como um todo", disse Bia Granja em um artigo da Youpix. eu, particularmente, vejo este momento como o big break para que marcas assumam o vazio que essa massa de influenciadores perdidos vai deixar.
vc é responsável por aquilo que cativa, já dizia a raposa
seja uma empresa ou um creator, assumir a posição de líder inclui certas responsabilidades que, já sabemos, quase ninguém lembra na hora da fama. mas a partir de agora, no mundo do marketing, o passaporte de imunidade será a responsabilidade social. conceito bonito que só, mas difíiicil de praticar, né? não tem carão que segure a demanda crescente do público por atitude coletiva, ações que beneficiem as comunidades, aspiração não só pelo que é bonito, mas por aquilo que é ético.
o filósofo alemão Markus Gabriel, em entrevista ao El País, contou que acredita em uma sociedade pós Covid "mais moral", mais consciente da sua participação na cadeia produtiva — seja do álcool gel ou da brusinha mais bombada da estação. acho "moral" uma palavra forte para um mundo tão debilitado como o nosso, mas entendo que muitos sairão dessa mais atentos ao seu papel, e é aqui que marcas podem assumir a liderança, transformando nossa relação com o consumo e, consequentemente, nossa visão de mundo.
não há melhor influencer do que a sua própria comunidade
The key here is for brands to stop thinking about their community just as top-of-the-funnel tactic, and consider it as a long-term, bottom-of-the-funnel strategy (bonding, advocacy, loyalty). Ana Andjelic
se os influenciadores estão mais preocupados em faturar com #publis do que cumprir seu papel de influenciar positivamente, é nos próprios consumidores e colaboradores que as marcas têm a resposta para uma relação de influência saudável e empática.
a marca de cosméticos Glossier é hoje referência de construção de awareness usando seus consumidores, não só fiéis à qualidade dos produtos mas, principalmente, à verdade que a marca defende: "beleza inspirada pela vida real". uma comunidade que acredita na valorização da estética mais natural e menos exigente da perfeição. se vc rolar o instagram da Glossier, dificilmente vai encontrar uma carinha conhecida, porque a influência da marca é feita por quem advocacia por ela: clientes, funcionários, galerinha da equipe de marketing e por aí vai.
ok, mas aí vc me pergunta: e a Glossier não tá lá vendendo seus produtos e gostando de ver todo mundo consumindo? óbvio, né colega. o fato é que a marca criou um conceito positivo, inspirador e coerente com a sua história, desde a cadeia produtiva até o relacionamento com quem compra. sua comunidade é contaminada pelo vírus da atitude positiva e, assim, levará este mesmo olhar para outras marcas, subindo o sarrafo de quem quer sobreviver, neste caso no universo da beleza.
a cultura do cancelamento é muito sobre isso, o poder na mão do povo e não na mão do influenciador. (André Carvalhal)
uma vez que as marcas entenderem seu potencial de influência como um trabalho colaborativo junto à sua comunidade consumidora, deixarão de ser escravas de influs sem propósito. isso é o fim de todos os influenciadores? claro que não, afinal tem muita gente incrível pra colaborar com a sociedade pós Covid. porém, a evolução de qualquer marca, hoje, está em posicionar-se como agente de transformação, e é isso que um influencer faz.
dá uma olhadinha neste artigo pra ver mais sobre marcas e influencers
um olhar holístico sobre o novo marketing
o processo de construção de uma marca como influencer não é da noite pro dia e, muito menos, da boca pra fora. conquistar uma comunidade fiel demanda ações reais que impactam no contexto social e geram valor intangível para o consumidor. se vc, como marca, entende que é este o caminho, minha sugestão é: não olhe só para o marketing.
"Há carência de sociólogos, feministas e especialistas em diversidade, economistas, jornalistas, sociólogos, historiadores e professores de literatura que analisem a narrativa do desastre. (…) Sou moderadamente otimista, mas as possibilidades são menores se não começarmos a planejar esse futuro incluindo os experts em humanidades".
Markus Gabriel se refere no trecho acima à necessidade de uma equipe multidisciplinar na criação de um plano para o mundo depois que o Covid passar (e ele vai passar 🤞). mas olha como a ideia se aplica lindamente ao mindset de que marcas líderes desta nova era precisam desenvolver um olhar holístico.
a Magalu entrou para as TOP marcas mais lembradas na pandemia e certamente não foi seguindo seu plano original, como fez nossa amiga Thássia. desde criar um programa de retenção dos funcionários até promover doações e colocar a dona Luiza em pessoa respondendo tweets de consumer service, a marca vem liderando uma mudança de comportamento entre grandes empresas.
vcs entenderam, né? quando digo que o mundo precisa de novos influencers, me refiro a algo maior do que blogueirxs biscoitando likes e gerando depressão numa maioria desfavorecida. falo justamente do oposto: estão abertas vagas para perfis líderes do consumo consciente, com nível avançado de empatia e doutorado em praticar sua verdade além do feed. quem se candidata?